janeiro 05, 2007

Desenho de Movimento

Outubro 2006


Desde que me lembro de ser gente que gosto de fazer desenhos. Infelizmente, Deus, ou mais provavelmente o código genético que me foi legado pelos meus pais, não me dotaram com o talento correspondente ao prazer que tenho em desenhar. Rabisco sempre que posso. Na toalha de mesa do restaurante, na sala de espera do consultório, em entediantes reuniões que não acabam, no comboio, no avião. Os resultados não são propriamente assustadores, mas estão longe de interessar quem quer que seja para além de mim própria e, mesmo a mim, satisfazem muito pouco.

Novembro 2006
De forma que este ano concretizei finalmente um desejo já antigo e inscrevi-me no curso de desenho da SNBA.

O programa é rígido, o grau de liberdade praticamente nulo. Logo na primeira sessão somos convidados a esquecer tudo o que fizemos antes, todos os conceitos e preconceitos relativos ao
desenho e abrir a cabeça à abordagem que nos é proposta.

As sessões são de duas horas, invariavelmente de modelo nu. A primeira parte consiste sempre num “aquecimento” que dura cerca de 20 minutos. Durante esse tempo o exercício é sempre o mesmo: “desenho de movimento”. Isto significa que o modelo se move continua e rapidamente e ao aprendiz de desenhador cabe captar um momento, fixá-lo na memória e desenhá-lo num minuto, dando a ideia de movimento. O lápis deve correr solto pelo papel numa única linha contínua, ora mais leve, ora mais pesada, evitando seguir os contornos da figura.

Janeiro 2007
Em dois meses sinto que já fiz progressos. Os primeiros desenhos, carregados de linhas que se repetem, tornam-se agora mais leves e mais expressivos, a mão trabalha mais solta, as imagens fixam-se melhor na memória.

Mas, acima de tudo, nestas duas idas semanais à SNBA, por pior que tenha sido o meu dia, por mais preocupações que tenha, naquelas duas horas liberto a cabeça de tudo o resto, concentro-me na folha branca à minha frente onde aos poucos se vão delineando as formas, ouço no silêncio da sala apenas o riscar dos lápis, mais suaves, mais vigorosos, consoante as posições que o modelo vai tomando nos inspiram.


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