A minha avó assistiu ao milagre de Fátima quando tinha 17 anos e, talvez em consequência disso, era uma pessoa profundamente crente e religiosa, aliás como todos os meus ascendentes a partir do 2º grau, que eram ali da zona e alguns aparecem até em várias fotografias da época com os pastorinhos.
Quando eu era miúda passava o mês de Setembro em casa da minha avó, onde ela e a minha tia solteira tentavam dar-me a educação religiosa que eu não recebia em casa dos meus pais, sem grande sucesso, diga-se desde já. O meu pai era profundamente anti-clerical, tinha lá o seu Deus interior, e condescendera apenas no baptismo após muita insistência das famílias. Eu, filha do pai, papagueava o seu discurso e resistia heroicamente aos esforços de avó e tia que me empurravam às escondidas para a catequese na esperança de que eu viesse um dia a fazer a 1ª comunhão. Nunca a fiz (não sei se conta aquela vez num acampamento de guias em que tive vergonha de recusar a hóstia numa missa campal e lá abri a boca e estiquei a língua).
Embora a minha avó tenha morrido quando eu tinha 13 anos, lembro-me bem da conversa que tínhamos de cada vez que ela me contava como tinha sido o milagre, no qual ela cria de alma e coração, tanto mais que quando a minha mãe engravidou de mim, e por ter perdido uma criança antes, eu fui devidamente encomendada à Senhora de Fátima e, com tanta oração, vim a nascer no dia 13 de Maio, cheia de saúde e rosada como uma flor.
Convém esclarecer que a minha avó era uma pessoa instruída, professora primária, lia bastante, enfim, um bocadinho mais que minimamente esclarecida. Então, resumidamente, a conversa era assim:
- e, de repente, o Sol começou a girar no céu muito depressa, aproximou-se da terra descendo, ficou assim um bocado e voltou a subir. Eu vi. Com os meus olhos. E os milhares de pessoas que lá estavam também viram.
- ó vó, mas a avó sabe que isso não é possível. Se o Sol descesse à Terra, tínhamos morrido todos, era o fim do planeta.
- Precisamente. Por não ser possível e mesmo assim ter acontecido e, tendo acontecido não ter sido o fim do planeta é que se pode dizer que foi um milagre.
Era sempre aqui que eu ficava sem resposta. Contra factos não há argumentos. Caiam por terra as minhas hipóteses de sugestão colectiva, de cometas e sei lá que mais, perante tamanha lógica.
Continuo a não acreditar no milagre de Fátima. Mas adoro esta resposta da minha avó.
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Quando eu era miúda passava o mês de Setembro em casa da minha avó, onde ela e a minha tia solteira tentavam dar-me a educação religiosa que eu não recebia em casa dos meus pais, sem grande sucesso, diga-se desde já. O meu pai era profundamente anti-clerical, tinha lá o seu Deus interior, e condescendera apenas no baptismo após muita insistência das famílias. Eu, filha do pai, papagueava o seu discurso e resistia heroicamente aos esforços de avó e tia que me empurravam às escondidas para a catequese na esperança de que eu viesse um dia a fazer a 1ª comunhão. Nunca a fiz (não sei se conta aquela vez num acampamento de guias em que tive vergonha de recusar a hóstia numa missa campal e lá abri a boca e estiquei a língua).
Embora a minha avó tenha morrido quando eu tinha 13 anos, lembro-me bem da conversa que tínhamos de cada vez que ela me contava como tinha sido o milagre, no qual ela cria de alma e coração, tanto mais que quando a minha mãe engravidou de mim, e por ter perdido uma criança antes, eu fui devidamente encomendada à Senhora de Fátima e, com tanta oração, vim a nascer no dia 13 de Maio, cheia de saúde e rosada como uma flor.
Convém esclarecer que a minha avó era uma pessoa instruída, professora primária, lia bastante, enfim, um bocadinho mais que minimamente esclarecida. Então, resumidamente, a conversa era assim:
- e, de repente, o Sol começou a girar no céu muito depressa, aproximou-se da terra descendo, ficou assim um bocado e voltou a subir. Eu vi. Com os meus olhos. E os milhares de pessoas que lá estavam também viram.
- ó vó, mas a avó sabe que isso não é possível. Se o Sol descesse à Terra, tínhamos morrido todos, era o fim do planeta.
- Precisamente. Por não ser possível e mesmo assim ter acontecido e, tendo acontecido não ter sido o fim do planeta é que se pode dizer que foi um milagre.
Era sempre aqui que eu ficava sem resposta. Contra factos não há argumentos. Caiam por terra as minhas hipóteses de sugestão colectiva, de cometas e sei lá que mais, perante tamanha lógica.
Continuo a não acreditar no milagre de Fátima. Mas adoro esta resposta da minha avó.
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5 comentários:
Tás a ver? Contra factos não há argumentos nem há nada como realmente.
Mesmo assim não te puseram maria de fátima.
greaças à minha querida mãezinha que trocou um Ana por um Maria para fazer meia vontade à minha avó
Uma história maravilhosa...
antes de mais....
fui a 5000 mil
a minha prenda? (...como podes ver, ainda acredito em milagres)
SIC o que se passou com quatro (!) tias-avós minhas. Também estavam lá, também viram e os argumentos eram rigorosamente os mesmos. Milagre ou ilusão colectiva? 1 chocolate para quem acertar!
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