outubro 29, 2007

coisas que se dizem...

... de manhã, ao acordar:

- então? dormiste bem ou estranhaste a cama?
- dormi bem, dormi bem. mas um bocado naquela do acordo, discordo, acordo, discordo.
- hahahaha!
- estás a rir de quê?
- ....
- Ah! Hahahaha!

fall


Do Outono gosto das cores das folhas secas, do barulho que fazem quando as pisamos, dos dias que nos trazem uma surpresa de Sol, de castanhas assadas e pouco mais.

Não gosto dos dias mais curtos, dos casacos de malha, de ter frio nos pés se tiro as meias, da chuva misturada com vento, do carro embaciado de manhã.

Não gosto sobretudo quando muda a hora e de repente às cinco e meia já é lusco-fusco e chego a casa noite feita com tantas horas ainda pela frente até acabar o dia. Não gosto é pouco. Odeio e entro em contagem decrescente para os dias que faltam até voltar o horário de Verão.

Detesto isto.

por menor...

... que seja a qualidade do ensino cá na terra e por mais que estejamos acomodados a isso há coisas que mesmo assim ultrapassam o limite do razoável.

contava-me uma amiga que dá aulas num curso de arquitectura numa dessas universidades privadas, que quando se preparava para apagar o que o colega anterior tinha deixado escrito no quadro se deparou com a palavra "mudulação" e com a expressão "plano de premenor", entre muitas outras alarvidades.

e há malta que PAGA para ter os filhos nestas escolas...

outubro 28, 2007

mais coisas* a não fazer


1 - poupar um ou dois euros na compra de uma mochilinha com depósito de água própria para andar de bicicleta (também pode ser utilizada noutras situações em que se tenham ambas as mãos ocupadas, como comer camarões cozidos, mas nesse caso será melhor enchê-la com bejeca) e escolher uma sem válvula na ponta do tubo por onde se bebe. Quando nos baixamos para verificar a pressão dos pneus, por exemplo, e devido àquele princípio básico dos vasos comunicantes, a água faz um belo repuxo sem avisar.



2 - pedalar na estrada e tentar subir o passeio de forma a que a roda da frente faça um ângulo francamente obtuso com o lancil (mesmo que venha um carro a apitar atrás de nós). Dependendo da velocidade a que se vai, a única coisa que varia é termos uma queda em slow motion ou em fast motion. Eu ia devagarinho. Fantásticas as novas luvinhas almofadadas nas palmas. Fantásticas também as negras nos joelhos sendo uma acompanhada por esfoladela. (está visto que tenho de procurar umas joelheiras almofadadas).

* outros conselhos aqui

outubro 27, 2007

Afectos no trabalho

Dizia-me hoje uma colega de trabalho que acha que é muito mais complicado gerir um grupo de pessoas quando há afectos envolvidos. Compreendo o que ela quer dizer mas não concordo.

Obviamente que há situações que chegam a tal desgoverno que precisam mesmo de alguém com mão de ferro para as endireitar e, nesse caso, é tudo mais fácil quando nem se conhecem as pessoas com quem vamos trabalhar. Mas, uma vez a casa arrumada, se não se criarem afectos entre as pessoas, a única coisa que se consegue é ser-se odiado pelos outros. E, atendendo a que hoje em dia acabamos por passar mais tempo com os colegas do que com a família, parece-me que os afectos compensam, mesmo com as dificuldades que possam acarretar quando somos obrigados a impôr a nossa autoridade.

O que se passa é que se a amizade for mesmo a sério, se aqueles que dirigimos e que nos dirigem forem também pessoas com quem podemos beber uns copos, soltar umas boas gargalhadas ou chorar no ombro, quando chega a hora da verdade, a malta até pode refilar, não concordar e tal, mas faz. E faz com empenho e bem, porque é amiga.

No meu caso, se os infindáveis e-mails de trabalho não começassem com "L....inha", "M....inho", "T....inha", e não acabassem com "beijos", acho que teria muito mais dificuldade em receber e dar respostas em tempo útil.

Por outro lado, o manancial de afectos que fui construindo, também me permite chegar ao pé de um(a) dos gajos(as) e dizer:

"ouve lá, que é esta merda? queres levar com o chicote ou quê? dá mas é corda aos sapatos e entrega-me o que te pedi há dois dias ou o namoro acaba já aqui!"

E ficamos amigos à mesma.

outubro 25, 2007

ainda o putin

Hoje tive de ir a Oeiras a seguir ao almoço e, contrariamente ao habitual, utilizei a A5. Gosto mais da marginal nestes dias bonitos, para ver o mar, mas sabia que o Putin andava por Belém àquela hora e que o trânsito ia estar cortado.

No regresso constatei que a segurança é tal que a saída da AE para Belém/Algés estava cortada com barreiras. Da AE até à casa do Presidente ainda é um bom pedaço, mas eles lá sabem.

A questão nem é essa. É que os homens da segurança, imagino que seriam solípedes, mas também poderiam ser binómios, quem sabe, em vez de porem a barreira logo junto da AE, não, puseram-na mesmo no finalzinho da via de saída. Espertos, hein? Não sei como é que os desgraçados que entupiram aqueles 100 metros fizeram para sair dali...

put in

Dos vários meios destacados para a segurança de Putin na sua visita a Lisboa, constam, de entre veículos, centenas de agentes e etc, 159 solípedes, 10 binómios e duas bicicletas.

Assim de binómios importantes só conhecia o binómio de Newton.

Quanto a ***pedes, constavam do meu vocabulário os quadrúpedes e os bípedes , mas confesso que solípedes nunca me tinham passado pelos olhos e ouvidos, que me lembre.

Aprendemos sempre imenso quando nos cruzamos com o léxico próprio de determinados grupos profissionais, embora, neste caso em particular, me mantenha na santa ignorância quanto aos binómios. Serão pares de solípedes, correspondendo portanto a 4 solas e respectivos pés?

De qualquer forma, o que mais me espantou nesta notícia foi a presença das duas bicicletas, curiosamente correspondendo exactamente ao número de helicópteros, também 2. Talvez trabalhem em grupo. O helicóptero vai lá em cima, vê qualquer actividade suspeita e contacta rápidamente com a bicicleta que lhe foi atribuída a qual, por sua vez, se deslocará na bisga para o local em apreço.

Mesmo com 1300 agentes, 99 viaturas, 83 motociclos, mais os binómios e os solípedes, parece-me que a segurança de Putin não ficaria completa nem seria eficaz sem as duas biclas.

outubro 24, 2007

amor com amor se paga

Estou estarrecida. Então não é que este menino, com quem tenho o hábito (recente diga-se) de trocar alguns insultos e provocações (para os mais curiosos, vejam-se os comentários deste post e deste e deste) elegeu este meu cantinho como um dos favoritos lá da chafarica dele? É pá, isto para mim é uma grande mais valia, pois o homem tem visitas a dar com um pau e, pela certa vou ter um acréscimo substancial no número dos meus leitores!

Diga-se que este Alf (não, não é o ET em quem estão a pensar mas quase) é um tipo assim um bocado com a mania que é bom (imaginem que se acha parecido com o George Clooney quando, vai-se a ver e afinal é a cara chapada do Malato) mas o blogue até tem graça, apesar de algumas referências de gosto duvidoso à Teresa Guilherme e à Floribela e de alguns posts pseudo-machistas, mas aquilo é só para chamar a atenção.

Bom, visitem lá o gajo que ele ADORA, deixem-lhe comentários, que ADORA também e responde sempre (tipo bem educado, boas famílias com certeza e tal) e a visita não será em vão.

E eu pronto, lá tenho de deixar aqui também o link para o sítio dele, que remédio.

É um tal de "Bom Jardim" para os lados do Porto.

Thanks Alf

outubro 23, 2007

Independência canina


Adoptei o Biskit há 5 anos no Algarve. Tinha sido apanhado na rua e salvo de uma morte certa ou de uma desgraçada vida de cão pela família que me alugava a casa e que, por já ter feito o mesmo a uns quantos cães e gatos, me implorou que o trouxesse.

Contra a vontade do agora meu vizinho, mas rendida àquele olhar de bambi, lá o trouxe, miserável, fraco de pernas, completamente carente de afectos e cheio de medos.

O meu filho baptizou-o em homenagem a uma banda de música duvidosa chamada Limp Biskit, vencendo o meu vizinho que lhe queria chamar Napoleon, só pelo ridículo da coisa. Em casa tem os diminutivos de Biscas e Biscoito e na vizinhança chamam-lhe várias coisas entre Whiskas, Whisky, Biscuit e sei lá que mais.

A única condição que lhe pus no processo de adopção foi a seguinte:

meu caro amigo, salvei-te de uma existência mais do que manhosa, por isso tens de fazer pela vida. se queres cama, mesa e roupa lavada, não me percas de vista que eu não estou para andar atrás de ti nem contigo na ponta de uma trela.

Acho que ele percebeu pois nos primeiros tempos não se afastava de mim mais do que 10 cm. Eu andava às voltas, fazia oitos, corria, parava, avançava, recuava e o cão sempre colado às minhas pernas.

À medida que cresceu foi-se tornando cada vez mais independente a este ponto:

- no ano passado, quando cheguei à ilha nas férias, partiu à desfilada para a casa de uns amigos para onde eu costumava ir em vez de me seguir para a casa nova que ele não conhecia. Como demorei um bocado a aparecer deve ter pensado que eu me tinha ido embora sem ele. Acabei por ter de ir buscá-lo a terra onde me esperava pacientemente no cais, depois de ter feito 3 viagens para lá e para cá sem pagar, conforme me contou depois o marinheiro de serviço.

- nas férias deste ano, um dia desapareceu por volta das 8 da noite e só regressou às 2 da manhã. podia ter dormido na rua, não é? Pois ladrou até me acordar, porque queria vir para dentro de casa.

- De manhã quando vou tomar o pequeno almoço ao café, ele vai à vida dele. Sabe perfeitamente que eu fico lá cerca de 15 minutos. pois já por várias vezes tive de ficar à espera de sua excelência mais de meia hora e hoje, quando saí para jantar, estava a ver que tinha de deixar a chave na porteira, pois demorou-se quase uma hora na rua.

Sim, porque com esta esperteza toda, ainda não aprendeu a entrar pela porta de serviço que está quase sempre aberta durante o dia, a subir as escadas e a sentar-se no tapete à espera que eu chegue.

Põe-se a ladrar feito parvo lá em baixo, até que eu o ouça e lhe vá abrir a porta para o subir no elevador.

Não sei se lhe dê as chaves de casa ou se lhe compre um escadote para ele chegar à campainha da porta e ao botão do elevador.

outubro 22, 2007

laughing time!

Uma amiga acabou de me enviar este vídeo.

Não resisto a partilhá-lo convosco. Have fun!

apocalipse? não!

JRS, por quem nutro um especial ódio de estimação em termos literários que me ficou depois de ter lido "A Fórmula de Deus", acaba de vomitar outras 500 ou 600 páginas do que estou certa ser mais uma variante da receita que aprendeu a cozinhar (mal) mas que lhe vem aumentando substancialmente a mesada. Este chama-se "O Sétimo Selo". Só o título já promete e é bastante revelador.

Sei bem que a minha opinião pouco ou nada conta, mas faz-me pena que escritores realmente interessantes andem a comer o pão que o diabo amassou e depois vem este bugs bunny (sempre o achei parecido com o coelho) e faz best sellers com histórias patetas e ainda por cima escritas de forma sofrível.

Bom, é melhor que as pessoas leiam alguma coisa do que nada e, a avaliar pelas tiragens dos livros de JRS, neste país lê-se ou, pelo menos, compram-se livros.

Mas se é ler por ler, também há, sei lá, a lista telefónica, as bulas dos medicamentos e as embalagens de gel de banho. Sempre são grátis e fazem mais ou menos o mesmo efeito.

outubro 17, 2007

A fotografia é a preto e branco...

...mas tem o tom sépia do tempo.

Tu pequenino montado num cavalinho de pau, ao lado uma menina de pé apoia a mão no teu ombro como se te protegesse.

Por trás, touros, campinos, um maioral a cavalo, a lezíria que se estende em pinceladas toscas que se adivinham de cores esbatidas na tela ondulada.

Tu claro, louro, ela morena de cabelo encaracolado e traços vagamente negróides tal como a tua mãe e a mãe da tua mãe. Na mão seguras com um lencinho branco a vara que te fez campino naquele instante.

vês? puseram-me este lenço na mão porque a vara tinha picos e eu chorava

(Lembro-me das palmas tão macias, pele de seda quando os cabelos já brancos e imagino-lhes a suavidade de bebé.)

Os dois de preto, soquetes brancos, sapatinhos de verniz, olhos tristes, sorrisos ausentes, o fotógrafo

olh’ó passarinho

os avós

meninos vá lá um sorriso

e vocês nada, só aquela tristeza de perda recente. Faltam os pais na fotografia, mas nota-se o peso da sua ausência, ou talvez eu o sinta porque sempre mo transmitiste.

Falavas-me da tua avó

a bênção, minha avó
minha avó já fiz os deveres

seca, ríspida e austera, do teu avô sentado ao fundo do corredor a mirar a poeira que brilhava nos raios de luz, os dois amargurados pela perda dos filhos tão novos, da Ana

a minha Ana

gorda, luzidia, de avental na cozinha à volta das panelas a fazer os petiscos para os seus meninos

tome um pastel Antoninho, que a avozinha agora está lá para dentro e não vê

do gato amarelo que comia tripas de melão, das brincadeiras no jardim e na horta, da tua irmã

minha irmã

sempre a proteger-te as fragilidades como na fotografia

minha avó o Antoninho não fez por mal
vês meu irmão a avó perdoou-te.

Fecho os olhos, apago a fotografia e vejo-te sentado a empatar anzóis em S. Martinho do Porto, a moer o engodo de petinga e eu sentada a bambolear os pés na borda do cais todas as tardes de Agosto à espera que a bóia mexesse e

pai olha a bóia a ir ao fundo, um peixe

e tu

espera pitorrinha, (só tu me chamavas assim) espera que ele pique bem e depois deixo–te tirá-lo

e eu a enrolar o carreto toda orgulhosa a sentir os estremeções do peixe.

Abro os olhos e outra vez a fotografia à minha frente, tu pequenino montado num cavalinho de pau, um lencinho a proteger a mão, a tua irmã, os touros na lezíria atrás.

E mesmo que não haja sorrisos nesta fotografia, mesmo que se adivinhe a tristeza nos fatinhos pretos, nos sapatinhos de verniz, nos olhos distantes, é assim que te queria lembrar, aí ou no cais a empatar anzóis.

Queria apagar da memória o tubo na garganta, as agulhas nas veias, as máquinas com luzes e bip-bips, as visitas com batas e máscaras, os pulsos amarrados à cama para que não arrancasses de ti tudo o que te impedia de morrer em paz, e não consigo.

Um mês e meio naquele inferno até à noite em que o telefone tocou e o meu irmão:

T, o pai já teve 3 paragens cardíacas e 3 vezes o reanimámos. O que é que achas... se o coração parar outra vez?

e eu

tu é que és o médico, mas o pai também é meu. O que eu acho é que se o coração parar outra vez, deixa-o sossegado... por favor.

e ele

é o que eu acho, também.

Vai fazer 7 anos no fim deste mês e não consigo.

outubro 14, 2007

pavlov

ainda hoje não consigo evitar voltar a cabeça meio em sobressalto se alguém perto de mim grita:

- Mãeeeee!

outubro 12, 2007

aiou

prosseguindo a tarefa de divulgação de novos e menos conhecidos músicos (nalguns casos, pronto, não tão novos assim e noutros talvez só menos conhecidos de mim própria), aqui vos deixo a menina Ayo, que me foi apresentada (em formato digital, claro) há cerca de um ano, quando fui visitar o meu amigo A a Paris.

uma voz diferente em músicas a rondar o soul, o folk e o afro, num disco catita chamado joyfull


nhdgd jfgry bsgt

Nas minhas voltas diárias pela blogosfera, volta e meia deparo-me com posts deste género:

nsjutgd bsg bnh dkfphate nmcvkv opgjsd nsdjsu msjdg fdt vc kdhg ma skdfç-kia vqwyetyfb anahdk giobmc anshdj mjahsd jdjff cazqhfop vmdfk! ckdkfnx jaal? sbdfjgoa,*** sndfyuvgb &$% dmfivnx maslhd sygbbc hjd naudhn !!!

sfagh eujncv,... fhsn çakfnvl doanmhq trv? andjfj nh avfg andop ncbdgy badav nhj& /( sjdgs anhs nhsh $ncv,,lo++abdg jaj jikkienc.

É curioso, mas há quem perceba e comente com expressões como: :-P!, haha! ndhfv bchy bafm, fg%$#?, nahfr, lol e mesmo kahjft!!!

Resolvi experimentar a fazer parecido e ver o que acontece.

somos melhores à noite?

Aqui há uns bons anos atrás tive um ódio de estimação por uma colega.

Irritava-me o tom de voz demasiado alto, as mini-saias, os decotes generosos, os saltos de agulha, o cabelo estilo juba, o bamboleio, tudo aquilo me tirava do sério.

Por isso, quando me cruzava com ela, fazia a minha cara número 3 e durante uns meses trabalhámos no mesmo piso trocando breves bons-dias azedos ou mesmo nada. Ela, por seu turno, achava-me convencida e antipática. Sei disto porque mais tarde tivemos de trabalhar juntas e acabámos ficando amigas. Eu percebi que aquilo tudo não era defeito, era feitio mesmo, deixei de fazer a tal cara nº 3 e acabámos várias noites no B-Leza a beber cervejas e a dançar mornas e funanás.

Na fase do mútuo ódio de estimação, aconteceu um dia ela passar ao fim da tarde pela minha sala (que dava acesso à de reuniões) quando já só estava eu. Entrou com um rancho de gente atrás para a sala de reuniões, passando por mim como boi por palácio. Quando me vim embora, já tardote, a reunião decorria ainda e, sendo regra que o último a sair deveria fechar a porta à chave, eu, má, pensei: ah não me viste quando entraste? então eu cá também não te vi. E tranquei-a e mais aos outros lá dentro. Nunca cheguei a saber como fez para sair, nunca falámos sobre isso.

Hoje, seria incapaz de fazer a mesma coisa. Vai-se crescendo, aprendendo a respeitar as diferenças e a dar menos importância a estas coisas.

Não sei bem por que raio de associação de ideias, lembrei-me disto hoje quando vinha do ensaio, a pé como sempre, e cumprimentei com um boa-noite alguns desconhecidos com quem me cruzei pelo caminho, enquanto pensava que numa terra mesmo pequena toda a gente se cumprimenta quando se cruza na rua. Em Lisboa, se fizéssemos isso, seria com certeza mais simpático, mas ao fim de um trajecto de meia-hora teríamos a boca seca. Assim, passamos pelos outros como se não existissem, limitando-nos a um "perdão!" se por acaso nos tocamos de raspão.

No entanto à noite, as coisas são diferentes. Parece que regressamos a desconhecidas origens rurais e perdemos a indiferença da urbanidade. Os outros deixam de ser objectos de quem nos desviamos no caminho, passamos a cruzar olhares e a trocar sorrisos de boa-noite, como se a ausência de luz nos tornasse a todos mais visíveis e palpáveis.

Acho mesmo que a noite nos faz melhores.

outubro 11, 2007

este domingo...

... a não perder: fantástico concerto do meu coro.

Para possíveis interessados, pormenores aqui.

outubro 10, 2007

recebi hoje...

...esta foto por e-mail.



a estupidez não tem limite...

depois, quando for para se irem embora com a carrinha batem com a mão na testa e dizem: daaaaaaaaaaaaa-se!

red nose

Começo a estar farta que me perguntem porque raio ando eu com o nariz vermelho...

Experimentem a ir ao fim-de-semana para a beira-rio fazer 30 km de bicicleta e logo vêm de que côr lhes fica o nariz, ok?

hiroshima, 2006

Dizia-me hoje um amigo a propósito do que escrevi aqui - Isto da fé é simples: ou se tem ou não se tem. Respondi-lhe que não tenho mas que lhe sinto a falta. Por vezes sabia-me bem ter algo a que me agarrar.

hiroshima, 2006

Depois fiquei a pensar nesta conversa. É um facto que não sou crente, talvez por não ter sido educada para tal, antes pelo contrário. Daí que não tenha fé. Mas a tal coisa de não ter onde me agarrar, pensando melhor, não é bem assim.

Sempre que entro num templo, não importa o credo, sinto, como dizia alguém que li, a "conexão com o divino". E este divino, é algo que não sei explicar o que é, mas que me transporta para o meu interior e me dá paz, me dá vontade de ficar ali sentada durante o tempo que me apetecer a ver as pessoas, a saborear os cheiros, os sons, as cores que a luz sempre especial deste sítios dá às coisas.


jianshui, china, 2005


Já entrei em muitos templos enquanto turista ou simplesmente para ter paz e nunca consigo ficar indiferente, sinto sempre a "conexão com o divino". E não sei se isto é a fé de que os crentes falam. Mas faz-me bem.

mongólia, 2004

joão lenda

Ainda a propósito disto, aqui está outro de que gosto e desta música em particular porque... sei lá... porque... we just don't care e, de vez em quando, o que sabe mesmo bem é estarmo-nos positivamente, nas tintas!

let's make love, people!

five thousand

Irra, que há pessoas determinadas e com sorte...

Esta menina*, quando eu escrevi isto, desde logo se candidatou a um vago prémio que eu, na euforia do momento, disse que ia talvez pensar em dar ao visitante 5.000.

Isto foi há 3 meses e meio. Não é que a pescoçuda acabou mesmo por cair aqui no nº 5.000? E agora vem reclamar o prémio...

Bem girafita, de acordo com a troca de comentários à data tens direito a escolher entre 3 hipóteses:

- 2 beijos repenicados (só podem ser meus que não mando nos beijos dos outros)

- Uma lambidela da margot

- Um chocolate regina (aconselho-te esta: é a mais garantida - basta enviares a tua morada para o "FALA(r.para.a)BARATA" aqui ao lado e receberás o teu prémio tranquilamente em casa ou no emprego)

* Para os desprevenidos que cliquem aqui, um conselho: desliguem o som...

outubro 08, 2007

Fátima e a minha avó

A minha avó assistiu ao milagre de Fátima quando tinha 17 anos e, talvez em consequência disso, era uma pessoa profundamente crente e religiosa, aliás como todos os meus ascendentes a partir do 2º grau, que eram ali da zona e alguns aparecem até em várias fotografias da época com os pastorinhos.

Quando eu era miúda passava o mês de Setembro em casa da minha avó, onde ela e a minha tia solteira tentavam dar-me a educação religiosa que eu não recebia em casa dos meus pais, sem grande sucesso, diga-se desde já. O meu pai era profundamente anti-clerical, tinha lá o seu Deus interior, e condescendera apenas no baptismo após muita insistência das famílias. Eu, filha do pai, papagueava o seu discurso e resistia heroicamente aos esforços de avó e tia que me empurravam às escondidas para a catequese na esperança de que eu viesse um dia a fazer a 1ª comunhão. Nunca a fiz (não sei se conta aquela vez num acampamento de guias em que tive vergonha de recusar a hóstia numa missa campal e lá abri a boca e estiquei a língua).

Embora a minha avó tenha morrido quando eu tinha 13 anos, lembro-me bem da conversa que tínhamos de cada vez que ela me contava como tinha sido o milagre, no qual ela cria de alma e coração, tanto mais que quando a minha mãe engravidou de mim, e por ter perdido uma criança antes, eu fui devidamente encomendada à Senhora de Fátima e, com tanta oração, vim a nascer no dia 13 de Maio, cheia de saúde e rosada como uma flor.

Convém esclarecer que a minha avó era uma pessoa instruída, professora primária, lia bastante, enfim, um bocadinho mais que minimamente esclarecida. Então, resumidamente, a conversa era assim:

- e, de repente, o Sol começou a girar no céu muito depressa, aproximou-se da terra descendo, ficou assim um bocado e voltou a subir. Eu vi. Com os meus olhos. E os milhares de pessoas que lá estavam também viram.
- ó vó, mas a avó sabe que isso não é possível. Se o Sol descesse à Terra, tínhamos morrido todos, era o fim do planeta.
- Precisamente. Por não ser possível e mesmo assim ter acontecido e, tendo acontecido não ter sido o fim do planeta é que se pode dizer que foi um milagre.

Era sempre aqui que eu ficava sem resposta. Contra factos não há argumentos. Caiam por terra as minhas hipóteses de sugestão colectiva, de cometas e sei lá que mais, perante tamanha lógica.

Continuo a não acreditar no milagre de Fátima. Mas adoro esta resposta da minha avó.
-

outubro 07, 2007

cow parade

Há coisas que me ficaram do meu vizinho.

A mesa da varanda estava a precisar dum tampo novo. Desisti de repor os azulejos. Prancha de aglomerado nova, revestimento plástico para pavimentos, cola e está feito.

Havia um azul escuro bonito, um cinzento discreto, teriam ficado bem. Simples.

Mas de repente vi as vacas... Não resisti.

Há coisas que me ficaram do meu vizinho.

equívocos

O meu descendente, graças aos céus, não é menino de andar muito por discotecas. Não gosta de música tecno. Não lhe levo a mal, antes pelo contrário, pois assim se tem safado de bebedeiras e afins.

Gosta de ir a bares com música ao vivo (também acho que é bem mais interessante, embora, como se viu, me pele por dar o meu pezinho de dança), de maneira que anda numa de descoberta de sítios onde se toque.

Hoje, contava-me do seu périplo de 5ª feira:

- Sabes, na 5ª à noite fui sair com o A, o B e o T. Vimos no Blitz um anúncio dum sítio onde havia música ao vivo e resolvemos ir lá.
- Onde foram?
- Estás a ver aquela rua que sai do largo de Camões para o cais-do-sodré? Às tantas tem uma pontezinha com outra rua por baixo. Era nessa rua.
- Mas ouve lá, isso aí está cheio de bares de putas. Onde é que vocês se foram meter?
- Pois, aquilo chamava-se bar Europa e realmente estava cheio de putas, mas velhas, com alguns 60 anos e um ar mesmo nojento...
- Hahahaha! E a música era boa, ao menos?
- Sei lá... Assim que vimos aquilo cavámos dali para fora e fomos para o Onda Jazz.
- Fizeram bem. Aquele sítio não é para meninos. E no Onda Jazz?
- A música que estava a dar não era grande coisa, de maneira que resolvemos ir ao Hot Club, mas estava cheio de gente e de fumo e sem lugar para nos sentarmos.
- Então, mas o Hot é mesmo assim...
- Pois, mas não nos apeteceu ficar, acabámos por passar pelo Hard Rock café e vir embora.
- Ganda treta de noite...
- Olha, ficou-nos tudo por 70 cêntimos a cada um, que foi o preço do metro para baixo. Para cima viemos a pé...

Maravilha, este miúdo!

outubro 06, 2007

jobs

A menina estava devidamente fardada de segurança.

Onde? No parque de estacionamento do Aki. Cá fora, ao Sol.

De momento, não me ocorre nada mais infinitamente chato.

À torreira do Sol, passeando-se entre os carros no alcatrão, sem literalmente NADA para fazer, durante as horas de turno, nem uma cadeirita para se sentar. Tédio...

Que ninguém se queixe do seu trabalho, ok?

outubro 04, 2007

raio azul

A propósito do que li aqui, e do comentário que lá deixei, lembrei-me destas meninas que descobri há pouco tempo. Ok, ando sempre um bocadinho atrasada nestas coisas, entretanto as meninas já não cantam juntas desde 2004. As duas músicas que deixo abaixo datam de 2001 e 2003 respectivamente.

Para mim, são actuais. E disto, gosto.




outubro 03, 2007

outra vez?

Estou certa que a querida Mariam deve ter dado o meu contacto a todos os orfãos da família dela que agora não me largam em desesperados pedidos de ajuda.

Nem sei que hei-de fazer com tanta massa na minha conta. A tentação de enganar os pobres desgraçados é grande, mas com tanto azar que tiveram não os vou deixar ficar mal, tanto mais que confiaram cegamente em mim.

Agora a sério. Que esquema será este que vem da Costa do Marfim? Que conto do vigário estará por trás deste rol de disparates? Será que alguem cai nestas tretas?

Eu reporto estas mensagens como spam, mas continuam a cair. Queixo-me à PJ?

Dearest one
I am Agis demel,,an orphan from Cote D'Ivoire .

My late father was a serving director of the Cocoa exporting board until his death.I know it is normal and natural for you to wonder why I contacted for assistance in this transaction when we have not met each other before, I am pleading that you be patient with me because I have no choice than to do what I am doing now since it is the only way out of this problem I found myself based on the fact that most times in life, One must confide in another Person to survive, I therefore decided to contact you to find a solution to my problem irrespective of the fact that we never knew each other, please do not misunderstand me since a journey of hundred miles starts with a step, I am therefore begging you to accept me with an open heart and mind, it is the situation I found myself that made me to contact
you and ask for your assistance

My mother died after giving birth to me, so I never knew my mother. Behold, my only hope and courage in life which was my father was brutally killed by unknown assasins.
Before his death he has deposited a box in the security company here in Côte d´Ivoire,the sum of $9.5 million which was meant for the importation of cocoa processing machine. But he informed the security company that the box and its content belong to his oversea associate who is the beneficiary.

So I want you to do me a favour to assist me claim this consignment from the security company as the oversea associate(beneficiary) and help me invest the fund in real estate business or in your line of business in your country.

Meanwhile as soon as you recieve the the fund you have to make an arrengement for my coming over to your country to further my education while you invest and manage the fund. This is my reason for writing to you. Please if you are willing to assist me please do not hasitate to indicate your interest in replying .
Thanks and best regards.
My sincere regards,

Agis Demel.


From Miss Elisabeth Michael.
Abidjan. Cote D'Ivoire
West Africa

Hi

I am Miss Elisabeth Michael the only Daughter of my late parents Mr.and Mrs.Konel Michael. My father was a highly reputable busnness magnet who operated in the capital of Ivory coast during his days.

It is sad to say that he passed away mysteriously in France during one of his business trips abroad on the 12th September 2004. Though his sudden death was linked or rather suspected to have been masterminded by an uncle of his who travelled with him at that time. But God knows the truth! My mother died when I was just 6yrs old, and since then my father took me so special.

Before his death on September 2004, he called me and informed me that he has the sum of Eight Million, Seven Hundred thousand United State Dollars.(USD$8,700,000.00)left in fixed deposit account in the Bank of Africa. He further told me that he deposited the money in my name, and also gave me all the necessary but legal documents to this fund with the bank.

I am just 21 years old and a university undergraduate and really don't know what to do. Now I want an account overseas where I can transfer this funds and after the transaction I will come and reside permanently in your country till such a time that it will be convinient for me to return back home if I so desire.
This is because I have suffered a lot of set backs as a result of incessant political crisis here in Ivory coast. The death of my father actually
brought sorrow to my life. I also want to invest the fund under your care because I am ignorant of business world.

I am in a sincere desire of your humble assistance in this regards. Your suggestions and ideas will be highly regarded. Now permit me to ask these few questions:

1. Can you honestly help me from your heart?
2. Can I completely trust you?
3. What percentage of the total amount in question
will be good for you after the money is in your
account?

Please, consider this and get back to me as soon as possible. Immedaitely I confirm your willingness, I will inform you more details involved in this matter.

Kind Regards,
Miss Elisabeth Michael.

martírios

Se há coisa que detesto, é ter de tratar de papeis em serviços públicos.

Nem é pelos funcionários, que hoje em dia até já vão aprendendo a tratar bem as pessoas, nem necessariamente pelo tempo que estou à espera. É porque nunca sei muito bem o que estou a fazer, troco os nomes das coisas e tenho sempre a sensação de que me falam em chinês.

Desta vez a carta do Banco dizia que eu tinha de entregar isto:

"Certidão de Teor de Descrição e de todas as inscrições em vigor na Conservatória do Registo Predial donde conste o registo provisório de hipoteca a favor da Caixa Geral de Depósitos".

Em consequência deste simpático pedido lá fui para a CRP. Um balcão, 4 ou 5 senhoras a atender, um monte de gente sentada e dois dispensadores de senhas com a seguinte inscrição:

"senha rosa - apresentação de registo
senha azul - levantamento de registo
- certidões
- buscas
- informações"

Achei que a minha situação se enquadrava na categoria "certidões" de maneira que tirei uma senha azul. Para variar, o quadro electrónico estava avariado, de forma que as senhoras iam gritando a côr da senha e o número. Vi que tinha aí umas dez pessoas à minha frente na senha azul (para a rosa não havia ninguém), pelo que me sentei, abri o meu cadernito e fui rabiscando umas coisas: o que tinha de fazer durante a tarde, notas para um post, desenhos das pessoas que estavam sentadas por ali.

Quando chegou a minha vez, sentei-me defronte da senhora, mostrei a carta do Banco e disse ao que vinha. Foi aqui que chegou a parte que eu detesto:

ela - mas já tratou do tchin-tcha-quin?
eu - desculpe? já tratei de quê? eu sei que o Banco me pediu isto aqui, olhe: certdão bla bla bla... é isso que eu quero.
ela - pois mas primeiro tenho de ver aqui no sistema se o wuan-con-gi já está, pois antes do tchong-ki-uac tem de apresentar o quin-jon-li. E o pi-li-kong já tem?
eu - a senhora vai-me perdoar mas eu não percebo nada destas coisas. Só sei que tenho de entregar esta certidão lá no Banco.
ela - hummmm, então a senhora devia ter tirado uma senha rosa.
eu - uma senha rosa? Mas eu não venho apresentar nenhum registo que é o que diz ali. Eu venho pedir uma certidão.
ela - pois, mas para ter a certidão, tem de apresentar o registo primeiro.
eu - (já aos porras para dentro) Como queira, eu só quero saber o que tenho de fazer para ter a certidão e como não vinha apresentar nada, tirei uma senha azul que é onde diz "certidões"
ela - pois é, mas isso é uma "apresentação de registo". A minha colega aqui ao lado já a atende.
eu - (já a espumar) e tenho de ir para o fim da bicha?
ela - não, não, como já cá estava...

Bom, ao menos isso. Esperei que a do lado ficasse livre e sentei-me:

eu - bom dia, eu queria esta certidão que me pede aqui o Banco.
ela - hummm, tem de preencher aqui estes papeis, enquanto eu vou ali ver do jong-li-ku. Diga-me uma coisa, já fez a tchi-loc-pin?

***da-se. Ao fim de meia hora e de pagar 232€, consegui fugir. Tenho um papel depois de amanhã e outro daqui a 3 semanas. Não me preguntem porque é que UMA certidão são DOIS papeis espaçados no tempo.

Detesto isto. Mesmo.

outubro 02, 2007

socorro!

Hoje reunião de pais (turma do 12º ano, ok? coisa de responsabilidade portanto).

A directora de turma disse:

- umas 38 vezes "quer-se dizer"
- 3 vezes "prontos"
- 1 vez "quaisqueres"

Às tantas, querendo referir-se aos nossos educandos, disse "os vossos encarregados de educação". Gargalhada geral e tal, todos pensámos que se tinha enganado, mas não... A senhora desconhecia mesmo a palavra "educandos" porque à terceira tentativa desistiu e acabou com "os vossos... encarregados de.... de...., os vossos filhos, prontos".

Ai, meu Deus.

A única coisa que me alivia é que a senhora é professora de matemática e, ao que dizem, boa.

à deriva


Às vezes fico assim
imóvel, estática como um barco assente na areia da maré vazia.

Às vezes fico assim
apoiada apenas num dos lados de mim, em equilíbrio instável, tombando para onde a vida me pesa mais

Fico assim parada, quieta, à espera que a maré suba, me solte as amarras e as águas me levem docemente para outro lugar.

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outubro 01, 2007

E...

Irkutzk, Sibéria, 2004

...se passares de novo à minha porta não sigas em frente.

Pára e vem ter comigo.


Verás

que a tua toalha continua pendurada ao lado do duche
e a tua escova de dentes lá onde a deixaste

que guardo numa caixinha as cartas que me escreveste
e noutra os segredos que me contaste

que o cheiro da casa é o mesmo e se mistura com o nosso
e que as janelas continuam sem cortinas deixando a cidade entrar


Verás

cada móvel, cada porta, cada livro guardando ainda o toque dos teus dedos
e no sofá o teu contorno enroscado no meu

na almofada da cama a forma da tua cabeça
e como o teu perfume permanece nos lençóis ainda que mil vezes lavados

os meus cabelos agora brancos, mas ainda aquele brilho no olhar
aquele cheiro no pescoço, o cheiro que tu amavas


Se passares de novo à minha porta, mesmo que seja tarde, não sigas em frente.

Pára e vem ter comigo.

Os anos passaram, mas ainda sei fazer aquela salada que tu gostavas.

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