Trago ainda os olhos cheios de Alentejo, daquele suave ondulado que só lá, dos amarelos do restolho e onde não há restolho a terra quase vermelha, do negro e cinzento e castanho do xisto, das azinheiras, oliveiras, sobreiros e pinheiros espaçados em compassos de acaso, pintalgando a paisagem de manchas verdes sobre sombras escuras onde pasmam ovelhas.
Trago o cheiro a estevas colado nas narinas, peganhento, doce, quente, cheiro que me aviva na memória aquele Verão de há vinte anos, ou talvez mais, em que descemos a costa alentejana com uma tenda e um fiat127, dormindo pelas praias, tomando banho só no mar até que ao fim de 9 dias já quase não nos conseguíamos mexer de tanto sal, pele castanha de tanto sol.
Trago o gozo de fazer aquelas estradas estreitinhas sempre a direito, curvas só na vertical, a 100 à hora até parece que vamos voar nas lombas e atropelar as perdizes que atravessam a correr, mas não voamos pois que o ondulado do Alentejo é suave e mesmo a acelerar e a gritar "a los moros, Sebastian el lusitano!!!" só com muita imaginação se sente o estômago a tocar na garganta.
Trago as casas e as igrejas caiadas de branco contra um céu azul ferrete, sombras lineares nas paredes, calçadas varridas, quatro mulheres e dois cães a bordar toalhas enquanto o Guadiana se espreguiça lá em baixo afagando um porto onde dantes atracavam vapores para carregar minério e agora só dois ou três barquinhos de recreio.
Trago as noites quentes sem uma aragem sob um céu de lua cheia, os homens sentados à porta das tabernas e as mulheres à das casas, portas abertas por onde se vêem mesas, cadeiras, naperons em cima dos móveis e em cima dos naperons uma jarra de flores, uma moldura com uma fotografia e uma estatueta de loiça em que dois meninos rechonchudos dão um beijinho na boca enquanto esticam as mãozinhas sapudas para trás.
Trago o vinho tinto da casa em jarrinhas de barro, a sopa de cação com coentros, as migas com carne de porco, o ensopado de borrego, o arroz de lebre, a sericaia e a tigelada de ovos.
Meu Deus, como eu adoro o Alentejo.
Trago o cheiro a estevas colado nas narinas, peganhento, doce, quente, cheiro que me aviva na memória aquele Verão de há vinte anos, ou talvez mais, em que descemos a costa alentejana com uma tenda e um fiat127, dormindo pelas praias, tomando banho só no mar até que ao fim de 9 dias já quase não nos conseguíamos mexer de tanto sal, pele castanha de tanto sol.
Trago o gozo de fazer aquelas estradas estreitinhas sempre a direito, curvas só na vertical, a 100 à hora até parece que vamos voar nas lombas e atropelar as perdizes que atravessam a correr, mas não voamos pois que o ondulado do Alentejo é suave e mesmo a acelerar e a gritar "a los moros, Sebastian el lusitano!!!" só com muita imaginação se sente o estômago a tocar na garganta.
Trago as casas e as igrejas caiadas de branco contra um céu azul ferrete, sombras lineares nas paredes, calçadas varridas, quatro mulheres e dois cães a bordar toalhas enquanto o Guadiana se espreguiça lá em baixo afagando um porto onde dantes atracavam vapores para carregar minério e agora só dois ou três barquinhos de recreio.
Trago as noites quentes sem uma aragem sob um céu de lua cheia, os homens sentados à porta das tabernas e as mulheres à das casas, portas abertas por onde se vêem mesas, cadeiras, naperons em cima dos móveis e em cima dos naperons uma jarra de flores, uma moldura com uma fotografia e uma estatueta de loiça em que dois meninos rechonchudos dão um beijinho na boca enquanto esticam as mãozinhas sapudas para trás.
Trago o vinho tinto da casa em jarrinhas de barro, a sopa de cação com coentros, as migas com carne de porco, o ensopado de borrego, o arroz de lebre, a sericaia e a tigelada de ovos.
Meu Deus, como eu adoro o Alentejo.
11 comentários:
Ah! Assim, sim! Retiro o meu pedido do Livro de Reclamações...
Tem muito bom gosto!
Até eu, que ainda trago os olhos e as narinas intoxicados de Açores (e vai levar algum tempo a limpar todo aquele azul e todo aquele verde da memória), não consigo ler este teu belo elogio sem dizer que também adoro o Alentejo.
Beijinho!
Até fiquei emocionado. Também eu adoro o Alentejo, mas nunca conseguiria pôr esse sentimento em palavras como tu, tão bem, soubeste fazer. Fiquei com vontade de me meter num carro e zarpar por essas estradas abaixo até encontrar uma azinheira, numa dessas planícies amarelas de restolho e simplesmente deixar-me estar a absrover os cheiros e os sons de uma terra tão bonita. Obrigado pelos teus textos. Enchem-me a alma.
Bastou ver a segunda (e terceira) foto para reconhecer este pedaço do Alentejo. Desde os meus 5 anos que conheço esta igreja. Boa escolha para local de férias (onde, curiosamente, também estive por alturas de Agosto).
E já agora: excelente texto.
impossível não adorar o Alentejo .. e para aqueles que ainda podem estar renitentes, vou mandá-los ler este teu texto fabuloso ;) .. mais um!
Beijinho *
entre serpa e mértola, entre serpa e mértola, entre serpa e mértola,
... há 11 dias que abro o FALABARATA e não encontro mais nada! Tá bem, o texto é bom (como sempre) as fotos também, mas quero mais! Para registo no Livro de Reclamações.
ai Zé SC, tenho andado sem pachorra, que queres... nem sempre apetece, nem sempre dá, escrever por obrigação, não obrigada, há dias em que abro a torneira e é uma torrente, outros dias abro e nem um pinguinho, mas o que se passa mesmo é que a tenho deixado fechada... bjs e thanks, anyway
Fizeste-me sentir como se estivesse no Alentejo. Tenho saudades.
Ó Baratinha, ficaste entalada entre Serpa e Mértola? :)
Olá! Tou de volta. Lindo texto, deixou-me cheiinha de vontade de lá ir. Bjs.
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