janeiro 27, 2008

o movimento agora a cores

Quando se começa uma tarefa tem de se continuar, certo? Por isso me matriculei no 2º ano do curso de desenho da SNBA e por isso também continuo a publicar aqui um post a propósito no final de cada trimestre.

O que me dá um certo gozo, confesso, é rebuscar os posts com a etiqueta SNBA, sobretudo o primeiro, e ver os progressos. Não é que as aulas funcionam? Uma pessoa como eu, desprovida de um talento inato, mas com gosto pelo desenho e um jeito perfeitamente mediano, aprende realmente técnicas e abordagens que a fazem melhorar. Pelo menos é o que eu sinto.

Neste primeiro trimestre fizeram-se muitas revisões da matéria dada, sobretudo a nível de estudos prolongados e modelação de luz e sombra. Não vou pôr aqui esses trabalhos, pois seria mais do mesmo. O que há de novo são os materiais e a introdução da cor. Passámos todo o primeiro ano sem sair do preto, da grafite, do lápis de cera e da tinta-da-china com aparo. Neste primeiro trimestre, em que continuamos sempre a fazer o aquecimento com o desenho de movimento, largamos a grafite e pegamos nos pinceis.

Os primeiros trabalhos são com aguadas de tinta preta. O objectivo é sempre o mesmo. Com o modelo sempre em movimento, fixamos uma pose e desenhamo-la rapidamente, com uma aguada mais líquida e outra mais espessa. Assim:
Aí à terceira ou quarta sessão, o mundo deixa finalmente se ser a preto e branco!


Devemos usar duas cores com médios à escolha (eu usei pastéis de óleo) e de novo as pinceladas com as duas aguadas.

O médio não deve abandonar o papel, a base do desenho continua a ser a linha com movimento leve e rápido, mais fina, mais grossa, mais forte, mais suave. As várias cores e aguadas não se devem repetir, mas completar-se, enriquecendo o desenho.


Parece fácil mas não é. Inevitavelmente, repetimos linhas já feitas para desespero dos mestres. Mas a coisa vai andando. faz-se por isso, pelo menos.

7 comentários:

Teresa disse...

Li atentamente (devorei) as tuas explicações, com aquela admiração que se tem por aptidões que em nós primam pela ausência.

Não tenho para com a pintura, é certo, a mesma sensibilidade que para com a música ou a escrita - só muito dificilmente um quadro me conseguirá fazer chorar. Como tal, acabo por ser bastante pacóvia e vou dizer uma cavalidade monstra: os teus esboços são-me infinitamente mais cativantes ao olhar do que as produções acabadas de muitos pinta-monos que por aí pululam... A grande diferença é que tu estás a aprender e contas-nos das dificuldades. Os tais... nem se dão, na maior parte das vezes, a esse trabalho. Atiram com as cores para uma tela, saem uns borrões indecifráveis e põem-se títulos pomposos, género Angústia ou Dualidades do Ser... E aquela gentinha que eu vejo nas estreias de S. Carlos, que não distingue Strauss de Verdi e que me diverte imenso no intervalo com os comentários que oiço de passagem, não querendo passar por inculta, vê logo aquilo que não está lá só porque o espertalhaço lhe deu um título pretensioso (les beaux esprits se rencontrent...) e tece comentários profundos sobre a expressividade do traço e o dramatismo da cor...

Reza a lenda que Pavarotti só cantou, durante um ano inteiro, vogais... É ouvir o resultado, a limpidez do canto... não falhas uma sílaba, tudo o que lhe sai da garganta está perfeitamente claro... É que teve a grande humildade de aprender.

Continua!

tcl disse...

Fazes-me lembrar a primeira e única vez que visitei os Ufizzi em Florença. Tinha 18 anos e acabara de me separar das minhas amigas no fim de um inter-rail. A vantagem de visitarmos sítios desses sem companhia é que podemos sentar-nos em frente de O Nascimento de Vénus e de A primavera do Botticelli, e ficar por lá umas horas, observando todos os pormenores e a harmonia do conjunto até as lágrimas nos virem aos olhos. Para mim, não há beleza e candura femininas mais bonitas que nestes quadros de Botticelli.

Quanto aos meus rabiscos, exageras, obviamente, mas é simpático!

ana v. disse...

Bravo, Tcl! Eu acho que tens mesmo talento. Eu também fiz um curso de pintura, há anos, mas nunca produzi nada que se aproveitasse, embora saísse tudo muito "perfeitinho". O que só prova que a técnica não é tudo, embora seja importante. Se não há talento, nada feito...
Gosto imenso dos teus esboços.

E lembraste-me uma cena quase igual, que se passou comigo nos Ufizzi: também fiquei sozinha naquele deslumbramento, e também fui direitinha aos quadros de... Botticelli! Exactamente como tu, acho que nunca ninguém pintou a beleza e a delicadeza femininas como ele. Tem graça, a coincidência de gostos.
Beijo

MariaV disse...

Amanhã vou-te pedir um autógrafo! Assim, quando fores famosa eu fico rica!
Parabéns, Bjs

tcl disse...

Meninas, vocês são umas queridas... já gastei um pacote de lenços a limpar a baba que me escorre pelo queixo. Mas francamente... tenham juízo. Ok, os esboços não estão horríveis, se não também não os teria aqui posto. Digamos que cumprem medianamente o objectivo proposto. E em jeito de aparte, escolhi estes 5 de entre uns 30 feitos no início de duas aulas (temos 1 ou 2 minutos para cada um), por isso, imaginem o resto...

SC disse...

Comento o teu comentário (pode ser?). O que descreves do Uffizi... Também aconteceu comigo algo semelhante: sozinha, a percorrer as salas com calma, emocionar-me em frente ao Botticelli (entre outros, muitas lágrimas me rolaram pela cara abaixo), sentindo-me imensamente grata e previlegiada. Tenho de lá voltar!
Ah, e parabéns pelos teus progressos!

Sofia K. disse...

UAU... adoro isto! Ficavam bem lá mnha casa...

Adorava ter talento e paciência, mas não passo além da linha torta... também nunca me esforcei muito, deixo para quem sabe e tu sabes! beijinhos