dezembro 31, 2008

juro que não tenho nenhum



Deu-me para isto. Tenho de parar. Sorry. Não resisti a esta. Veio de Beja. É de partir o coco a rir.

dezembro 29, 2008

quando os blogues dão frutos

O meu amigo Pedro é um rapaz dotado para a escrita e para a fotografia. O meu amigo Pedro terá com certeza outros dotes, não duvido, mas estes são os que eu conheço. O Pedro é um poeta de palavras e de imagens e isso pode muito facilmente ver-se num relance e apreciar-se devidamente se por lá nos demorarmos um pedaço mais após o primeiro relance.

A escrita e as imagens do Pedro sairam da blogosfera e foram publicadas, para já, em 3 (três) livrinhos e parece que virão mais a seguir. Ainda não os vi, está para breve, espero eu, mas não tenho qualquer pudor em recomendá-los assim mesmo, certa que estou do seu interesse. Não os vi na minha mão, mas conheço alguns dos textos e das fotografias e GOSTO!

Aqui vos deixo os links para que possam dar uma espreitadela em "Duets", imagens de mão dada duas a duas, "Marinheiro de si", contos contados para serem lidos e "Desenhar no espaço de palavras e tons", fotografias de paredes pintadas que inspiram pensamentos.

Parabéns Pedro! Quando eu for grande, gostava que as minhas palavras também frutificassem. Mas acho que ainda tenho que crescer muito.

a crise chega a todos


dezembro 27, 2008

restos de natal



Foi tão lindo o natal! Como até somos pessoas preocupadas com a natureza e assim, comprámos presentes na Natura. Para que a nossa menina se transforme numa mulher asseada, comprámos-lhe um aspirador de brinquedo. No dia seguinte, limpámos a casa toda. Não ficou um saquinho nem uma caixa para amostra. Os nossos filhos orgulham-se com certeza de nós e do nosso esmerado asseio no lar.



breves de um natal

24 - Últimas compras de manhã, almoço de pizza preguiçosa e lá vamos todos para o natal. Bacalhau com batatas, couves e ovo cozido, decorações a propósito da quadra a começar pelos convivas, vestidos de vermelho em obediência ao curioso pedido da anfitriã.

25 - Almoço nos outros avós. Não me pediram para ir de vermelho, de forma que vou de preto. Perú com um recheio à frente e outro atrás. Levo uma menina de dois anos e meio pela mão a ver as galinhas e a passear pelo pomar. Construímos um castelo com uma pedrinha a fazer de torre e uma folha seca a fazer de bandeira. Gosto das mãozinhas sujas de terra. À noite, jantar de roupa velha e canasta, abraços e beijos.

26 - Almoço tardio algures na linha de Sintra. Regresso a casa para duas horas de veterinário com o gato. Aproveito e levo o cão que tem as vacinas atrasadas. O médico torce o nariz com o mau hálito do cão e aconselha-me uma ida ao dentista para destartarização. Confirmo o mau hálito com uma careta e aceito a sugestão de bom grado, antecipando o sorriso pepsodente que o cão passará a ter. No frigorífico pouca coisa... janto um arroz de grelos e trabalho até às 4 da manhã.

Fim do natal.

poemas ao sábado #7

Ao longo da muralha

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.


Mário Cesariny

dezembro 22, 2008

natal

Quando eu era pequena, passávamos o Natal em Vila Nova de Ourém que, como outras vilas foi promovida a cidade e passou a chamar-se só Ourém, perdendo o pouco interesse que tinha e passando a ter nenhum, salvo um belíssimo castelo lá no alto do morro em Ourém, então "velha" e agora terra da qual desconheço a adjectivação, mas onde perdura o castelo e as ruelas e casario que o rodeiam.

Em Vila Nova de Ourém viviam:

- quando eu era mesmo pequena, os meus avós, os meus tios com a minha prima, a minha tia solteira e a minha bisavó;

- depois, os meus avós, a minha tia viúva com a minha prima, o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira;

- nos últimos anos da minha adolescência, o meu avô, a minha tia viúva com a minha prima, o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira;

- O Natal deixou de se passar em Vila Nova de Ourém há uns anos largos quando já só havia o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira.

Desses Natais da minha infância e juventude recordo noites mal dormidas num gelo de lençois húmidos e cobertores de papa pesadíssimos, a casa dos meus tios com um corredor que não acabava, quartos de um lado e de outro virados a norte e a nascente e para poente e sul só paredes sem janelas e tudo aquilo sem mais aquecimento que uma lareira na sala de estar que, quando o vento não estava de feição, ou seja sempre, atirava com rolos de fumo para dentro de casa, pondo todo o clã a tossir e a entrever-se desfocado com os olhos a picar.

O meu tio tinha um armazém de atoalhados e afins de maneira que a minha tia depositava a tarefa de escolher os presentes de Natal num dos empregados do armazém (cheirava a fazenda, pano turco e naftalina, o armazém) e presentava toda a família com embrulhos enormes de papel pardo atados com fitas vermelhas de dentro dos quais saiam panos de cozinha, toalhas turcas, renda a metro, jogos de cama de casal (dois lençois e duas fronhas) e outras utilidades domésticas que eu e os meus primos tínhamos de agradecer fingindo que apreciávamos muito mais ver aumentado o nosso enxoval aos oito anos de idade do que uma porcaria de um action man ou de uma caixa de lego.

O meu avô, que no fim da vida devia ter alzheimer e falava com a minha mãe como se ela fosse o Sr. Abrantes, tardes inteiras a conversar com a minha mãe, Sr. Abrantes, e como vai a família? e a minha mãe, pois vai-se andando menos mal, Sr. Lopes e logo depois o meu avô levantava-se e ia destapar o tacho do bacalhau que estava ao lume à procura da bengala enquanto me perguntava pela enésima vez se eu já tinha acabado o 7º ano e eu já a meio da faculdade. Depois chamava-me de lado, levava-me ao dito corredor sem fim e oh filha, olha para este hotel... olha que tens de dizer à tua mãe que eu não tenho dinheiro para pagar isto tudo...

Eram assim esses Natais.


dezembro 21, 2008

gaston



O Gaston é o meu gato. De entre o que se pode esperar de um gato, é um bom gato. Independente, altivo, talvez um pouco arrogante, curioso, um nadinha burro e bastante egocêntrico. Digamos que é... um gato.

O Gaston está doente. Não está doentinho. Está mesmo doente. Ontem tive a confirmação daquilo que já esperava, pelo resultado das biópsias: tumor maligno, altamente invasivo e criador de metástases. Apareceu há um mês sob a forma de um inchaço numa pata traseira. Amanhã vai fazer ecografias e radiografias para saber se há tumores em mais algum orgão. A veterinária disse-me que, se não houvesse, se podia amputar a pata. "Os gatos adaptam-se muito bem só com 3 patas, fazem uma vida normal." Vou chateá-lo só mais esta vez com os exames por descargo de consciência. Não tenho ilusões. Também havia um quisto no pescoço que se conseguiu tirar, mas tinha a mesma origem. Sei que não vou amputar pata nenhuma ao meu gato. Sei que o "tumor maligno, altamente invasivo e criador de metástases" está irremediavelmente espalhado. Se chegar lá, o Gaston fará 10 anos em Abril. É o gato mais bonito do mundo.



Vou mantê-lo enquanto tiver a vivacidade para fazer o que fez hoje: caçar passarinhos num 6º andar e depositá-los no chão da cozinha, como uma oferta.

dezembro 16, 2008

sósias


Ontem no elevador:

- mãe, já reparaste que o vizinho de baixo é igual ao Ned Flanders?
- quem é o Ned Flanders?
(o nome não me soava estranho, mas... raio de memória)
- é o vizinho dos Simpsons, a única diferença é que o nosso não usa bigode
- eh pá... não é que tens razão? é ingualinho!
- e não é só fisicamente... é no resto também.
- isso já não sei... bom, tem ar de quem vai à missa todos os domingos mas não estou a ver o Ned Flanders a bater com o cabo da vassoura no tecto quando tu tocas baixo até mais tarde ou a ir lá acima em roupão às onze e meia de uma das duas noites por ano em que dou festas lá em casa para se queixar do barulho...
- pois.

dezembro 15, 2008

beijo

do calor
o beijo
o sopro
quentes as mãos
no pescoço
a curva
curva dos dedos
nós
nós dos dedos
medos no olhar
a desvendar raízes
dos cabelos
nos dedos
curva
curva do pescoço
nas mãos

beijo quente
o teu amor

vento


em voltas revoltas
à volta das copas
(altas)
bandos de pássaros
cor-de-laranja
em voos malucos
sem tino
sem nexo
incertos
sem rumo
morcegos
traças
tontos de luz
chovem nos meus cabelos


jazem os pássaros
mortos no chão
asas quebradas de cansaço

dezembro 14, 2008

poemas ao sábado #6

Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa
nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera


Ruy Belo

dezembro 08, 2008

piropos filiais via messenger

João - just woke up from the daydream diz (00:05):
tao tao gira nessa foto mamã
Teresa diz (00:05):
achas?
João - just woke up from the daydream diz (00:05):
acho
Teresa diz (00:05):
a mãe é gira?
João - just woke up from the daydream diz (00:06):
é a mae mais gira
Teresa diz (00:06):
YEAHHHH!

dezembro 06, 2008

poemas ao sábado #5

Barco

Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.


Sophia de Mello Breyner Andresen

dezembro 02, 2008

dos teus olhos junto ao rio

asas brancas
em volteios redondos
sobre as águas do rio
asas pretas
num voo rasante
em contraluz
mergulhos a pique
no verde azul cinzento
castanhos os teus olhos
profundos nos meus
debicando minha alma
peixe desatento
levado para os céus