abril 02, 2007

Peso, contorno cego, estudo prolongado, panejamento


Aqui há uns tempos falei das minhas aulas de desenho na SNBA.

Os progressos são lentos, o trabalho árduo e as duas horas sempre insuficientes para responder aos exercícios propostos com algo que não nos faça enfiar a cabeça na areia de vergonha.

A coisa fica automaticamente resolvida dada a escassez de areia na sala de aula, de maneira que não há outro remédio senão continuar em frente de cara alegre.

Com o primeiro exercício proposto, este aqui ao lado, devemos transmitir a sensação de peso e volume no desenho, imaginando que o estamos a fazer como se se tratasse de uma peça de barro. Partindo do eixo da figura, do "cerne" como dizem os professores (neste caso a coluna vertebral da menina) para o exterior, vamos largando a cera no papel, do centro para fora, sem nunca desenhar o contorno. O resultado é um borrão preto, como se pode facilmente constatar.

Os exercícios seguintes são de contorno. Podem ser de contorno cego rápido de 5 minutos (como os aqui em baixo) em que os olhos seguem o contorno da figura e o lápis desenha no papel sem que o nosso olhar largue a figura a não ser no fim de cada linha. Aí, dá para olhar para o papel, ver o desatre e tentar iniciar a linha seguinte num ponto que não esteja muito errado. Em alternativa há o contorno não cego ou o contorno lento (20 minutos). Gosto mais dos cegos e rápidos, não só porque resultam em verdadeiros ET's, como porque temos sempre a desculpa de dizer: Ok, não está assim muito parecido, mas foi feito sem olhar e em 5 minutos! O uso de borracha é, obviamente, muitíssimo mal visto e objecto de duras críticas, ou seja, não se pode usar mesmo.



A seguir passamos para o estudo prolongado, primeiro sem medidas, depois com medidas. No primeiro caso o que devemos fazer é, basicamente, tentar desenhar o melhor possível e mais próximo da realidade aquilo que vemos.


No segundo, utilizamos o braço esticado, o lápis como referência de medida na mão do braço esticado e só um olho para tentar perceber quantas cabeças cabem na perna, qual o ângulo que o tronco faz com a vertical, enfim uma trapalhada (eu cá preferia usar uma fita métrica e ir medir a menina, mas não se pode). O resultado final não é, pelo menos no meu caso, substancialmente diferente do estudo sem medidas...

Depois de algumas variações sobre este tema eis que temos de dar volume à coisa. O modelo é iluminado e compete-nos aclarar as zonas mais próximas da luz e escurecer as que ficam mais longe. Isto faz-se inicialmente com o modelo completo e depois com partes do modelo à nossa escolha, com cera ou tinta e aparo. Embora fique sempre com os dedos cheios de tinta que demora dias a sair, optei quase sempre por este método dado que o que consegui fazer com a cera, bom, o melhor é falar de outra coisa.

E pronto, nas últimas 4 aulas antes da Páscoa, dedicámo-nos ao estudo da prega ou seja, estivémos a desenhar panos pendurados na parede. Uma das vantagens é que o pano, contrariamente ao modelo (eles bem que se esforçam mas poses de 50 minutos...), não se mexe.

A desvantagem é que ao fim de 4 sessões já não se aguentam os panos. Significa também que, agora que vem aí o calor, é que os modelos se vão vestir depois de terem rapado frio no inverno. Enfim, tudo ao contrário.

Ah! A título meramente informativo, cada um destes desenhos é feito em folhas com uma dimensão próxima do A1 que devem ser usadas na totalidade. E pronto, no fim do ano lectivo, senão estiver com a cabeça na areia, conto o resto.



5 comentários:

gir@f disse...

Estes foram feitos por ti???
Eu sou uma completa ignorante na materia, mas acho que estão optimos, tens muito jeito.
Tenho 2 grandes desgostos: 1 nao ter jeito para desenhar, outro
para cantar. Pronto, sei tocar....não se pode ter tudo.
bjokas

Anónimo disse...

Works in progress

tcl disse...

Obrigada Mafalda és muito simpática, mas os desenhos não estão nada de especial. De qualquer forma muito melhor que no início, ou seja: tudo se aprende, desde que haja vontade. Depois claro que há o talento, mas isso ou se tem ou não se tem. Eu não tenho. Mas com a aprendizagem da técnica dá para ir melhorando. Quanto ao canto, eu também não sei cantar bem, mas lá está, tudo se aprende. Então canto aqui vê: coralparadoxal.blogspot.com.
No meio dos outros lá vou afinando, mas se tivesse de cantar sózinha, outra vez cabeça na areia! Beijos e as tuas melhoras (e porta-te bem com as enfermeiras ;-) )

gir@f disse...

A humildade é uma qualidade que aprecio muito nas pessoas.
Tens talento sim.
Eu tive aulas de desenho na escola e para desespero do professor ( e meu!!!) nem um risco direito conseguia fazer....
Tive aulas de musica durante uns anos, tinhamos também aulas de teoria em que cantarolavamos as pautas e escalas.....
Cada vez que abria as goelas a senhora ate se benzia

Anónimo disse...

anaparga wrote on Apr 13
Teresa, que boa iniciativa a sua! E acho que você tem um bom traço: veja só aquele homem sentado, com o braço sobre o joelho! Vá em frente! Mas o melhor de tudo é o prazer que a gente tem ao fazer o que se gosta, né?