agosto 27, 2007

voando por aí

A propósito de um comentário que este rapaz me deixou aqui, lembrei-me de dois episódios que fizeram com que hoje em dia já não me suem as mãos quando tenho de andar de avião.

O primeiro foi já há uns anos valentes, no Egipto. Não sei se as coisas ainda são assim, mas quando eu fui, quem chegava a Assuão e queria ir visitar Abu Simbel, que fica aí a uns bons 300 km, tinha de ir num avião que funcionava mais ou menos como um autocarro de parque de diversões, ou seja, estava lá paradinho na pista, até encher. Quando a lotação estava esgotada, ala para Abu Simbel. Lá chegado, largava os turistas, enchia com os que já tinham visitado o sítio e voltava para trás.

Até aqui tudo bem. O pior é que assim que aquilo levantou, as portas dos compartimentos das bagagens abriram-se logo, deixando à mostra os forros da fuselagem rotos, com esponja a sair e tudo com ar de que já não via nem uma barrela nem uma chave de parafusos há algum tempo. Deram-nos um suminho de lata para distrair e eu resolvi que, se tinha de morrer naquele dia, mais valia apreciar a paisagem que, diga-se de passagem é fantástica - deserto e a albufeira de Assuão - de cair para o lado!

O outro voo digno de nota foi quando fiz esta viagem. Larguei o transiberiano em Irkutzk para apanhar o avião para Ulan Bator. Aqui a coisa tinha um ar sério. Aeroporto, formalidades de embarque para outro país, check-in, despachar as malas, tudo normalíssimo. Quando cheguei à pista, a pé pois então, deparo-me com uma coisa igual a esta


das Linhas Aéreas da Mongólia: o fantástico Antonov AN26-100, máquina voadora a hélices, com 42 lugares apertadinhos (2 lugarinhos, uma coxia estreitinha, dois lugarinhos). Está visto que a minha vontade foi dizer, ok então divirtam-se que eu fico aqui por Irkutsk. Mas lá fui, né? O mais engraçado é que depois de ter despachado as malas, descobri que afinal o tapete rolante só atravessava a parede do edifício, que a pista era logo ali, o avião também e, quando subi os 5 ou 6 degraus do escadote para entrar no avião e lá dentro olhei para a direita (para o rabo do dito) o que é que eu vejo? Pois vejo as malitas dos 42 inconscientes que se meteram naquela coisa, todas postas de qualquer maneira umas em cima das outras, sem cinto de segurança nem rede. Só pensava quando é que o avião ia apanhar um poço de ar e as malas vinham todas parar cá à frente, porque entre os passageiros e as bagagens só havia uma cortininha. À parte este receio, perfeitamente (in)justificável e o barulho insuportável das hélices, a coisa nem correu mal de todo. O comissário de bordo até nos serviu uma sandosca sobre um belo guardanapo de algodão branco para pôr sobre os joelhos.

Quais tabuleiros, quais mesinhas! Guardanapo no colo e tá a andar!

4 comentários:

Gonçalves disse...

Ah, mas também suavas.
Pronto, correu-te bem a terapia.
"(...)e eu resolvi que, se tinha de morrer naquele dia, mais valia apreciar a paisagem(...)
Aqui está a diferença, eu não consigo pensar assim. Vejo perigo e passageiros suspeitos, capazes de trazerem granadas à cintura, enfim. Acho que o trauma reside na minha cabeça desde que fui à Madeira em 77. O avião da tap que nos levou para lá, caíu 2 ou 3 semanas depois, aliás o único até agora, o que é bom sinal para a (ainda)nossa companhia aérea. Foi um anúncio, um prenúncio, um abrenúncio, sei lá. Deixou-me acagaçado pronto.

tcl disse...

suava, suava, mas nunca pensei em terroristas, é mais medo que aquilo caia (ainda hoje tenho, claro, mas controlo-me na boa)

curiosamente, o meu baptismo de voo foi precisamente para o funchal, pouco depois do acidente que referes. nessa altura, quando o avião aterrava, toda a gente batia palmas, gritava e dava beijos e abraços ao vizinho do lado. uma festa!

Pedro disse...

é que o tabuleiro é rígido
e o guardanapo de pano
é de dobrar e está a andar
estás a ver o espaço que se poupa?
:-)

(vi aqui parar à procura de
videos de garraiadas de partir o coco a rir
onde o Google apresenta logo em 1º lugar
FALABARATA com:
Quando era estudante e ia às garraiadas de agronomia no Campo Pequeno

:-)

tcl disse...

jura? vou ver. mas acho graça às pessoas que usam o google como se estivesse alguém do outro lado, de lápis atrás da orelha, a ler as perguntas e a dar as respostas. é que há algumas que põem mesmo pontos de interrogação e escrevem coisas como "a que horas devo dar os supositórios para a constipação ao meu filho?"