setembro 28, 2008

justin case

she's got a friend
called Justin Case

she's got him to use
just in case

das cores do silêncio e do cheiro


fotografo o silêncio
depois o cheiro
para saber a cor
do silêncio
e do cheiro

comprimento de onda
(onda do mar?)
que não se revela
nem se deixa apanhar

branco o silêncio
vermelho o teu cheiro
imaginar
sonhar
um dia
inteiro

sometimes this time


sometimes cry
never die
allways the sky
before the eyes

sometimes fall
never crawl
allways the soul
across the walls

this time your soul
before my eyes
against the wall
across the sky

setembro 27, 2008

chegadinhos de Paris #2




Fui ver a outra entrada que fiz há cerca de um ano com o mesmo título.

A mesma história, tudo quase igual, exceptuando la veste. Desta vez, o meu vizinho só trouxe mesmo o que lhe encomendei. Bd's recentes e le dentifrice à l'anis que já não consigo encontrar por cá outra vez.

Joann Sfar já conheço e é muito variável a opinião com que fico dos livros. Alguns são ligeiramente trop avant-garde para o meu gosto no que concerne aos desenhos. Outros, como a série Le chat du Rabin, adoro. Jirô Taniguchi é mesmo uma estreia.

Ah e quanto aos 3.300 m2 de livraria nas Amoreiras, expectativa gorada. É muito mais o espaço que a variedade ou originalidade de títulos disponíveis...

E as bd's novas cá estão, na fila da mesa de cabeceira.

setembro 26, 2008

litografia 3



Passaste sobre o meu amor assim
e não deste por nada.

Os teus passos
só os teus
apagaram a calçada.

Nunca escreverás como eu
que gostas tanto tanto de mim.

casa de carne

Casa de carne era mais ou menos como estava ontem o 2001 na festa do costume.

O momento alto da noite, pelo menos para mim e durante as 2 ou 3 horas que lá estive:


Calor de morrer, aquilo cheio como um ovo com os cotas todos a abanarem o capacete e a cantarem ao mesmo tempo:

Stop right there!
I gotta know right now!
Before we go any further!
Do you love me?
Will you love me forever?
Do you need me?
Will you never leave me?
Will you make me so happy for the rest of my life?
Will you take me away and will you make me your wife?
Do you love me!?
Will you love me forever!?
Do you need me!?
Will you never leave me!?
Will you make me happy for the rest of my life!?
Will you take me away and will you make me your wife!?
I gotta know right now
Before we go any further
Do you love me!?
Will you love me forever!?

setembro 25, 2008

litografia 2



Ajoelho-me na rua para te deixar um escrito.
Já deixei outros que não sei se viste.
Nunca saberei se os viste.
Ou, se vendo,
saberás que é para ti que os deixo.
Grito a todos que te adoro e te desejo,
menos a ti.

setembro 24, 2008

litografia 1



Nas pedras da calçada alguém grita o seu amor
Por mim?
Queria ser amada assim
Sem pudor

setembro 21, 2008

o dedo e a palma

Sentaram-se na varanda a olhar a noite, corpos ainda molhados enrolados em toalhas, pés apoiados no varandim. Naquela meia hora geriram com cuidada perícia conversas e silêncios, as pontas dos cigarros a avermelharem à vez.

Comentaram os telhados, as antenas tombadas de desuso, os ângulos de que dali se viam as torres das igrejas, os ruídos da noite, as luzes nas janelas, o Norte e o Sul.

Viram os aviões que passavam da esquerda para a direita sempre a um dedo da chaminé ali em frente desde que se esticasse bem o braço e o dedo na horizontal, apoiado na ponta da chaminé.

Entre conversas e silêncios regressaram ao quarto.

- Dá para ficar cá hoje?
- Hoje não dá, desculpa, fica para outra vez.

Despediram-se sem muita conversa até um dia destes, fica bem e com dois sorrisos de silêncio.

Chegou a casa, despiu-se, enrolou o corpo seco numa toalha e sentou-se na varanda a olhar a noite, pés apoiados no varandim. Observou os telhados, as antenas tombadas de desuso, os ângulos de que dali se viam as torres das mesmas igrejas, os ruídos da noite, as luzes noutras janelas, o Norte e o Sul ao contrário. Concluíu que os aviões, que na sua varanda vinham sempre de frente para trás, passavam não a um dedo mas a uma mão travessa da chaminé ali em frente desde que esticasse bem o braço e a palma virada para si, o mindinho apoiado na ponta da chaminé.

Diferenças tão subtis e no entanto.

Percebeu nesse momento que não se veriam mais.

Como lhe tinha sido dito, ficou bem.

setembro 20, 2008

fósforo vs cotovia (?)


Não será este o melhor motivo para recomeçar a escrever aqui. Com certeza que não. Mas não resisti... Acho tão pouco provável a existência de uma canção dedicada a um pau de fósforo...

Mas sei a da cotovia, esta aqui:

Alouette, gentille alouette
Alouette, je te plumerai.
Je te plumerai la tête, je te plumerai la tête,
Et la tête, et la tête, alouette, alouette, aah...

Alouette, gentille alouette,
Alouette, je te plumerai.


Et bon, après on plume toute la gentille alouette:

et le bec...
et le nez...
et le dos...
et les jambes...
et les pieds...
et les pattes...
et le cou.


Et même d'autres choses si on veux vraiment plumer totalement l'alouette et peut-être, qui sait, la manger après.

Seront-elles mangeables les alouettes?

setembro 09, 2008

sonhar a cores


O último comentário que a Ana V me deixou aqui, perguntando-me se eu tinha ficado entalada entre Serpa e Mértola, recordou-me um sonho de há dias em que eu era um lápis azul turquesa mal arrumado na sequência dos lápis que começam no vermelho e acabam no amarelo. Sentia-me entalada entre o cor-de-laranja claro e o cor-de-laranja escuro, desconfortável, fora do meu lugar, enfiada ali ao acaso por alguém sem qualquer preocupação estética ou sentido cromático. Em vão tentava soltar-me para me colocar entre o azul ultramarino e o azul cobalto, um lugar bem mais adequado ao meu comprimento de onda, mas os laranjas apertavam-me sem complacências e eu, por mais que me espremesse e esbracejasse (sim, eu era um lápis com braços, os sonhos permitem estas coisas) não conseguia livrar-me daquele aperto.

Passei a noite nisto e acordei com uma sensação de desenquadramento. Na véspera tinha estado a desenhar, mas nem pegara nos lápis azuis, por isso não vejo que relação possa haver entre os dois factos.

O que é certo é que me continuo a sentir entalada e talvez por isso ande sem vontade de escrever. Parecendo que não, a condição de "entalado" é algo inibidora da criatividade.