outubro 23, 2007

Independência canina


Adoptei o Biskit há 5 anos no Algarve. Tinha sido apanhado na rua e salvo de uma morte certa ou de uma desgraçada vida de cão pela família que me alugava a casa e que, por já ter feito o mesmo a uns quantos cães e gatos, me implorou que o trouxesse.

Contra a vontade do agora meu vizinho, mas rendida àquele olhar de bambi, lá o trouxe, miserável, fraco de pernas, completamente carente de afectos e cheio de medos.

O meu filho baptizou-o em homenagem a uma banda de música duvidosa chamada Limp Biskit, vencendo o meu vizinho que lhe queria chamar Napoleon, só pelo ridículo da coisa. Em casa tem os diminutivos de Biscas e Biscoito e na vizinhança chamam-lhe várias coisas entre Whiskas, Whisky, Biscuit e sei lá que mais.

A única condição que lhe pus no processo de adopção foi a seguinte:

meu caro amigo, salvei-te de uma existência mais do que manhosa, por isso tens de fazer pela vida. se queres cama, mesa e roupa lavada, não me percas de vista que eu não estou para andar atrás de ti nem contigo na ponta de uma trela.

Acho que ele percebeu pois nos primeiros tempos não se afastava de mim mais do que 10 cm. Eu andava às voltas, fazia oitos, corria, parava, avançava, recuava e o cão sempre colado às minhas pernas.

À medida que cresceu foi-se tornando cada vez mais independente a este ponto:

- no ano passado, quando cheguei à ilha nas férias, partiu à desfilada para a casa de uns amigos para onde eu costumava ir em vez de me seguir para a casa nova que ele não conhecia. Como demorei um bocado a aparecer deve ter pensado que eu me tinha ido embora sem ele. Acabei por ter de ir buscá-lo a terra onde me esperava pacientemente no cais, depois de ter feito 3 viagens para lá e para cá sem pagar, conforme me contou depois o marinheiro de serviço.

- nas férias deste ano, um dia desapareceu por volta das 8 da noite e só regressou às 2 da manhã. podia ter dormido na rua, não é? Pois ladrou até me acordar, porque queria vir para dentro de casa.

- De manhã quando vou tomar o pequeno almoço ao café, ele vai à vida dele. Sabe perfeitamente que eu fico lá cerca de 15 minutos. pois já por várias vezes tive de ficar à espera de sua excelência mais de meia hora e hoje, quando saí para jantar, estava a ver que tinha de deixar a chave na porteira, pois demorou-se quase uma hora na rua.

Sim, porque com esta esperteza toda, ainda não aprendeu a entrar pela porta de serviço que está quase sempre aberta durante o dia, a subir as escadas e a sentar-se no tapete à espera que eu chegue.

Põe-se a ladrar feito parvo lá em baixo, até que eu o ouça e lhe vá abrir a porta para o subir no elevador.

Não sei se lhe dê as chaves de casa ou se lhe compre um escadote para ele chegar à campainha da porta e ao botão do elevador.

5 comentários:

Pitx disse...

a banda que provavelmente o teu filho gosta são os limp bizkit (para os mais íntimos, bolacha mole).

vale?

(não te exijo que saibas escrever correctamente o nome duma banda dos anos 90/00, mas não te perdoarei se, sei lá, não souberes como é que se escreve led... é com dois pês ou com dois éles?

humm, não sabes?

bom, então e o paulo cont... é com é ou com i?

ahhh, vês? este já sabes.

vês a diferença?)

tcl disse...

obrigada pela correcção Pitx, mas o cão ficou Biskit, com s mesmo...

O Paulo Cont? Não é Paulo, mas sim Paolo Conte!

o zepelim tem dois pês e um nê no fim, essa até eu!

:-)

Anónimo disse...

Também podes dar um telemóvel ao Biskit (afinal deve haver miúdos de 5 anos com telemóvel, ou ainda não?!) e ele, em vez de ficar a gritar lá em abaixo à espera que o ouçam, dá-te um toque e tu vais buscá-lo. A cena do escadote parece-me menos prática, e não me parece que já tenha idade para ter chave de casa, não achas?
Bjs
Rosarinho

Alf disse...

Eu tenho aqui um que se lhe deixasse a porta aberta nunca mais o via.

Ou melhor, ouviria falar dele. Das tragédias que haveria de causar por aí...

Mad disse...

Delicioso. Também sou doida por tudo o que tem pelo (salvo seja).