junho 30, 2007

mais coisas de que eu gostava

e penso que já não há.

Ou se há, andam escondidas aí nalguma revista que não compro.

As crónicas da Ana Sá Lopes sobre a sua amiga Vanessa e o Cavia, namorado da dita.

A Vanessa, por mais namorados que tivesse, acabava sempre ficando com o Cavia. Quando lhe perguntavam "mas se não gostas assim tanto dele, porque continuas?", a Vanessa respondia algo como "sabes, ao fim ao cabo, ele não deixa de ser o Cavia" ou "eu até gostava do Jorge, mas ele deu-me com os pés. Fiquei com o Cavia"

Um must

junho 29, 2007

coisas de que eu gostava

e que já não há.

La linea. Sempre simples, sempre fantástico.

snails, beer and a view


Eu dantes não gostava de caracóis. Lembrava-me de ser miúda e de brincar com eles "caracol, caracol põe os pauzinhos ao sol" e a recordação do bicho viscoso deixando o seu rasto de baba impediu-me durante anos de os provar.

Um dia experimentei. Um travo ligeiramente amargo, um gosto de terra molhada. Não fiquei fã.

Depois, num regresso do algarve num daqueles dias de calor imenso, ainda não havia auto-estrada, parámos em Ourique e o cheiro a orégãos dos caracóis da mesa ao lado era irresistível. Os amigos com quem ia pediram os caracóis, uma cerveja fresquinha, e o ar deliciado que faziam levou-me a tentar de novo. Eh pá, aquilo era mesmo bom. A cerveja, o ritual de tirar o bicho da casca e os orégãos, céus, como eu gosto do cheiro dos orégãos (há coisas que valem pelo cheiro, não é?).

Agora, quando vem o calor, gosto de comer uns caracóis com uma cervejita. Mas é um acto social. Caracóis sózinha, não lembra. Hoje quando cheguei a casa, imensa gente no café em baixo nos caracóis. Ainda hesitei, mas desisti.

Este ano não tem estado muito calor e talvez por isso ainda só os comi uma vez. Foi uma delícia: fim de tarde quente, uma caixa dos ditos comprados no café, umas cervejinhas acabadas de sair do frio, a minha varanda, a minha vista, os melhores amigos. A ver se convido a malta para vir cá outra vez. Está a vir calor.

junho 28, 2007

bestiário - animais bípedes

Há pouco no banco, uma senhora ao balcão, um casal indeciso entre o balcão e os gabinetes.

Pergunto ao casal: os senhores estão para ali ou para ali?. Eles confirmam a incerteza, em jeito de irem para onde vagasse primeiro. Ok.

Sento-me no sofá que sempre é melhor que estar em pé à espera. A senhora que estava ao balcão sai e o casal dirige-se para lá. Chega mais um cliente, por acaso porteiro lá do sítio onde eu trabalho e senta-se ao meu lado. A senhora está para o balcão?, pergunta-me. Lá lhe explico que sim, mas que aquilo com o casal está com ar de demorar, por isso sentei-me à espera. Ficamos ali os dois à conversa.

Entra uma senhora com ar decidido, finge que não nos vê e põe-se atrás do casal. O porteiro para mim: aquela ainda nos quer passar à frente. E eu: não..., ela viu-nos. mas de qualquer forma vou lá dizer-lhe.

Levanto-me , chego-me à dita cuja: boa tarde, a senhora desculpe, mas eu e aquele senhor, estamos na bicha, só que estávamos ali sentados.

É aqui que começa a cena surrealista. Resposta:

- Eu cá estou na bicha. A mim ninguém me passa à frente. Eu cá não vi ninguém.
- Desculpe? A senhora passou por nós, como é que não nos viu? E eu estou-lhe a dizer que já aqui estávamos, como a funcionária ali pode confirmar.
- Pois, querem estar de rabo sentado... Aqueles sofás são para os gabinetes. Eu cá estou na bicha e ninguém me passa à frente.
- Eu não estou a acreditar no que estou a ouvir... a senhora é que está a querer passar à nossa frente.
- Daqui não saio.
- Pronto. Se quer ser mal educada e passar à frente... é isso que quer?
- É isso mesmo. A mim ninguém me passa a frente.

O porteiro entretanto tinha chegado ao pé e começámos os dois naquela conversa de pois, com gente assim, não vale a pena. ele há pessoas muito mal educadas, sem princípios. isto, cada um tem a educação e o civismo que adquiriu no berço, coitada, às tantas não tem culpa. A mulher impávida, faz que não ouve, não reage. Eu, já só para ver até onde é que aquilo ia, experimento a capacidade de encaixe da animália e viro-me para o porteiro: já viu? e anda vestida e calçada como se fosse uma pessoa, quando devia era estar no jardim zoológico. Sem reacção. Besta dura, de carga, mesmo.

Toco-lhe na espádua: a senhora é feliz? muito, diz ela. E tem pessoas que gostam de si e tudo? Ela abre e fecha os dedos naquele gesto de chusmas deles. Incrível, não posso acreditar, digo eu.

Entretanto, a bicha engrossara e já havia pessoas a dizer que era costume ela fazer aquilo e blábláblá. O casal saíu, eu ainda tentei aproximar-me do balcão, mas levei logo valente encontrão.

A funcionária olha para mim em jeito de súplica. Ok, atenda lá a senhora. Se ela gosta de passar à frente paciência.

No fim de a mulher ir embora, veio o gerente do balcão apertar-me a mão e pedir desculpa, sabe, nós não podemos fazer nada, desculpe lá e tal.

Não me enervei com a cena, aliás ri-me o tempo todo tal o caricato da situação. Já me tinha cruzado com alguns animais, mas acho que este bateu todos os records da capacidade de encaixe, e da força das suas convicções.

junho 25, 2007

visitante 2.500

Se tivesse pensado nisto mais cedo, tinha arranjado um prémio para o visitante 2.500.
Se o sitemeter não me engana, acho que foste tu Gonçalinho. Que tal um solo (meu) do somebody no próximo ensaio? Aguentas?

Entretanto, vou pensando num prémio surpresa para o 5.000. Tenho montes de tempo. Isto vai devagarinho...

Margot

Como se não me bastassem já um cão, um gato e alguns gorgulhos que descobri habitando um pacote de massa na despensa, o meu filho resolveu trazer hoje a margot ( dois meses passados e a bicha tem o dobro do tamanho) para dormir cá em casa.

Se os outros dois largam pelo, (os gorgulhos já no lixo e mais o pacote de massa, coitaditos) esta larga mijo. Já sabe que os cócós se fazem na rua, mas quanto aos xixis continua, como disse o meu filho, bastante incontinente. Com a agravante que faz sempre que se assusta. Então, poça de xixi quando viu o gato a bufar de pelo e rabo espetado todo ele com o dobro do tamanho, pocinhas de xixi desde a sala até ao quarto quando levou uma sapatada, poça de xixi no patamar derivado ao receio de entrar no elevador, poça de xixi quando o cão lhe rosnou.

Também faz quando algo a sensibiliza, no bom sentido claro. Então, poça de xixi se lhe faço uma festa, poça de xixi se entro no quarto do J, poça de xixi se lhe digo que é linda.

Nunca dei tanto uso à esfregona em tão pouco tempo.



junho 23, 2007

só neste país

Esta expressão "só neste país" em geral irrita-me.

Irrita-me porque é normalmente usada para denegrir a imagem da pátria, como se quem a usa estivesse isento de culpas do estado da nação. O país é o que nós fazemos dele, certo? E se as coisas estão como estão, mais vale fazer algo para tentar mudar do que viver na eterna lamúria do "só neste país".

Isto é o que eu penso, nos dias normais.

Mas hoje apetece-me juntar à legião dos utilizadores da dita expressão.

É que pasmo, pasmo, pasmo.

Ontem foi o exame nacional de Física-Química do ensino secundário. Fiquei mais atenta a este, por razões puramente egoístas, já que foi o único que o meu filho fez este ano.

Então não é que na prova, que é feita em duas versões (deve ser para evitar copianços), havia, em ambas as versões (!!!!), um ligeiro erro de formulação numa das questões: "nos items (...) a figura apresenta uma incorrecção que inviabiliza a concretização de uma resposta correcta" (sic Ministério da Educação). Adoro o eufemismo...

Desculpem mas, isto é normal? Foi preciso os miúdos fazerem a prova para se descobrir que havia uma pergunta que não tinha resposta possível? Então ninguém resolveu o teste antes do dia do exame? Não houve um grupo de professores da área a idealizarem a prova e outro grupinho a resolvê-la? E nesse grupinho, ninguém deu pela "incorrecção que inviabiliza a concretização de...." o raio que os parta? Ou deram por isso, e pensaram que não sabiam resolver o problema e tiveram vergonha de dizer aos outros? Seja qual for a razão, é má....

O ME resolve a coisa de uma maneira simples e que permite que "nenhum aluno seja prejudicado ou beneficiado" (sic outra vez), multiplicando as classificações obtidas por todos os examinandos por um factor de majoração.

Ok, parece-me bem. Então e o tempo que uns perderam e outros não, a tentar resolver um problema irresolúvel? E as questões a que não responderam por terem perdido tempo com o errozinho? E o stress com que podem ter ficado, ou não? Peanuts, não é?

Por isso é que hoje também digo: realmente, só neste país...

junho 21, 2007

acompanhante de turistas por um dia



Há coisas que eu acho que só me acontecem a mim.

No ano passado fiz uma viagem de 3 semanas à Coreia do Sul e ao Japão.

Viajo habitualmente com a mesma operadora turística, francesa, que faz viagens "em liberdade". São grupos que não ultrapassam em geral as 10, 12 pessoas, acompanhadas por um funcionário da operadora que se ocupa de marcar hoteis, comboios, carrinhas ou jipes, o que for. Os itinerários estão mais ou menos definidos à partida, mas podem ser alterados se o grupo assim o entender. Nos locais de paragem cada um faz o que lhe apetece. Gosto desta forma de viajar, pois escapo à parte chata da logística e ao mesmo tempo tenho um razoável grau de liberdade.

Como já fiz várias viagens destas, acabei por fazer amizade com um acompanhante que conheci numa delas e já parti com ele várias vezes. Bom, desta última, fui para Paris de véspera, como habitualmente, pernoitei em casa do meu amigo e no dia seguinte lá partimos de mala aviada para Roissy, onde nos iríamos encontrar com o resto do grupo.

Chegados ao ponto de encontro ele recolhe a documentação, apresenta-se ao grupo e lá vamos para a bicha do check in do voo da noite para Séul. Quando chega a nossa vez, começo a perceber que se passa qualquer coisa de anormal. Muita conversa, Arno, o meu amigo, a ficar cada vez mais enervado, eu a fazer conhecimento com os outros e, às tantas, ele chama-me de lado e diz-me:

- Ouve, trabalho nisto há 15 anos e é a primeira vez que isto me acontece. O meu voo era hoje de manhã e este avião está cheio! Ninguém me avisou! Não vou poder partir com vocês. Quanto dinheiro tens?
- 800 euros, digo eu.
- Ok, eu tenho mil da agência mais 500 meus. O resto tenho em traveller cheques, não os podes levantar. Tens que te amanhar com os meus 1500 e os teus 800 e levar esta gente até ao hotel em Séul. Estão previstas 2 noites. Se for preciso ficas 3. Tens de pagar o hotel à chegada. Eu lá hei-de ir ter. Contactamos por e-mail.

Rabiscou rapidamente num papel a morada do hotel, o nº do autocarro que devíamos apanhar no aeroporto, o nome da paragem, um esquema com o percurso desde a paragem até ao hotel.

Esta conversa durou 5 minutos, eu de boca aberta o tempo todo, a olhar para ele sem acreditar no que estava a ouvir. Estávamos em cima da hora.

Teresa, disse ele, tens de fazer isto. Não conheço nenhum dos outros. Se não estivesses comigo, nem sei como me havia de desembrulhar desta alhada.

Ok, disse eu. Guardei o dinheiro, a papelada e segui-o enquanto ele ia explicar o que se passava aos outros.

- Meus amigos, aconteceu isto, bla bla bla. Está aqui a Teresa, é portuguesa mas fala bem francês, é minha amiga, já viajou comigo várias vezes, tenho inteira confiança nela. É ela que vos vai levar até Séul, tratar do hotel, refeições, etc. Eu vou tentar chegar amanhã ou o mais tardar depois. Vão-se embora rápido. O embarque já começou.

E foi-se embora.

Eu, fiz o meu maior sorriso e o ar mais descontraído do mundo, como se tivesse feito aquilo toda a vida, enfiei as mãos nos bolsos para evitar que tremessem e disse: "Bom, então embora para Séul? O Arno vai conseguir chegar, não se preocupem, vai tudo correr bem."

E lá segui, com 11 franceses atrás de mim, como se soubesse o caminho.

Correu tudo bem. Encontrei o autocarro, saí no sítio certo, o recepcionista do hotel que mal falava inglês queria que eu pagasse 10 vezes o preço dos quartos (insistia em enganar-se num zero). Enquanto os outros se instalavam, procurei um sítio simpático para levar o grupo a jantar, outro para o pequeno almoço da manhã seguinte e um café internet para ver se havia mensagens de Arno. Havia. Tinha conseguido lugar num voo no dia seguinte. Respirei de alívio.

Ofereci-me o direito de não partilhar o quarto naquela primeira noite e no outro dia propus uma visita matinal ao palácio imperial, almoço por conta de cada um bem como a tarde, e encontro no hotel às 7 para jantar.

Depois do almoço regresso ao hotel. Arno tinha chegado e dormitava no meu quarto. Atirei com o saco para o chão. (Nos hoteis tradiconais, só há um ou dois colchões finos no chão)

- Puxa, ainda bem que chegaste.

Contei-lhe o meu desempenho como acompanhante.

Levei um raspanete, porque tinha gasto muito dinheiro no pequeno almoço.

-És maluca tu! Então foste dizer aos outros para comerem o que quisessem? Isso nunca se faz. Pedem logo o que há de mais caro. Gastaste num dia o que estava previsto para 3. Agora vamos ter de comprar iogurtes, pão, doce e fruta para comer nos quartos. Estou feito contigo, eu.

Agarrei numa almofada e atirei-lha para cima.


oops! 2


desde que publiquei isto, que não paro de receber visitas de gente que me encontra através do google, pesquisando "papagaio setúbal senegal".

depois descobri que afinal o que se passava era, na realidade isto.

pelos comentários que tive e pelas conversas com amigos, parece que estou longe de ser a única patareca que não percebeu à primeira o esquema publicitário.

mas ora vejam, recuperei a página do DN. Estão a ver a bolinha vermelha? É lá, e só lá, que diz PUB. Caramba, cai-se, não é?


junho 19, 2007

pata pata

Sábado o meu coro ia actuar num jardim da capital.

À última hora, que este fim de primavera não está para brincadeiras, o evento foi cancelado pela digníssima organização, não fossem artistas e espectadores ficar ensopados.

Como já lá estávamos todos, trajados a rigor e tudo, e a pedido de várias famílias (em particular as dos coralistas), acabámos por fazer o gosto ao dedo e cantámos à mesma (meio repertório), sem arquinhos nem balões, mas com alguns curiosos que foram parando à chuva e um número razoável de pombos a assistir.

A animação era tanta, que acabei por trazer o coro inteiro para casa, maestro incluído pois então, para continuarmos o convívio num sítio mais sequinho.

Vasculhados o frigorífico e a despensa conseguimos reunir uns queijinhos, uns patés, umas tostas, mais o pão e o vinho que se foi comprar, as pizas que se mandaram vir, uma enorme taça de caipirinha, uns docinhos e biscoitos e a coisa compôs-se.

É bom de ver que, quando se reúne um grupo de vinte e tal pessoas ligadas à música e ainda por cima bem comidas e bebidas, o clima vira festa. Mesa para um canto, tapete fora, umas luzinhas à maneira e não tardou estava tudo a dançar na maior festança do bairro nos últimos meses.

A minha amiga Luísa, que é uma pequena prevista e muito pouco confiante (e bem) nas colecções de cd's dos seus pares, apareceu munida de uma malinha cheia de música dos anos sessenta. Só faltaram as mini-saias, porque de resto estava lá tudo.

Mas na volta, o grande sucesso da noite foi mesmo Miriam Makeba com Pata Pata, que afinal até era cá de casa.

Oh p'ra ela aqui, em 1968, actuando num clube de S. Paulo que, ao que sei, estava na berra naquela altura, o Blow-up. Esta mulher é uma força da natureza!



Every friday and saturday night
It's pata pata time
The music keeps going all night long
Till the morning sun begins to shine

Oh, yeah.

E quem quem quiser mais, pode ir aqui.

junho 18, 2007

Feelings

I don't feel like working, no no no...

I just feel like dancing, laughing, singing and swiming, yeah yeah yeah...

What a shity day...

junho 15, 2007

oops!

Hoje telefona-me um amigo:

- És mesmo tosca tu. Não se pode ter confiança em ti.
- Então, diz lá. Que foi que fiz de errado desta vez?
- Aquela história que puseste no teu blog, do papagaio que voou até ao Senegal, aquilo é publicidade à água das pedras!

Realmente, não foi nada em que não tivesse pensado quando escrevi o post, mas já não tinha o jornal comigo para confirmar.

E, pateta romântica como sou, não resisto a uma boa história de amor.
Acredito em tudo.
Mas também, não faz mal. É uma boa história. Parabéns a quem a inventou!

tesourinhos

de vez em quando cai-nos no écran um tesourinho. olha só que coisa mais linda, mais cheia de graça....

junho 14, 2007

importa-se de repetir?

Quando o meu filho andava na 3ª classe, na classificação do 2º período, às tantas rezava assim:

"O J devia de estar mais atento nas aulas"

Olhei para aquilo sem acreditar no que os meus olhos viam.

"Devia de"?. "Devia de" mesmo mesmo "de"?

A minha primeira reacção foi agarrar naquilo, mostrar ao director do colégio e dizer-lhe que, na minha opinião, a professora é que devia de aprender a falar e a escrever português.

Depois pensei melhor e desisti. O miúdo tinha uma boa relação com a professora, à parte os "devias de", a coisa até nem estava a correr mal e ainda faltava um período inteiro até ao fim do ano. Quem ia pagá-las, se eu dissesse alguma coisa, era o puto.

Hoje penso que se calhar fiz mal. A avaliar pela quantidade de gente que diz há-des, fizestes, não me acredito e cheira mal que estresanda, se as mães refilassem mais nas escolas às tantas a coisa melhorava e eu tinha menos dores de ouvidos, prontos.

sardinhas

Segundas sardinhas da época.

Dizem que agora é que começam a ficar boas, mas as primeiras, comidas há cerca de um mês souberam-me melhor.

É que nisto das sardinhas, se formos a ver todos os inconvenientes que as ditas trazem (pois o cheiro entranhado na roupa e nas mãos, mesmo que se seja um perito a comer peixe de garfo e faca, pois a sangria ou o vinho* que têm de acompanhar e que nos deixam com uma lazeira do pior a seguir), se formos a ver, dizia, conta muito a companhia. E naquelas de há um mês, convenhamos que a companhia foi deveras superior.

Mas, como comentei com a malta na altura, digam lá o que disserem, o melhor das sardinhas, o melhor mesmo, são os pimentos.

*gostava de saber quem foi a mente genial que pariu aquela ideia peregrina de publicitar a coca-cola junto com sardinhas. não lembra...

junho 11, 2007

o papagaio e os flamingos










Este fim-de-semana li esta história fantástica no DN.

Estavam uns ornitólogos holandeses ou dinamarqueses (não me recordo bem) todos contentes a estudar uma colónia de flamingos acabadinhos de chegar em migração ao Santuário Nacional de Aves de Djoudi, algures no Senegal, quando de repente, do meio dos pios da turba, começam a ouvir alguém que não parava de dizer "amor, amor, amor".

Intrigadíssimos com o fenómeno (até à data não se conhecem flamingos palradores), acabaram por descobrir um papagaio que, aparentemente, vivia com a colónia. Caso nunca visto, resolveram investigar a coisa, descobriram que "amor" era uma palavra portuguesa e, através da rota dos flamingos, perceberam que os bichos tinham parado no estuário do Sado.

Bom, para resumir a história, o papagaio pertencia a uma septuagenária de Setúbal que tinha comunicado o seu desaparecimento à malta que estuda a passarada lá para aquelas bandas.

Confrontada com o facto de o seu bicho ter aparecido no Senegal, a senhora sai-se com esta: "O Louro não andava o mesmo desde que o levei a ver os flamingos. Sempre foi sossegado, fazia pouco barulho, nem incomodava os vizinhos... mas depois desse dia, só dizia "amor, amor, amor". Acho que se apaixonou por uma flaminga..."

Paixão ou não, acho esta história uma delícia. Uma delícia que uma senhora leve o seu papagaio "a ver os flamingos". Uma delícia que ele diga "amor, amor". Se fosse um papagaio de taberna, que tivesse aprendido a dizer "puta que te pariu", a história perdia completamente o seu lado romântico. Uma delícia que a senhore ache que o papagaio se tenha apaixonado por uma flaminga. Com jeito, ainda conseguem fazer uns flapagaios.

Acresce que o Louro, fez aí uns 200 km por dia (2791 no total) para acompanhar os flamingos, o que parece imenso para um papagaio. Segundo a dona, tamanha energia deve-se à água das pedras que ela lhe dava, precisamente para o arrebitar.

Vou passar a aumentar o meu consumo de água das pedras, está visto.

junho 08, 2007

dedicatórias

Arrumações, estantes dum lado para o outro, limpar e voltar a alinhar os livros nas prateleiras, folheio "Tieta do Agreste" de Jorge Amado e dou com esta dedicatória:

No encerramento da fase propedêutica

Querida Teresa:

Se um prosaico quilo de "bife" custa, neste ano da graça de 1979, 280$00, o preço deste livro - tão ou mais necessário do que o bife para pessoas como tu - pode considerar-se baratíssimo.

E mesmo que o não fosse; e mesmo que, para oferecer-to neste dia em que nos dás mais uma grande alegria, eu tivesse de prescindir de bifes por largo tempo, eu oferecer-to-ia do mesmo modo.

Ficará na tua estante à espera de teus filhos que por ele um dia saberão do orgulho de um Pai, grato por ser o teu.

Sinto um nó na garganta e duas lágrimas escorrem-me pela face, deixando duas linhas limpas de pó. Bolas, pai, sinto-me zangada contigo. Porque partiste tão cedo? Sabes que me fazes falta? Fazes-me falta quando eras assim, antes de teres desistido de viver e de não teres lutado contra a tristeza que te fechou em casa e dentro de ti próprio, deixando caminho aberto para os AVC's, a arteroesclerose e as outras porcarias que ficaram nos relatórios médicos.

Ainda não consegui que o J se interessasse por Jorge Amado, mas vou continuar a tentar.

Como nós (há genes que são mesmo bons), o rapaz é um leitor, só que ainda não chegou o dia dele gostar deste escritor que eu amo e tu amavas. A seu tempo, como tudo na vida, eu sei que ele também o vai amar.

junho 07, 2007

Roubar com imaginação

A minha mãe em casa sózinha com a empregada.

Tocam à porta. Apresenta-se um rapaz, bom aspecto, exibe rapidamente um cartão e diz:

- Minha senhora, boa tarde. Sou funcionário da EDP e andamos aqui no prédio a verificar os contadores. O seu consumo de electricidade anda muito alto (atente-se nesta parte, isto toca qualquer um, certo?) e os técnicos da companhia pensam que deve haver um problema no contador.

- Mas os senhores estiveram a verificar a coluna do prédio aqui há pouco tempo...

- Ora nem mais. Foi precisamente aí que detectámos o problema (sentido de oportunidade...)
A senhora tem aí a sua factura?

A minha mãe vai buscar a factura, comenta que efectivamente anda a pagar muito, o homem entretanto já dentro de casa, porta fechada, olha a factura, diz pois, pois, começa a ver o contador, simula um telefonema para um qualquer Sr. Engº e mostra:

- A senhora está a ver aqui a roda do contador? Ora desligue lá tudo. Vê? A roda continua a rodar. Está a contar e no entanto a senhora não tem nada ligado.

De cima dos seus 82 anos e menos 10 cm do que tinha quando era nova, a minha mãe não vê nada mas diz que sim.

- Minha senhora, temos de substituir aqui uma peça. Vou ter de ir à rua comprar e tem de ser já, que é quase uma hora e as lojas depois fecham. (convenhamos que aqui, já é preciso apostar bastante na credulidade do cliente).

- Bom, então vá, esteja à vontade.

- A senhora vai ter é de me dar o dinheiro para fazer a compra.

- E quanto é?

- São entre 50 e 60 euros.

- Então vocês não trazem dinheiro? (a minha mãe começa a achar estranho)

- Não, não. A EDP não nos dá dinheiro para estes trabalhos. Tem de ser o cliente a pagar a peça na altura, isto no caso de pretender diminuir o consumo.

A minha mãe vai ao quarto, a empregada atrás: "a senhora não lhe dê o dinheiro, isto é muito esquisito".

Entre ser roubada e sujeitar-se a um tratamento menos simpático, a minha mãe opta por ser roubada. Pega em duas notas de 5 euros, volta para o pé do rapaz e mente:

- Só tenho 10 euros em casa. Não tenho mais. Mas o senhor para sair com o dinheiro tem de deixar aqui o seu cartão.

- Com certeza, minha senhora. Aqui está.

Pousa o cartão na mesinha do hall, dá mais dois dedos de conversa, distrai as duas para recolher o cartão e vai-se embora entre cumprimentos e até já's.

Isto contou-me a minha mãe hoje, desolada, dizendo que está uma velha, como é que se deixou enganar desta maneira, que já se fartou de chorar, que a cabeça já não é o que era, que foi uma parva, que o meu irmão ralhou com ela, que ligou para a EDP a contar a história e que de lá ralharam também com ela e patati e patatá.

Tentei consolá-la o melhor que pude. Disse-lhe que ninguém olha para os cartões com atenção, que ela não era com certeza a única que tinha levado o golpe, que tinha feito bem em entrar no jogo do homem mas fingindo que não tinha mais dinheiro em casa, que às tantas ele tinha fome, filhos doentes e que no fundo até tinha revelado alguma imaginação, que 10 euros não era muito comparado com uma carga de pancada e sei lá que mais.

Claro que também lhe disse que tinha tido imensa sorte ou os anjos a velarem por ela e pedi-lhe para me prometer que punha sempre a corrente antes de abrir a porta e que, em casos parecidos, pedisse para ver a identificação como deve ser e ligasse para a companhia antes de deixar entrar pessoas em casa.

Contem esta história aos vossos amigos e familiares. Nem toda a gente tem a sorte da minha mãe.

junho 06, 2007

coralidades


O meu coral actuou ontem na escola secundária Josefa de Óbidos, por ocasião das festividades organizadas pela dita. Tínhamos um convite para irmos cantar à mesma hora no CCB, ou talvez fosse na Gulbenkian (as solicitações são tantas que já me perco), mas as ligações afectivas de alguns dos membros do coro (um, para ser exacta) com esta escola, fizeram-nos declinar o outro convite e um cachet à maneira, e lá fomos para a Josefa.

Sopranos e contraltos de farda nova, que me faz lembrar Maria a aturar os sete filhos do capitão Von Trapp e o corpo masculino do coro esforçado para se equipar à altura, subimos ao palco diante de uma plateia cheia e entusiasta (a sério!).

Graças a uma amigdalite bastante oportuna, falhei uma das últimas apresentações públicas do coro por alturas do Natal, numa noite em que chovia a cântaros, mas estive presente numa outra, realizada num lar de idosos das forças armadas em Oeiras. Meninos, digo-vos que, sem desfazer da 3ª idade, pronto foi depois do jantar e tal (o jantar deles, que nós estávamos todos com a barriguita a dar horas), cantar para uma plateia de dinâmicos professores e interessados alunos é, definitivamente, outra coisa. Há muito menos gente a dormitar.

Entre palmas, gritos e pedidos de bis, aquilo mais parecia um concerto dos Rolling Stones. Juro, gostaram mesmo! Até porque no final, uma amiga minha que é lá professora, veio ter comigo para dizer: "Eh pá! Vocês são mesmo bons! Nunca pensei! E o repertório é muito original!" E eu, que não sou dada a falsas modéstias, respondi com um: "Pois somos. Mas duvidavas?"

Claro que o nosso maestro, pessoa exigente e cujo ouvido não tem nada a ver com os dos outros presentes, não foi exactamente da mesma opinião. Brindou-nos com um: "Mais ou menos, falharam todos os inícios mas conseguiram pegar logo a seguir. Podia ter sido melhor, mas não foi mau". Esclareça-se que isto, dito por aquele homem, "não é mau".

O que me interessa é que a malta gostou, nós gostámos, e toda a gente ficou contente.

Digo-vos: este coro vai fazer dois anos em Outubro; estamos no princípio, portanto; preparem-se, pois o Coral Paradoxal, vai dar que falar!

Vá lá, Gonçalo, o maestro gravou aquilo. Põe o filmezito na net, que eu depois deixo aqui um link.