Eu ali na cozinha a cortar cebolas para o refogado e a pensar em ti.
A vizinha veio pedir-me uma chávena de farinha para fritar os carapaus e ficou-se à conversa encostada ao lava-louças. Ouço retalhos ...sim porque o meu marido…, … e se não fosse eu ir tão depressa…., …não acha?
Eu digo que sim, que acho, mas a verdade é que não acho nada, pois penso em ti.
Sinto os teus braços que me envolvem, as tuas mãos que me afagam, a tua respiração no meu pescoço e suspiro, ao que a vizinha responde: pois, também eu fiquei assim quando soube, mas olhe, é a vida.
Pois é a vida. Quero que ela se vá embora, quero cortar as cebolas em paz, quero sentir-te assim, encostado a mim.
Acho que ela não te vê, pois não comenta quando me viras para ti com os dedos na minha nuca e os polegares nas minhas orelhas e me dás um beijo.
Vamos? perguntas tu, já vamos, digo eu e a vizinha, já vamos onde?
Finalmente a outra vai-se com a farinha e ficamos sós. Eu e tu pensado por mim.
Corto as cebolas, os alhos, a salsa, mexo-me na cozinha, ponho o tacho ao lume e tu sempre agarrado a mim, copiando os passos e os gestos inventados por mim.
Vais-me sussurrando meiguices ao ouvido, puxas-me o cabelo para cima, lambes-me as lágrimas da cebola, juro que são da cebola, só da cebola e mais nada.
Vamos?, perguntas-me de novo. Vamos sim. Olho para o quadro onde deixaste escrita a lista de compras, azeite, arroz, massa, ração de gato e ração de cão, detergente, apago o lume do refogado já adiantado para o almoço de amanhã, apago a luz, saio da cozinha, atravesso a casa de paredes agora nuas, marcas de quadros, restos de fotografias, o móvel que era aqui e já não é, mas mesmo assim a minha roupa mais à vontade nas gavetas, a escova de dentes à larga no copo. Tu, sempre agarrado a mim, a copiares os meus passos, a copiares os meus gestos, a tua respiração no meu pescoço, as tuas palavras no meu ouvido.
Passo defronte do espelho do quarto e espanto-me por não te ver.
A vizinha veio pedir-me uma chávena de farinha para fritar os carapaus e ficou-se à conversa encostada ao lava-louças. Ouço retalhos ...sim porque o meu marido…, … e se não fosse eu ir tão depressa…., …não acha?
Eu digo que sim, que acho, mas a verdade é que não acho nada, pois penso em ti.
Sinto os teus braços que me envolvem, as tuas mãos que me afagam, a tua respiração no meu pescoço e suspiro, ao que a vizinha responde: pois, também eu fiquei assim quando soube, mas olhe, é a vida.
Pois é a vida. Quero que ela se vá embora, quero cortar as cebolas em paz, quero sentir-te assim, encostado a mim.
Acho que ela não te vê, pois não comenta quando me viras para ti com os dedos na minha nuca e os polegares nas minhas orelhas e me dás um beijo.
Vamos? perguntas tu, já vamos, digo eu e a vizinha, já vamos onde?
Finalmente a outra vai-se com a farinha e ficamos sós. Eu e tu pensado por mim.
Corto as cebolas, os alhos, a salsa, mexo-me na cozinha, ponho o tacho ao lume e tu sempre agarrado a mim, copiando os passos e os gestos inventados por mim.
Vais-me sussurrando meiguices ao ouvido, puxas-me o cabelo para cima, lambes-me as lágrimas da cebola, juro que são da cebola, só da cebola e mais nada.
Vamos?, perguntas-me de novo. Vamos sim. Olho para o quadro onde deixaste escrita a lista de compras, azeite, arroz, massa, ração de gato e ração de cão, detergente, apago o lume do refogado já adiantado para o almoço de amanhã, apago a luz, saio da cozinha, atravesso a casa de paredes agora nuas, marcas de quadros, restos de fotografias, o móvel que era aqui e já não é, mas mesmo assim a minha roupa mais à vontade nas gavetas, a escova de dentes à larga no copo. Tu, sempre agarrado a mim, a copiares os meus passos, a copiares os meus gestos, a tua respiração no meu pescoço, as tuas palavras no meu ouvido.
Passo defronte do espelho do quarto e espanto-me por não te ver.
6 comentários:
Sem "SOMBRA" de duvidas, dos teus melhores textos.
Eu apreciador de Lobo Antunes, vejo aqui reflexos dele, na construção das frases no esboço da ideia e na tinta espalhada pela tela.
Parabéns.
Olha, tás tramada, a partir de hoje passas a constar do grupo de blogs linkados ao meu. Este texto foi a gota de água...Não transbordou o copo, apenas lhe deu qualidade;-)
Obrigada Pedros, sois demais!
Já nem sei onde limpar tanta baba :-)
PV - Longe de mim pretender sequer chegar aos calcanhares do ALB, que continuo a amar enquanto cronista, mas de quem já não consigo ler um livro inteiro há uns anitos. os últimos foram os crocodilos e o esplendor de portugal. depois....
PG - Pois lá terei de te pagar na mesma moeda, né? Logo já te linko.
Já deves ter reparado q este blogue é uma enorme salganhada, é mesmo "o que houver" e cada vez mais. Mas se gostas deste tipo em particular, há mais do mesmo com as etiquetas "estórias" e "amores".
anaparga wrote on Aug 12
adoro o que você escreve, Teresa.
teresa wrote on Aug 12
obrigada Ana, vc é mesmo uma querida! tem dias, sabe? é raro lembrar-me de vir aqui (em geral vejo o meu blog no blogger) e devia vir mais vezes pois tem sempre uma palavra amiga.
mariag wrote on Aug 12
que lembrança real e delicada...
Enviar um comentário