março 29, 2009

vida própria

Proposta de trabalho:

1 - Produzir uma curta metragem em vídeo com cerca de 5 minutos;

2 - Tema do argumento: dois personagens devem encontrar-se para trocarem algo (objecto, informação) mas um terceiro elemento dificulta o encontro e impede a troca;

3 - Premissas da realização: os takes devem ser se movimentos de câmara e filmados em, pelo menos 3 casas/locais diferentes, mas de forma a que isso não seja óbvio para o espectador, que deve entender que a acção se desenrola sempre no mesmo ambiente.

Resultado:



O J teve esta ideia, filmou em 4 casas de familiares e, com os meios e conhecimentos próprios do seu 1º ano de faculdade, apresentou este trabalho. O professor da cadeira disse que parecia um filme da série Z, ao que o J retorquiu que, efectivamente, com os meios que ele e o seu grupo de trabalho tinham ao seu dispor, não poderia ser outra coisa.

O filme foi exibido pelo professor nas outras turmas, como exemplo de um trabalho bem conseguido. O meu rebento ficou contente e aqui a mãe, também.

março 25, 2009

tu

diz-me se
és tu
aí tão cru
a ir embora

que em mim
te senti
tão nu
no aqui
agora

março 23, 2009

José Mourinho

Hoje, almoço tardio, televisão ligada ali na tasca, assisti a parte da sessão solene do doutoramento honoris causa concedido pela UTL a José Mourinho, pela excelência da sua carreira.

Não há dúvida que o homem merece, só acumula sucessos.

Vai daí lembrei-me de outro José, o Sócrates e pensei se haveria alguma escola superior com tanta falta de doutorados que resolvesse conceder a mesma honra ao actual primeiro ministro. Não me parece. Realmente, o homem só acumula desgraças.

Vejamos então as qualidades de Mourinho: lider nato, inteligente, organizado, estratega, ganhador, gestor de milhões (os seus). Ainda por cima, giro que se farta, digo eu.

Então não era mesmo disto que precisávamos para governar o país? Talvez ainda ganhássemos uns ministros com umas pernas bem musculadas. De qualquer forma, a malta já só pensa em futebol... É por isso que proponho:

Mourinho a primeiro ministro, já!

março 20, 2009

just before I go to sleep

"I love you so much, mother...", he said.

:-) :-) :-) :-) :-) :-)

março 19, 2009

leve

Aos poucos, de forma directa ou enviesada, ele tinha-me dado as coordenadas da sua casa. Sem me ter dito exactamente onde passava os seus dias solitários e as suas noites mal dormidas, falara-me da vila, das lojas próximas, do bairro de ruas estreitas e sinuosas do lugar.

Numa noite de insónias como tantas outras, pus-me a caminho. Não era longe. Depois de sair da estrada principal em direcção à vila, encontrei o bairro com facilidade e percorri meticulosamente todas as ruelas que serpenteavam em casinhas de um lado e de outro até que, finalmente, vi o carro que tão bem conhecia estacionado em frente a uma casa onde no quintal as árvores de que ele me tinha falado confraternizavam com a cadeira de baloiço no alpendre. Estacionei depois de uma curva da rua, onde dificilmente daria por mim, mesmo que viesse apanhar o ar da noite a uma das janelas abertas e iluminadas, interrompendo o andarilhar de dedos em músicas que eu sabia que ele tocava e que agora ouvia pela primeira vez.

Fiquei assim por muito tempo, embalada pelas notas que saiam da janela, sentada de olhos fechados, ganhando coragem para um telefonema, uma sms estou aqui à tua porta, queres abri-la para mim?. Peguei no telemóvel, hesitante, e quando ia começar a escrever as primeiras letras, a música parou e vi a silhueta dele que se aproximava da janela e a fechava.

Larguei o telemóvel e fiquei de olhos perdidos na janela fechada, a sentir na carne os beijos quentes e os abraços que fugiam, a lembrar o beijo trocado ao de leve (tão leve) meses atrás, um simples roçar de lábios num encontro fugaz numa rua de Lisboa.

As luzes apagaram-se dentro da janela fechada. Lambi a lágrima salgada que me escorreu pela aba do nariz e me pousou no lábio superior. Liguei o motor do carro e desci a rua devagarinho. À porta dele não abrandei e segui em frente.

Nunca seria capaz.

março 17, 2009

de noite todos os gatos são pardos

Ontem, noite já avançada, em conversa de msn, cujo teor o pudor me impede de revelar, o Ervi, homem pródigo em máximas, sai-se com esta:

"De noite todos os gajos são parcos"

No teclado, o c fica ao lado do v e ele frisou que queria mesmo dizer "parvos".

Eu acho que estes lapsos tecladais não são por acaso, e "parcos" parece-me muito melhor.

No entanto, se formos a pensar em que, exactamente, são eles parcos, a coisa de dia é bem pior.

março 15, 2009

crisis what crisis

Há temas que me são avessos. Uns sempre, como doenças e pessoas do jet-set e outros que dependem da conjuntura. Em todo o caso, são assuntos que me enervam e que ignoro, tentando fugir deles.

O tema que agora me é avesso é "a crise". Tenho andado naquela de "eu sei que isto é mesmo muito grave e real, mas não quero falar disso que me assusta". Então, não falo, não penso, embundo* a coisa. Até chegar àquele ponto em que não dá mais. E esse foi agora quando, depois de ter andado durante uns mesitos com a sensação de que gastava mais do que ganhava, acabei por ter a sensação a transformar-se em quase certezinha.

Ao fim de uns 20 anos, repito o que fiz durante um tempo quando me tornei independente e tinha de controlar bem os meus tostões. A única coisa que mudou foi que do papel quadriculado e da máquina de calcular, passei para uma folhinha excel onde tenho os dias em linhas e, em colunas, as minhas despesas divididas por géneros.

A ver se percebo onde andam os excessos (mas quais excessos, porra?) e onde posso, tenho, de cortar...

Que cena do caneco, voltei à juventude, só é pena não me desaparecerem as rugas...


*aprendido aqui

poemas ao sábado #8

Um dia branco

Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber.


Sophia de Mello Breyner Andresen

verão...

... mesmo temporão como este que se instalou antes de a primavera chegar no calendário, é:

roupa branca leve e sandálias nos pés.

yes!

março 13, 2009

guitarras

quando dedilham guitarras
em choros prantos lamentos
ao ritmo que cresce nos dedos
como em asas de cigarras

bate o coração que canta
no peito e mãos, no corpo todo
até se soltar o grito
abafado na garganta

março 10, 2009

l'homme sans ombre

Será que estamos a ficar velhos quando começamos a aprender coisas com os nossos filhos? E não, não me refiro àquela cena de aprender com os erros a educá-los e blábláblá. Falo em aprender mesmo à séria, quando a coisa se começa a inverter nos jantares e são eles que nos ensinam ou mostram coisas que não sabíamos ou não conhecíamos? Bom, não sei a resposta e, de qualquer forma não me sinto nem um tico velha; para já, estou a gostar da troca de papeis que volta e meia vivemos aqui em casa e agrada-me a resposta que tenho quando, ao constatar que a informação que estou a receber não vem da escola, pergunto:

- mas onde é que tu aprendeste isso tudo?
- é que eu leio coisas, sabes?

Bom, adiante. Hoje o meu filho foi à monstra ver quinze curtas de (tenho de copiar o nome) Georges Schwizgebel. Não conhecia, eu. Ele, o filho, gostou muito e, chegando a casa, mostrou-me esta:



Giro, não é? Para além da estória, que tem interesse, piada, sumo, o que quiserem, atente-se no efeito de movimento de câmara. Eu gosto de animação, mas confesso que não percebo nada da coisa. Gosto e é tudo. Mas parece-me que este virtuosismo de "movimento de câmara" não é muito frequente, pelo menos no pequeno universo do que conheço. E, neste filme, esse movimento é muito bem potenciado pelo das sombras. Muito interessante, digo eu que, como já referi, não percebo um caracol de cinema de animação.

Claro que este filme daria para falar de coisas mais profundas como "nós e as sombras que também somos" ou "sombras que nos precedem, nos perseguem, mas sempre nos acompanham" ou "o lugar que sempre tem no mundo quem é diferente", mas isso são outros carnavais.

Para já, estou feliz por ter sabido da existência deste Georges Schwizgebel. Acho que vou procurar mais uns filmes no tubo.

março 09, 2009

tempos in úteis

É verdade, como te disse, que me canso de mim assim como sou. Canso-me de mim a querer fazer tanta coisa e no final a não fazer nada. Como se tivesse um caderno em que fosse preenchendo as folhas com listas, cronogramas, diagramas com bolas, losangos, quadrados e muitas setas. E uma vez esse caderno acabado, preencheria outro e mais outro, até ter uma prateleira inteira cheia de cadernos bem alinhados, e mais nada, sempre muito pouco mais que nada.

Canso-me de mim assim como sou. De gastar o tempo com inutilidades como sentar-me ali fora na varanda, pés apoiados no varandim a medir a cidade a palmo. Dois palmos da torre da basílica até ao topo do pilar da ponte, meio palmo daí até ao Cristo-Rei e, de lá a Cacilhas, três palmos bem medidos. E quando já não há nada que me interesse medir a palmo, conto quantos barcos passam no meu pedaço de rio em meia-hora, quantos aviões no meu pedaço de céu ou, se calha o tempo trazer as gaivotas até cá acima, tento contá-las sem repetir nenhuma.

No fim do dia, conto quantas coisas não fiz das que queria ter feito.

Lá no fundo, gosto dos tempos inúteis, fazem-me sentir dona de todo o tempo do mundo. Mesmo assim, canso-me de mim assim como sou.

março 07, 2009

a quinta frase

E, num relance, o Pedro propõe-me o seguinte:

1 - Agarrar o livro mais próximo
2 - Abrir na pág. 161
3 - Procurar a quinta frase completa
4 - Colocar a frase no blog
5 - Indicar 5 pessoas para continuar a tarefa

Ora os livros que leio de momento estão lá na mesa de cabeceira. Não são os mais próximos. Esses estão aqui na estante atrás de mim. Pezinhos no chão e faço rodar a cadeira até chegar à estante. Estico o braço e tiro um às cegas.

Humm... "Diários de Viagem - desenhos do quotidiano" de Eduardo Salavisa. Com sorte, talvez a pág. 161 seja de texto. Pois,


não é.

Tentemos de novo: "Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade", selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria. Pág. 161, 5ª frase completa. Para mim, mulher de ciências, em poesia é bem mais complicado separar frases. Aliás, nem vejo o interesse. Mas foi o que saíu. Julgo que esta estrofe é apenas uma frase (serão duas?) e sendo uma, parece-me ser a 5ª (podia ter-me saído um romance, não era?). Então é assim:

"Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti."

Lindo. De Alexandre O'Neill "Um adeus português"

E os cinco a quem encomendo a mesma tarefa:

Ana
Maria V
Huck
Pedro
PKB

março 06, 2009

lingerie


Recebi um e-mail com esta foto que dizia "eu quero ir aos saldos da Rua de Santo António". Isto é no Porto, certo?

À velocidade a que as coisas se espalham na net, mesmo que apanhe o Alfa Pendular, chego lá e deve haver uma fila enorme, não?

março 04, 2009

andamos a brincar?

Será normal um miúdo começar as aulas do 2º semestre do seu 1º ano de faculdade sem saber as notas que teve no 1º semestre?

Será normal um miúdo começar as aulas do 2º semestre do seu 1º ano de faculdade sem saber as notas que teve no 1º semestre e chegar à escola e constatar que os horários que andou diariamente a verificar online durante as férias continuam com 3 aulas de 3 cadeiras diferentes à mesma hora?

Será normal um miúdo começar as aulas do 2º semestre do seu 1º ano de faculdade sem saber as notas que teve no 1º semestre, chegar à escola e constatar que os horários que andou diariamente a verificar online continuam com 3 aulas de 3 cadeiras diferentes à mesma hora e não conseguir mais do que um comentário de um professor: "ah pois, esta escola é a que tem o melhor equipamento da península ibérica mas só conta com uma pessoa para fazer os horários do curso todo e depois acontecem estas coisas"?

Será normal um miúdo começar as aulas do 2º semestre do seu 1º ano de faculdade sem saber as notas que teve no 1º semestre, chegar à escola e constatar que os horários que andou diariamente a verificar online continuam com 3 aulas de 3 cadeiras diferentes à mesma hora, não conseguir mais do que um comentário de um professor: "ah pois, esta escola é a que tem o melhor equipamento da península ibérica mas só conta com uma pessoa para fazer os horários do curso todo e depois acontecem estas coisas" e os pais desse miúdo estarem a pagar uma pipa de massa de mensalidade e terem pago outra pipa de massa de propinas?

Pois eu não acho normal e, sem saber, quase que arriscaria a jurar que isto não se passa nas universidades públicas. Ou será que se passa?

Começo a perceber porque é que chamam àquilo chulófona.

dos lábios desejo

Ai lábios de beijo
de tanto desejo
carnudos morangos
de sumo a escorrer
macias cerejas
doces de mel

teus lábios de anjo
minha maldição
sonhos inquietos
de olhos abertos
ai perdição

nu


bifurcações
angulosidades
rectas
agudas
obtusas
por vezes rasas
nunca completas

rugoso de velho
forte é o tronco
quase aprumado
quase

fuste de embuste
que me diverges
em mil linhas
rendilhando céus

março 02, 2009

teaching little fingers to play

Com muita pena minha, nunca aprendi a tocar piano mais do que o que seria possível num ano de tardes de sábado quando ainda andava na escola primária. Tinha aulas de piano e solfejo com mais uns quantos miúdos e o tempo livre de instrumento para cada um era escasso.

As aulas foram decorrendo até chegar o dia em que a professora me disse que eu tinha de praticar em casa, quando não, não era possível fazer grandes progressos. Os meus pais eram funcionários públicos o que, naquele tempo, significava viver com os tostões contados sem grandes hipóteses de extras, de forma que quando pedi um piano não tive sorte nenhuma... A professora ainda insistiu um pouco, primeiro comigo, depois com a minha mãe e, quando viu que dali não vinha piano nenhum deixou de me dar a mesma atenção. É curioso como só agora que penso nisso, me apercebo como a coisa foi deliberadamente feita para que eu, e os outros nas minhas condições, acabássemos por desistir. Lembro-me de me sentir mal nas aulas porque não avançava como os outros miúdos que tinham possibilidade de tocar em casa e de passar a pertencer ao grupo dos atrasados. Havia aulas em que já só fazíamos o solfejo e não havia tempo de piano para nós.

Tive muita, muita pena mas nunca devo ter deixado transparecer isso, pois quando aqui há tempos conversava com a minha mãe sobre as coisas boas e más que recordava da minha infância e referi a história do piano, ela ficou admiradíssima e ainda me disse que, se ela e o meu pai tivessem percebido, teriam feito o esforço de comprar um. Devia ter feito um berreiro... Não devia nada, coitados dos meus pais.

Bom, uns valentes anos mais tarde, quando já andava na faculdade e namorava o pai do meu filho, a irmã dele que terminara o curso há pouco e tinha começado a trabalhar, resolveu alugar um piano vertical a meias com um amigo e retomar as aulas que também tinha largado em miúda. Claro está que, nessa altura, nós os dois também quisemos usufruir do dito. O piano foi colocado no quarto de costura e engomados e, para desespero dos meus sogros, passávamos os quatro serões intermináveis à volta do piano, primeiro matraqueando musiquinhas infantis e, mais tarde, os dois irmãos, ela com aulas e ele com talento, arriscando passagens de ragtime que tiravam de ouvido dos discos do Scott Joplin.

Por falta de aulas, de tempo ou de talento, nem eu nem o amigo que pagava metade do aluguer passámos da edição da altura, deste livrinho:


Mas um dia destes ainda arranjo um piano e volto a tentar que, nestas coisas, não deve haver duas sem três.

março 01, 2009

sherlock holmes

Li aqui há dias no jornal uma reportagem sobre o negócio dos detectives privados e aquilo para que são mais chamados.

Casos de adultério - óbvio. Adultério é coisa tão velha como o casamento, pelo menos, e a dor de corno não passa com aspirinas. Para os amantes de vinganças, para os defensores do seu património e para os que querem sacar o do cônjuge, os serviços de um detective privado serão sempre bem vindos.

Reforçar as polícias públicas - Em épocas de crise dá sempre jeito uma mãozinha extra e as polícias recorrem por vezes a serviços de privados.

Vigiar os filhos - esta foi para mim uma enorme surpresa. Imagine-se que há pais por aí que contratam detectives privados para seguir os filhos. Para saber onde vão à noite. Para saber se bebem ou se consomem drogas. Para saber quem são os amigos. A vigilância é feita através de câmaras escondidas nos quartos, por perseguição, por garotos contratados que se infiltram nos grupos e relatam o que se passa à agência de detectives, por software inserido nos computadores e nos telemóveis que permite aos pais ler mensagens, correio e conversas no messenger.

Não sei se isto é legal nem tão pouco me interessa. O que me espanta e entristece é verificar a que ponto chegou a falta de comunicação entre pais e filhos. A total incompreensão. A falta de vergonha de recorrer a estes meios, de devassar a intimidade dos miúdos, simplesmente por incompetência de chegar a eles da forma mais óbvia: conversando, perguntando, conhecendo, sendo amigo e cúmplice.

Como dizia uma professora de francês que tive no liceu, quando a turma saía dos eixos: eu pasmo, pasmo, pasmo.