dezembro 31, 2008

juro que não tenho nenhum



Deu-me para isto. Tenho de parar. Sorry. Não resisti a esta. Veio de Beja. É de partir o coco a rir.

dezembro 29, 2008

quando os blogues dão frutos

O meu amigo Pedro é um rapaz dotado para a escrita e para a fotografia. O meu amigo Pedro terá com certeza outros dotes, não duvido, mas estes são os que eu conheço. O Pedro é um poeta de palavras e de imagens e isso pode muito facilmente ver-se num relance e apreciar-se devidamente se por lá nos demorarmos um pedaço mais após o primeiro relance.

A escrita e as imagens do Pedro sairam da blogosfera e foram publicadas, para já, em 3 (três) livrinhos e parece que virão mais a seguir. Ainda não os vi, está para breve, espero eu, mas não tenho qualquer pudor em recomendá-los assim mesmo, certa que estou do seu interesse. Não os vi na minha mão, mas conheço alguns dos textos e das fotografias e GOSTO!

Aqui vos deixo os links para que possam dar uma espreitadela em "Duets", imagens de mão dada duas a duas, "Marinheiro de si", contos contados para serem lidos e "Desenhar no espaço de palavras e tons", fotografias de paredes pintadas que inspiram pensamentos.

Parabéns Pedro! Quando eu for grande, gostava que as minhas palavras também frutificassem. Mas acho que ainda tenho que crescer muito.

a crise chega a todos


dezembro 27, 2008

restos de natal



Foi tão lindo o natal! Como até somos pessoas preocupadas com a natureza e assim, comprámos presentes na Natura. Para que a nossa menina se transforme numa mulher asseada, comprámos-lhe um aspirador de brinquedo. No dia seguinte, limpámos a casa toda. Não ficou um saquinho nem uma caixa para amostra. Os nossos filhos orgulham-se com certeza de nós e do nosso esmerado asseio no lar.



breves de um natal

24 - Últimas compras de manhã, almoço de pizza preguiçosa e lá vamos todos para o natal. Bacalhau com batatas, couves e ovo cozido, decorações a propósito da quadra a começar pelos convivas, vestidos de vermelho em obediência ao curioso pedido da anfitriã.

25 - Almoço nos outros avós. Não me pediram para ir de vermelho, de forma que vou de preto. Perú com um recheio à frente e outro atrás. Levo uma menina de dois anos e meio pela mão a ver as galinhas e a passear pelo pomar. Construímos um castelo com uma pedrinha a fazer de torre e uma folha seca a fazer de bandeira. Gosto das mãozinhas sujas de terra. À noite, jantar de roupa velha e canasta, abraços e beijos.

26 - Almoço tardio algures na linha de Sintra. Regresso a casa para duas horas de veterinário com o gato. Aproveito e levo o cão que tem as vacinas atrasadas. O médico torce o nariz com o mau hálito do cão e aconselha-me uma ida ao dentista para destartarização. Confirmo o mau hálito com uma careta e aceito a sugestão de bom grado, antecipando o sorriso pepsodente que o cão passará a ter. No frigorífico pouca coisa... janto um arroz de grelos e trabalho até às 4 da manhã.

Fim do natal.

poemas ao sábado #7

Ao longo da muralha

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.


Mário Cesariny

dezembro 22, 2008

natal

Quando eu era pequena, passávamos o Natal em Vila Nova de Ourém que, como outras vilas foi promovida a cidade e passou a chamar-se só Ourém, perdendo o pouco interesse que tinha e passando a ter nenhum, salvo um belíssimo castelo lá no alto do morro em Ourém, então "velha" e agora terra da qual desconheço a adjectivação, mas onde perdura o castelo e as ruelas e casario que o rodeiam.

Em Vila Nova de Ourém viviam:

- quando eu era mesmo pequena, os meus avós, os meus tios com a minha prima, a minha tia solteira e a minha bisavó;

- depois, os meus avós, a minha tia viúva com a minha prima, o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira;

- nos últimos anos da minha adolescência, o meu avô, a minha tia viúva com a minha prima, o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira;

- O Natal deixou de se passar em Vila Nova de Ourém há uns anos largos quando já só havia o marido da minha prima mais o filho dos dois e a minha tia solteira.

Desses Natais da minha infância e juventude recordo noites mal dormidas num gelo de lençois húmidos e cobertores de papa pesadíssimos, a casa dos meus tios com um corredor que não acabava, quartos de um lado e de outro virados a norte e a nascente e para poente e sul só paredes sem janelas e tudo aquilo sem mais aquecimento que uma lareira na sala de estar que, quando o vento não estava de feição, ou seja sempre, atirava com rolos de fumo para dentro de casa, pondo todo o clã a tossir e a entrever-se desfocado com os olhos a picar.

O meu tio tinha um armazém de atoalhados e afins de maneira que a minha tia depositava a tarefa de escolher os presentes de Natal num dos empregados do armazém (cheirava a fazenda, pano turco e naftalina, o armazém) e presentava toda a família com embrulhos enormes de papel pardo atados com fitas vermelhas de dentro dos quais saiam panos de cozinha, toalhas turcas, renda a metro, jogos de cama de casal (dois lençois e duas fronhas) e outras utilidades domésticas que eu e os meus primos tínhamos de agradecer fingindo que apreciávamos muito mais ver aumentado o nosso enxoval aos oito anos de idade do que uma porcaria de um action man ou de uma caixa de lego.

O meu avô, que no fim da vida devia ter alzheimer e falava com a minha mãe como se ela fosse o Sr. Abrantes, tardes inteiras a conversar com a minha mãe, Sr. Abrantes, e como vai a família? e a minha mãe, pois vai-se andando menos mal, Sr. Lopes e logo depois o meu avô levantava-se e ia destapar o tacho do bacalhau que estava ao lume à procura da bengala enquanto me perguntava pela enésima vez se eu já tinha acabado o 7º ano e eu já a meio da faculdade. Depois chamava-me de lado, levava-me ao dito corredor sem fim e oh filha, olha para este hotel... olha que tens de dizer à tua mãe que eu não tenho dinheiro para pagar isto tudo...

Eram assim esses Natais.


dezembro 21, 2008

gaston



O Gaston é o meu gato. De entre o que se pode esperar de um gato, é um bom gato. Independente, altivo, talvez um pouco arrogante, curioso, um nadinha burro e bastante egocêntrico. Digamos que é... um gato.

O Gaston está doente. Não está doentinho. Está mesmo doente. Ontem tive a confirmação daquilo que já esperava, pelo resultado das biópsias: tumor maligno, altamente invasivo e criador de metástases. Apareceu há um mês sob a forma de um inchaço numa pata traseira. Amanhã vai fazer ecografias e radiografias para saber se há tumores em mais algum orgão. A veterinária disse-me que, se não houvesse, se podia amputar a pata. "Os gatos adaptam-se muito bem só com 3 patas, fazem uma vida normal." Vou chateá-lo só mais esta vez com os exames por descargo de consciência. Não tenho ilusões. Também havia um quisto no pescoço que se conseguiu tirar, mas tinha a mesma origem. Sei que não vou amputar pata nenhuma ao meu gato. Sei que o "tumor maligno, altamente invasivo e criador de metástases" está irremediavelmente espalhado. Se chegar lá, o Gaston fará 10 anos em Abril. É o gato mais bonito do mundo.



Vou mantê-lo enquanto tiver a vivacidade para fazer o que fez hoje: caçar passarinhos num 6º andar e depositá-los no chão da cozinha, como uma oferta.

dezembro 16, 2008

sósias


Ontem no elevador:

- mãe, já reparaste que o vizinho de baixo é igual ao Ned Flanders?
- quem é o Ned Flanders?
(o nome não me soava estranho, mas... raio de memória)
- é o vizinho dos Simpsons, a única diferença é que o nosso não usa bigode
- eh pá... não é que tens razão? é ingualinho!
- e não é só fisicamente... é no resto também.
- isso já não sei... bom, tem ar de quem vai à missa todos os domingos mas não estou a ver o Ned Flanders a bater com o cabo da vassoura no tecto quando tu tocas baixo até mais tarde ou a ir lá acima em roupão às onze e meia de uma das duas noites por ano em que dou festas lá em casa para se queixar do barulho...
- pois.

dezembro 15, 2008

beijo

do calor
o beijo
o sopro
quentes as mãos
no pescoço
a curva
curva dos dedos
nós
nós dos dedos
medos no olhar
a desvendar raízes
dos cabelos
nos dedos
curva
curva do pescoço
nas mãos

beijo quente
o teu amor

vento


em voltas revoltas
à volta das copas
(altas)
bandos de pássaros
cor-de-laranja
em voos malucos
sem tino
sem nexo
incertos
sem rumo
morcegos
traças
tontos de luz
chovem nos meus cabelos


jazem os pássaros
mortos no chão
asas quebradas de cansaço

dezembro 14, 2008

poemas ao sábado #6

Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa
nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera


Ruy Belo

dezembro 08, 2008

piropos filiais via messenger

João - just woke up from the daydream diz (00:05):
tao tao gira nessa foto mamã
Teresa diz (00:05):
achas?
João - just woke up from the daydream diz (00:05):
acho
Teresa diz (00:05):
a mãe é gira?
João - just woke up from the daydream diz (00:06):
é a mae mais gira
Teresa diz (00:06):
YEAHHHH!

dezembro 06, 2008

poemas ao sábado #5

Barco

Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.


Sophia de Mello Breyner Andresen

dezembro 02, 2008

dos teus olhos junto ao rio

asas brancas
em volteios redondos
sobre as águas do rio
asas pretas
num voo rasante
em contraluz
mergulhos a pique
no verde azul cinzento
castanhos os teus olhos
profundos nos meus
debicando minha alma
peixe desatento
levado para os céus

novembro 27, 2008

inutilidades #2

Perdi a esferográfica Bic produtora de inutilidades mas já tinha feito duas, roubaram-me a carteira e fiquei numa alhada.

Faz frio e tenho de comprar um baton para o cieiro com dinheiro emprestado.

Madrid me encanta. Regresso a Lisboa no Sábado. Iupi.


novembro 20, 2008

inutilidades

Cada um concentra-se como pode e sabe. No meu caso, em reuniões, palestras e situações em que alguém fala e me compete prestar atenção não vá precisar de perguntar ou responder alguma coisa, a única maneira que tenho para não me pôr a divagar é rabiscar. Ou rabisco e ouço ou não rabisco e não tarda já estou bem longe dali, mesmo que esteja a olhar para quem fala com um ar muito atento. Vai-se a ver e não ouvi pevides, népia, niente.

Estou num seminário em Madrid, de modo que nestes últimos três dias, ou bem que há powerpoints ou bem que há rabiscos, ainda por cima porque as noites têm sido curtinhas...

Tenho-me dedicado à produção de objectos inúteis.



novembro 16, 2008

probabilidades

Tenho um sobrinho. Aliás tenho vários sobrinhos, mas hoje só me interessa falar deste. O meu sobrinho, este meu sobrinho, vive na outra banda. Digamos que em linha recta da minha casa à dele não vão mais que uns 5km. Tal como eu, ele trabalha em Lisboa. Somos tia e sobrinho há 32 anos. Nestes 32 anos quantas vezes nos encontrámos por acaso, assim ao virar duma esquina, num cinema, na praia, em qualquer sítio? Nenhuma. Até hoje. Eu a subir a Gran Via, ele a descer, no meio duma multidão e de repente T! Ele é que me viu.

Chegámos os dois hoje em voos diferentes, eu para um congresso que começa amanhã, ele para 2 dias de férias, nem combinámos qualquer encontro e de repente, numa cidade com mais de 3 milhões de habitantes, hop, tropeçamos um no outro. Percebo pouco de estatística, mas isto deve ser quase tão improvável como ganhar o euromilhões.

novembro 15, 2008

poemas ao sábado #4

A PERSON WHO EATS MEAT

A person who eats meat
wants to get his teeth into something
A person who does not eat meat
wants to get his teeth into something else
If these thoughts interest you for even a moment
you are lost

Leonard Cohen

novembro 12, 2008

um café é um café

Sempre me irritaram as mulheres, indivíduos do meu próprio sexo, que acham que lá porque um homem as convida para sair só quer é levá-las para a cama. Nunca percebi se reagiam assim por se acharem MUNTA BOAS ou simplesmente porque pensam que os homens são todos iguais e patati e patatá, ou ainda se, na sua ingenuidade, pensam que os outros não percebem que elas claro, como qualquer mortal, também apreciam as actividades ligadas à luxúria e só se estão a fazer difíceis, porque faz parte do jogo e tal.

Esta atitude, que dantes era apanágio das mulheres, digo eu, parece que se transpôs também para o sexo oposto. Bem sei que com a emancipação da mulher e blablablá, nós agora andamos mais atiradiças, é um facto. Mas caramba, lá porque uma mulher convida um tipo para sair é preciso que ele reaja como se lhe quiséssemos saltar para cima na primeira esquina mal iluminada? Por que carga de água hão-de copiar os nossos piores defeitos?

É por isso que nós, as mulheres, gostamos tanto dos nossos amigos gays. Podemos desafiá-los à vontade para um café que eles percebem que um café é um café.

novembro 11, 2008

vidas

Hoje o meu filho fez um vistaço na escola ao ser um dos que pôs o dedinho no ar quando o professor perguntou à turma se alguém conhecia a hammer films. Resumidamente e para quem não tenha paciência de visitar a página de que deixo o link, trata-se de uma produtora inglesa que nos anos 50 a 70 fez, entre outros filmes do género, alguns remakes dos clássicos do terror dos anos 30, como Drácula e Frankenstein. Pelo que me disse o J, os filmes começavam invariavelmente com um homem vestido de preto que saía de um caixão.

E conto isto porquê? Bom, a coisa atingiu a dimensão de fenómeno, criou de certa forma uma escola de seguidores e chegaram-se a fazer filmes do tipo "hammer horror" em Portugal. Sabiam? Eu também não. O que tem graça nesta estória, é isto: quem é que fazia a cena do homem a sair do caixão cá no burgo? Este homem, sobre quem fiz essa crónica aí atrás.

Sabem? O homem que diz adeus aos carros no Saldanha.

Vidas.

novembro 10, 2008

o milagre dos peixes...

... ou como de um pneu se fazem dois.

Ainda a propósito disto, hoje na oficina:

- Bom dia (e tal), preciso de um pneu novo. Rebentou-se um.
- Ah pois... quer ver? Olhe aqui: este pneu já estava todo ressequido, ainda deve ser o pneu de origem.
- Se calhar é. Não faço ideia. Mas como o sobressalente é novinho, veja lá, ainda tem os piquinhos de borracha e tudo, pomos o velho que não furou de reserva e substitui-se por um novo, hum?
- Bom, eu posso fazer isso, mas quando a senhora for à inspecção, não passa.
- Não passa porquê se os pneus são novos e iguais? Os da frente mudei-os há pouco tempo...
- Sabe, é que são iguais mas não são da mesma marca e eles lá na inspecção só aceitam ou todos da mesma marca ou dois de cada.
- O quê? Mas tem o mesmo diâmetro, a mesma largura bolas, é igual, não?
- Pois mas têm de ser iguais e da mesma marca e este aqui já não se fabrica
.

Bom, o pneu sobressalente (novinho, com piquinhos de borracha e tudo) voltou para o seu sítio no porta-bagagens e dois novos a pisar a estrada, da mesma marca dos que tinha, já agora.

Não percebo isto mas também... há tanta coisa que não percebo...

E assim, sempre me sinto mais segura. É isso, esta medida é só para nos proteger. É, não é?

novembro 09, 2008

será da lua?

É normal ter uma bateria pifada numa Sexta-feira e um furo no Domingo seguinte?

A bateria pegou com cabos. O suficiente para levar o carro até à oficina, desligá-lo e constatar que puf, não pegava outra vez. Morta, defunta, falecida.

O pneu dei por que estava furado quando comecei a ouvir flop flop flop. Deu para ir até à estação de serviço mais próxima. Uns 500m devagarinho. O suficiente para ficar todo rasgado do lado de dentro.

Será da lua? Saio de carro amanhã?

na fila de leitura...

...acabados de comprar.

Este porque li "A sombra do vento" e gostei muito.


Este porque Leonard Cohen é uma paixão antiga, do tempo em que ouvia também Cat Stevens, Joan Baez e Bob Dylan, desse tempo. Continuo a gostar de ouvir o Cat Stevens e, ainda mais o Leonard Cohen. Ultimamente tenho ouvido bastante a banda sonora dum filme com ele e sobre ele, de forma que quando dei com este livro a olhar para mim da prateleira da livraria, apeteceu-me tê-lo.

novembro 08, 2008

poemas ao sábado #3

A SOMBRA SOU EU

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre ás portas de mim!

Almada Negreiros

novembro 07, 2008

peppermint

que na minha pele
escrevas teus poemas
com as gotas do orvalho
da manhã
que em mim graves
tuas mágoas
tuas penas
usa a minha pele
como papel branco
apenas
e deixa nela
o teu cheiro
a hortelã

novembro 05, 2008

he loves movies

Quais Engenharias, Arquitecturas, Económicas, Físicas e Biologias, Direitos e Filosofias. Nada disso...

Sabem o que é um "plano de chão"? Ah, pois não...
E um "plano subjectivo"? Também não sabem, claro...
E que não se deve "cruzar o eixo"? Está visto que não...

Pois eu já sei tudo isto e vou saber muito mais, graças ao meu filho.
1º ano na faculdade a estudar o quê? Cinema, pois então.
E pela primeira vez desde que aprendeu a ler, vejo-o verdadeiramente entusiasmado com as aulas. Dantes só o via entusiasmado com os hobbies.

À conta dele, acabei de passar um bom bocado a ver "planos de chão" do Notorious do Hitchcock. Muito giro.

alguém...

...tem uma aspirina?

umas pastilhas para a tosse?

lenços de papel?

mãe.......! vem-me assoar!

receita para um sono

frito o camarão e o salmão
pingo uma gota de limão
cozo o macarrão
junto o agrião
e janto sozinha
frente à televisão

no fim
dou os restos ao cão
num prato que pus no chão

deito-me calada sob o edredão
com um livro seguro na mão
que leio até à exaustão

depois, durmo com os anjos

novembro 04, 2008

born in the usa

Será que o mundo vai mudar com a provável eleição de Obama?

Há 8 anos que ando zangada com os americanos por terem escolhido Bush como presidente, ainda por cima bisando. Ok, à primeira uma pessoa pode enganar-se, mas à segunda já só pode ser por gosto. Pronto, houve aquela cena duvidosa da contagem de votos na Flórida mas, fosse como fosse, mesmo que Gore tivesse ganho, teria sido por escassa diferença.

Sendo costumeira a alternância de poderes nos EUA entre democratas e republicanos (não é que a diferença seja enorme, mas sempre é alguma e recentemente tende a aumentar, digo eu), antes mesmo de se saber quem seriam os candidatos para estas eleições já era provável que, desta vez, a Casa Branca passasse para os democratas.

Daí que eu achei que o mundo ia mesmo mudar quando se percebeu que os candidatos democratas com probabilidades de chegarem ao fim eram uma mulher e um afro-americano. Confesso que cheguei a duvidar da maturidade dos américas... nahhh, pensei eu, aqueles tipos nunca serão capazes de pôr nem uma mulher nem um mestiço à frente dos destinos da nação.

Depois fui vendo as sondagens e redimi-me. Afinal parece que a malta do lado de lá do atlântico tem alguma coisa dentro da cabeça.

Voltando à primeira questão: Será que o mundo vai mudar com a provável eleição de Obama?

Provavelmente não irá mudar muito... Brancos, negros, homens ou mulheres, os americanos são sempre americanos e, como quaisquer outros, põem sempre os interesses do seu país à frente dos demais. Humanismo não é para políticos, é para nós, simples mortais que ainda cremos em utopias de mundos sem fronteiras, sem guerras, sem fomes, sem diferenças tão abismais.

Uma coisa no entanto me parece certa: a imagem da América perante o resto do mundo vai mudar com toda a certeza. E só isso poderá fazer toda a diferença.



sem porquês



Às vezes (muitas?) penso que a vida me seria bem mais fácil se me preocupasse menos em encontrar o porquê das coisas, em vez de as aceitar simplesmente como são. Sem porquês.

tcl #2

Já sabia que era uma mulher popular na China.

Desconhecia no entanto que era possuidora de uma empresa de aluguer de automóveis no Porto. Foi preciso o meu vizinho ir à Invicta para eu ficar ciente desse facto.

Agradou-me, mas mesmo assim gostei mais da réplica do pão-de-ló de Margaride que ele me trouxe da Padaria Ribeiro. Parece que a Margaride fechou...

novembro 01, 2008

poemas ao sábado #2

AOS AMIGOS

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada

[lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Helberto Helder

outubro 31, 2008

princípio

Hoje ao almoço, na mesa ao lado alguém pediu um café sem princípio.

Desde o Verão que não ouvia isto. Sorri para dentro. Lembrei-me de outra coisa que também ouvi então. "Os amores de praia ficam enterrados na areia". Na altura, não liguei, sem perceber o quanto era verdade o que me foi dito.

Ao contrário do café, amores com princípio, mas também com fim. Enterrados na areia, lá longe. Impossíveis de reencontrar e de desenterrar.

outubro 30, 2008

ermelinda

Ontem num jantar com amigos, depois de verificar que uns quantos tinham escolhido sakê como bebida, expressei o meu desagrado por tal opção com um "ah, mas eu não gosto muito de sakê...". Virei-me para o amigo da esquerda: "e tu, gostas de sakê?". Sorri de contentamento ao "eu não, filha", seguido de um "sendo assim já me posso casar contigo". Não é todos os dias que se têm propostas de casamento. Embora seja coisa que não me veja repetir, não deixa de fazer bem ao ego. Infelizmento, o noivado não durou mais do que uns escassos 3 minutos, pois quando veio o empregado recolher os pedidos, o meu noivo pediu uma cerveja. Não é que eu não goste de cerveja, mas bom, o que me estava a apetecer era mesmo um vinho tinto.

Havendo apenas mais uma amiga interessada no tinto, perguntei ao empregado: "os senhores têm vinho a copo?". A resposta veio breve: "temos sim, D. Ermelinda". Apeteceu-me brincar com ele:

- D. Ermelinda? Ouça cá... Você não me conhece de lado nenhum, porque me está agora a chamar D. Ermelinda?
- D. Ermelinda é o nome do vinho... (entre corado e enfadado, perante a minha aparente ignorância)
- Eu sei, estava a brincar consigo. Mas de qualquer forma não acho bem que me trate por D. Ermelinda, assim sem mais nem menos. Afinal é a primeira vez que aqui venho e nem me chamo Ermelinda.

O empregado sorriu e, até ao fim do jantar, tratou-me sempre por D. Ermelinda. "Está boa a massa de arroz, D. Ermelinda?", "trago mais um copo de vinho, D. Ermelinda?", "e de sobremesa, o que vai ser, D. Ermelinda?". Claro que eu, sempre que precisava de alguma coisa o chamava "D. Ermelinda!"

Adoro gente com sentido de humor e capaz de prolongar uma piadola.

outubro 26, 2008

poemas ao sábado #1

ECOS DE VERÃO

Quando todo o brilho da cidade
me escorre pelas mãos, que já não são
mais que fugidios ecos de verão,
a música dos dias sem idade,
subitamente como fonte ou ave
rompe dentro de mim - e nem eu sei,
neste rumor de tudo quanto amei,
se a luz madrugou ou se chegou tarde.


Eugénio de Andrade

outubro 24, 2008

encruzilhada

Desordenaste a ordem, saltaste etapas
e nem por isso chegaste ao fim.

Fiquei encostada numa esquina do tempo,
esperando que o enganes à socapa
e passes de novo por mim.

outubro 23, 2008

small is beautiful...



...e é por isso que gostava de la linea quando passava na tv. Já não passa há anos, mas felizmente há o tubo. Já aqui há tempos tinha posto uns videos aqui e aqui, mas hoje encontrei um tributo ao autor de la linea (Osvaldo Cavandoli) feito por Patrick Boivin. Não conhecia e tem piada. Enjoy.

feeling dizzy


Sinto-me confusa. Há qualquer coisa que não anda bem. A ver se assento os pés na terra.

embaraço

quando passo à Cordoaria
passo a passo conto os passos
passos que dantes fazia
quem os cordames tecia

conto os nós e conto os laços
da corda que me prendia
no tempo em que em nós havia
nós de tão fortes abraços
nós que eu agoro desfaço
num espaço que me agonia
me consome e me arrepia
como a frieza do aço

meço a passo a Cordoaria
e são menos esses passos

outubro 18, 2008

eu também não

contou-me que aqui há dias, quando atravessava o Jardim da Estrela, um mendigo se abeirou dele, tocou-lhe no braço e lhe segredou ao ouvido

eu só sei que nada sei

ao que ele respondeu

eu nem isso sei


eu também não.

na varanda contando aviões

Vem sentar-te comigo ali na varanda a contar aviões e deixa-te estar em sossego.

Se quiseres, diz-me apenas se quando olhas me vês e nesse caso o que vês.

Se vês um intrincado de moléculas que formam células que se organizam em membros e orgãos. Se cabeça, pele, braços, pernas, se a forma das mãos e o rosado das unhas, se a cor dos cabelos, das pestanas e da penugem sobre a pele. E os tons do riscado da iris que dão a cor aos olhos.

Vês a curva do pescoço, o peito que faz subir a camisola ao compasso leve da respiração e a forma como uma perna se abandona sobre a outra, a ponta do pé volta não volta a apontar o céu. É só isso que vês? É só isso que vês.

E eu ficarei ali a teu lado a contar aviões na varanda e a sentir o teu sossego, esperando o dia em que te lembres de olhar para lá da pele, dos braços, das pernas, do rosado das unhas, da cor dos cabelos e das pestanas, mergulhes dentro dos meus olhos e me vejas a mim.

outubro 14, 2008

outro olhar #2

Para os possíveis interessados no quebra-cabeças de há dias, a solução passava mesmo por conseguir ter o tal "outro olhar".

Vemos uma sequência de números

1
11
21
1211
111221
312211
13112221
1113213211

Automaticamente procuramos uma relação entre eles, eventualmente primeiro numa lógica aritmética, somamos, subtraímos, multiplicamos, dividimos e não chegamos a lado nenhum.

Depois, investimos na lógica visual. Começamos por ver que há números dentro dos números que se repetem, 11, 21, 13, alinhamos o conjunto de números também ao centro e à direita e procuramos o padrão nas diagonais, nas verticais e nas horizontais

1
11
21
1211
111221
312211
13112221
1113213211


1
11
21
1211
111221
312211
13112221
1113213211

E continuamos a não chegar a lado nenhum. Então de repente temos um click (os clicks servem para n coisas) olhamos para os números como se não fossem números e fazemos algo tão simples como ler

1 - começamos com "1" e, na linha seguinte,
11 - esta, traduzimos por números a leitura da linha anterior: um um
21 - e nesta, a mesma coisa, sempre em relação à linha anterior: dois un(s)
1211 - e nesta? um dois e um um
111221 - aqui: um um, um dois e dois un(s)
312211 - três un(s), dois dois e um um
13112221 - um três, um um, dois dois e dois un(s)
1113213211 - um um, um três, dois un(s), três dois e um um

Bom a seguir e tal como descobriu a SC, é só ler a última linha: três un(s), um três, um dois, um um, um três, um dois e dois un(s) e escrver os números do que vamos lendo:

31131211131221

E depois? bom, seria

13211311123113112211

É mesmo uma questão de limpar a cabeça e ver as coisas com outro olhar. :-)

outubro 08, 2008

ameaço de onda


tenho dias
em que tenho
uma saudade imensa
do que não tive nem dei
da pele
do beijo
do cheiro
(não aroma
não perfume)
do meu no teu
olhar todo

ameaço de onda
que não me liquefez
em espuma
e me deixou perdida
na bruma

outro olhar

Às vezes (tantas...) é preciso saber ver as coisas com outro olhar que não o primeiro. Descobrir outros caminhos, fazer outras leituras.

Pensar nisto lembrou-me um quebra-cabeças que me mostraram este Verão na praia e que consumiu algum do meu tempo estirada à sombra do chapéu. Só o resolvi depois de o arrumar e olhar para ele no dia seguinte.

Oferece-se um beijo virtual a quem adivinhar qual o número que vem a seguir:

1
11
21
1211
111221
312211
13112221
1113213211

E quem já quebrou a cabeça e sabe a resposta, que não diga nada, ok?

outubro 06, 2008

smouquing tomates

foto roubada algures na net

Como ando a fumar demais, adoptei o sistema do relógio despertador. À falta de melhor uso mesmo o do fogão. Fumo um cigarrito e marco 45 minutos. Só me dou ordem para consumir a maldita nicotina outra vez quando aquilo toca.

Não se imagina a quantidade de vezes que pego no maço antes do trrimm. Depois lembro-me e pouso-o. Porcaria de vício...

clicks

Aqui há tempos um amigo contou-me que, muitos anos antes, tinha percebido que afinal não gostava da namorada num dia em que a vira a andar de bicicleta com uma camisa larga que enfunava com o vento que lhe entrava por baixo, fazendo dela um enorme balão com uma cabecinha no topo e umas perninhas em baixo. A imagem fora de tal forma ridícula a seus olhos que teve aquele click que lhe faltava para entender que não era aquela a mulher dos seus sonhos.

Tenho a sensação que me aconteceu algo do género aqui há uns dias quando corria pela Rua de S. Bento abaixo actuando numa performance do meu ex-coro, em trajes de marujo mal amanhado, suada e de maquilhagem já borrada.

O meu vizinho diz que eu corro muito mal, sem qualquer elegância.

Concordo. É imagem para provocar clicks em qualquer pretendente que se preze.

e agora...



... a apetecer-me fingir que não tenho nada para fazer e ir ali para a minha varanda, sentar-me numa das cadeiras de plástico já baças de tanto sol, apoiar os pés na guarda e pôr-me a ver o tempo a passar.

Assim, só isto. Enfiar-me no tempo de forma a sentir quanto tempo demora o tempo a passar. Eventualmente fumar um cigarro e beber um copo de vodca tirada directamente do congelador a que juntasse duas pedras de gelo.

Assim, só isto. Ver as luzes do outro lado do estuário, os picos da ponte, o cristo-rei, os telhados do primeiro plano no contra-luz da noite e esperar o tempo. Senti-lo a passar, esperar que os segundos saiam a seu tempo do relógio, em fila indiana, cada segundo segurando no bibe do segundo que vai à sua frente sem atropelos nem pressas.

Quanto tempo demora o teu tempo? Quanto tempo demora o meu? Por vezes encontramo-nos no espaço. Espero com tempo, que o tempo passe e nos encontremos no tempo.

outubro 05, 2008

valse avec bachir

De novo a Festa do Cinema Francês, desta vez em má altura para mim, com muito pouco tempo livre para diversões :-(. Mas lá vou arranjando uns buraquinhos de tempo para largar o teclado, meter-me no carro, ir até ao S.Jorge e sentar-me um pedaço na sala escura a receber as imagens que me entram pelos olhos.

Em geral escolho filmes que provavelmente não irão entrar nos circuitos comerciais portugueses, a maioria das vezes de realizadores de quem nunca ouvi falar mas cujas sinopses me despertam a curiosidade. Com este critério, já vi noutros festivais filmes espantosos e também já aguentei valentes estopadas. Ontem fui ver Valse avec Bachir, um documentário em animação de um realizador israelita - Ari Folman. Recomendo uma visita ao site oficial e atenção à programação das salas, pois este, tal como Persepolis no ano passado, vai com certeza aparecer.

É um filme fantástico sobre a guerra entre Israel e o Líbano e o tristemente célebre massacre de palestinianos civis, revisitados através das memórias de alguns que à altura não eram mais do que simples soldados imberbes e assustados, entre eles o próprio Ari Folman que tenta, através de entrevistas a antigos camaradas, recordar o que a memória lhe nega, de tão dura que fora a vivência daqueles tempos.

E essas memórias que pouco a pouco se desvendam são terríveis. Mesmo que a opção pela animação consiga, de certa forma, afastar emocionalmente o espectador da realidade nua e crua não se fica imune ao peso do filme. Percebemos que por detrás dos bonecos estão pessoas, que as vozes são reais nas entrevistas, que os cenários são verdadeiros, talvez pela técnica usada de desenhar sobre imagens em vídeo.

Um documentário impressionante e comovente, um filme de animação tecnicamente espantoso, a música perfeita. Deixo o trailer, para espevitar vontades.

outubro 03, 2008

now here bridges to nowhere


pontes
pontes que ligam espaços
e estreitam diferenças
pontes que separam tempos
frágeis como teias

atravesso pontes
sem saber o que está
do lado de lá

de olhos fechados
seguir

de olhos abertos
parar a meio
hesitar
e voltar para trás

medo
medo do nevoeiro
em que se esconde
a ponte

pontes são uniões
pontes são caminhos
sobre as águas que nos separam

bridges are ways over the waters

now here bridges to nowhere
bridges to nowhere

setembro 28, 2008

justin case

she's got a friend
called Justin Case

she's got him to use
just in case

das cores do silêncio e do cheiro


fotografo o silêncio
depois o cheiro
para saber a cor
do silêncio
e do cheiro

comprimento de onda
(onda do mar?)
que não se revela
nem se deixa apanhar

branco o silêncio
vermelho o teu cheiro
imaginar
sonhar
um dia
inteiro

sometimes this time


sometimes cry
never die
allways the sky
before the eyes

sometimes fall
never crawl
allways the soul
across the walls

this time your soul
before my eyes
against the wall
across the sky

setembro 27, 2008

chegadinhos de Paris #2




Fui ver a outra entrada que fiz há cerca de um ano com o mesmo título.

A mesma história, tudo quase igual, exceptuando la veste. Desta vez, o meu vizinho só trouxe mesmo o que lhe encomendei. Bd's recentes e le dentifrice à l'anis que já não consigo encontrar por cá outra vez.

Joann Sfar já conheço e é muito variável a opinião com que fico dos livros. Alguns são ligeiramente trop avant-garde para o meu gosto no que concerne aos desenhos. Outros, como a série Le chat du Rabin, adoro. Jirô Taniguchi é mesmo uma estreia.

Ah e quanto aos 3.300 m2 de livraria nas Amoreiras, expectativa gorada. É muito mais o espaço que a variedade ou originalidade de títulos disponíveis...

E as bd's novas cá estão, na fila da mesa de cabeceira.

setembro 26, 2008

litografia 3



Passaste sobre o meu amor assim
e não deste por nada.

Os teus passos
só os teus
apagaram a calçada.

Nunca escreverás como eu
que gostas tanto tanto de mim.

casa de carne

Casa de carne era mais ou menos como estava ontem o 2001 na festa do costume.

O momento alto da noite, pelo menos para mim e durante as 2 ou 3 horas que lá estive:


Calor de morrer, aquilo cheio como um ovo com os cotas todos a abanarem o capacete e a cantarem ao mesmo tempo:

Stop right there!
I gotta know right now!
Before we go any further!
Do you love me?
Will you love me forever?
Do you need me?
Will you never leave me?
Will you make me so happy for the rest of my life?
Will you take me away and will you make me your wife?
Do you love me!?
Will you love me forever!?
Do you need me!?
Will you never leave me!?
Will you make me happy for the rest of my life!?
Will you take me away and will you make me your wife!?
I gotta know right now
Before we go any further
Do you love me!?
Will you love me forever!?

setembro 25, 2008

litografia 2



Ajoelho-me na rua para te deixar um escrito.
Já deixei outros que não sei se viste.
Nunca saberei se os viste.
Ou, se vendo,
saberás que é para ti que os deixo.
Grito a todos que te adoro e te desejo,
menos a ti.

setembro 24, 2008

litografia 1



Nas pedras da calçada alguém grita o seu amor
Por mim?
Queria ser amada assim
Sem pudor

setembro 21, 2008

o dedo e a palma

Sentaram-se na varanda a olhar a noite, corpos ainda molhados enrolados em toalhas, pés apoiados no varandim. Naquela meia hora geriram com cuidada perícia conversas e silêncios, as pontas dos cigarros a avermelharem à vez.

Comentaram os telhados, as antenas tombadas de desuso, os ângulos de que dali se viam as torres das igrejas, os ruídos da noite, as luzes nas janelas, o Norte e o Sul.

Viram os aviões que passavam da esquerda para a direita sempre a um dedo da chaminé ali em frente desde que se esticasse bem o braço e o dedo na horizontal, apoiado na ponta da chaminé.

Entre conversas e silêncios regressaram ao quarto.

- Dá para ficar cá hoje?
- Hoje não dá, desculpa, fica para outra vez.

Despediram-se sem muita conversa até um dia destes, fica bem e com dois sorrisos de silêncio.

Chegou a casa, despiu-se, enrolou o corpo seco numa toalha e sentou-se na varanda a olhar a noite, pés apoiados no varandim. Observou os telhados, as antenas tombadas de desuso, os ângulos de que dali se viam as torres das mesmas igrejas, os ruídos da noite, as luzes noutras janelas, o Norte e o Sul ao contrário. Concluíu que os aviões, que na sua varanda vinham sempre de frente para trás, passavam não a um dedo mas a uma mão travessa da chaminé ali em frente desde que esticasse bem o braço e a palma virada para si, o mindinho apoiado na ponta da chaminé.

Diferenças tão subtis e no entanto.

Percebeu nesse momento que não se veriam mais.

Como lhe tinha sido dito, ficou bem.

setembro 20, 2008

fósforo vs cotovia (?)


Não será este o melhor motivo para recomeçar a escrever aqui. Com certeza que não. Mas não resisti... Acho tão pouco provável a existência de uma canção dedicada a um pau de fósforo...

Mas sei a da cotovia, esta aqui:

Alouette, gentille alouette
Alouette, je te plumerai.
Je te plumerai la tête, je te plumerai la tête,
Et la tête, et la tête, alouette, alouette, aah...

Alouette, gentille alouette,
Alouette, je te plumerai.


Et bon, après on plume toute la gentille alouette:

et le bec...
et le nez...
et le dos...
et les jambes...
et les pieds...
et les pattes...
et le cou.


Et même d'autres choses si on veux vraiment plumer totalement l'alouette et peut-être, qui sait, la manger après.

Seront-elles mangeables les alouettes?

setembro 09, 2008

sonhar a cores


O último comentário que a Ana V me deixou aqui, perguntando-me se eu tinha ficado entalada entre Serpa e Mértola, recordou-me um sonho de há dias em que eu era um lápis azul turquesa mal arrumado na sequência dos lápis que começam no vermelho e acabam no amarelo. Sentia-me entalada entre o cor-de-laranja claro e o cor-de-laranja escuro, desconfortável, fora do meu lugar, enfiada ali ao acaso por alguém sem qualquer preocupação estética ou sentido cromático. Em vão tentava soltar-me para me colocar entre o azul ultramarino e o azul cobalto, um lugar bem mais adequado ao meu comprimento de onda, mas os laranjas apertavam-me sem complacências e eu, por mais que me espremesse e esbracejasse (sim, eu era um lápis com braços, os sonhos permitem estas coisas) não conseguia livrar-me daquele aperto.

Passei a noite nisto e acordei com uma sensação de desenquadramento. Na véspera tinha estado a desenhar, mas nem pegara nos lápis azuis, por isso não vejo que relação possa haver entre os dois factos.

O que é certo é que me continuo a sentir entalada e talvez por isso ande sem vontade de escrever. Parecendo que não, a condição de "entalado" é algo inibidora da criatividade.

agosto 23, 2008

entre serpa e mértola




Trago ainda os olhos cheios de Alentejo, daquele suave ondulado que só lá, dos amarelos do restolho e onde não há restolho a terra quase vermelha, do negro e cinzento e castanho do xisto, das azinheiras, oliveiras, sobreiros e pinheiros espaçados em compassos de acaso, pintalgando a paisagem de manchas verdes sobre sombras escuras onde pasmam ovelhas.

Trago o cheiro a estevas colado nas narinas, peganhento, doce, quente, cheiro que me aviva na memória aquele Verão de há vinte anos, ou talvez mais, em que descemos a costa alentejana com uma tenda e um fiat127, dormindo pelas praias, tomando banho só no mar até que ao fim de 9 dias já quase não nos conseguíamos mexer de tanto sal, pele castanha de tanto sol.

Trago o gozo de fazer aquelas estradas estreitinhas sempre a direito, curvas só na vertical, a 100 à hora até parece que vamos voar nas lombas e atropelar as perdizes que atravessam a correr, mas não voamos pois que o ondulado do Alentejo é suave e mesmo a acelerar e a gritar "a los moros, Sebastian el lusitano!!!" só com muita imaginação se sente o estômago a tocar na garganta.

Trago as casas e as igrejas caiadas de branco contra um céu azul ferrete, sombras lineares nas paredes, calçadas varridas, quatro mulheres e dois cães a bordar toalhas enquanto o Guadiana se espreguiça lá em baixo afagando um porto onde dantes atracavam vapores para carregar minério e agora só dois ou três barquinhos de recreio.

Trago as noites quentes sem uma aragem sob um céu de lua cheia, os homens sentados à porta das tabernas e as mulheres à das casas, portas abertas por onde se vêem mesas, cadeiras, naperons em cima dos móveis e em cima dos naperons uma jarra de flores, uma moldura com uma fotografia e uma estatueta de loiça em que dois meninos rechonchudos dão um beijinho na boca enquanto esticam as mãozinhas sapudas para trás.

Trago o vinho tinto da casa em jarrinhas de barro, a sopa de cação com coentros, as migas com carne de porco, o ensopado de borrego, o arroz de lebre, a sericaia e a tigelada de ovos.

Meu Deus, como eu adoro o Alentejo.


agosto 14, 2008

nomes #3

Mais dois nomes fantásticos com direito a PRÉMIO no Falabarata.

1 - O prémio "para pôr onde???" vai para o desodorizante "Zirconal", adquirido numa farmácia decente e de eficácia razoável. Só encontrei na net à venda para pés. O meu é para as axilas, mesmo.


2 - O prémio "quinta de quê???" vai para o vinho "Quinta de Porrais", Douro, tinto, 2006 (o da foto é branco, mas vai a dar no mesmo). Bastante correcto na relação prazer de o beber / custo, foi escolhido apenas pelo nome. Tive sorte. Na pesquisa cibernáutica descobri que Porrais é mesmo uma terra e não a 2ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo (desconhecido para mim) porrar. Fiquei a pensar como se chamariam os habitantes de Porrais. Porrenses? Porraiences? Porraietas?

i think i've gone crazy

Quando o dia de trabalho não me chega, nem de perto nem de longe, para a quantidade disparatada de coisas que tenho de fazer derivadaofacto de metade da malta estar de férias, não me restando outra solução que não a de trazer trabalho para casa e, chegando a estas lindas horas ainda a procissão vai no adro, acho mesmo que estou muito mais maluca do que este dad aqui em baixo.

Tanto mais que, deste esforço só recebo agradecimentos. Embora simpáticos, uns cobres extra no bolso dar-me-iam muito mais jeito.

Só não me digam que os funcionários públicos são TODOS uns calões, que não fazem nada, que só servem para levar a massa dos impostos e patati e patatá, ok?

É que não estou mesmo com disposição para ouvir esse tipo de merdas.

agosto 06, 2008

ácido desoxirribonucleico


Põem-me dentro de uma caixa num apartamento em Lisboa. Quando a caixa se volta a abrir os cheiros são todos diferentes. Saio com cautela, abro as narinas e aspiro o ar com força. Tacteio o chão onde se me enterram as patas, deambulo devagar a reconhecer o sítio, roço os bigodes por todos os lugares. Não vejo o sofá, nem as camas, nem a mesa onde me costumo espreguiçar num raio de sol. Não vejo os telhados nem o rio ao longe, nem ouço as andorinhas a esvoaçar piando.

Vejo verde, árvores com as folhas a adejar ao vento, um chão de tijoleira, um deck de madeira que cobre a areia e um muro. O cheiro novo e forte aguça-me de novo os sentidos. Quero ver o que há para lá do muro.

E de repente, sem saber como, dou comigo em cima das árvores passeando pelos troncos como se nunca tivesse feito outra coisa na vida. As unhas afinal não são só para rasgar os sofás; são fantásticas para estas incursões no mundo vegetal. Daqui de cima vejo o mar ali tão perto, a brancura do areal, o colorido dos chapéus de sol, as pessoas. Logo à noite, quando não houver lá ninguém, vou ver como é o mar mais de perto.

Entretanto, caço pardalinhos em ataques surpresa ou fico-me por aqui, a dormitar, dissimulado por entre a folhagem e de cauda pendurada.

Como um leopardo.

agosto 01, 2008

ni tin só ni

Parece que Agosto é o mês de Nitin Sawhney. Percebi isso quando fui à procura da outra entrada que tinha feito a propósito e verifiquei que foi há um ano. Curioso. Não sei o que tem o Verão que ver com o Nitin, mas deve haver qualquer razão que me escapa.

Eu já conhecia bem este album:

Nestas férias, um amigo da praia* teve a gentileza de passar estes dois para o meu pc:



Não me canso de os ouvir. Passei as últimas noites numa de vira o disco e toca o mesmo. Uma das coisas que me encanta nos discos do Nitin é a variedade de influências, de sons, de vozes, de línguas e de instrumentos, de registos musicais. É difícil escolher uma música de qualquer um destes discos pois o bom mesmo é ouvi-los do princípio ao fim sem interrupções.

Gosto das raízes indianas, do toque por vezes electrónico, por vezes de trip-hop ou até de rap ou de quaisquer outras coisas que nem sei identificar. Enfim, gosto do Nitin Sawhney.

Destes dois últimos albuns, deixo dois dos vídeos que encontrei no tubo, e um link para uma outra musiquinha: aqui, é só picar em Dead Man. bem gostava de vos deixar links para Mausam ou para Void ou para Noches en Vela mas não dei com elas.




* Obrigada, ó Paulinho!

julho 22, 2008

modernices

Se aqui há cinco, nem tanto, vá lá quatro anos me dissessem que eu ia estar no primeiro dia de trabalho após três semanitas de férias, a abrir, ler, responder, guardar ou deitar fora perto de 200 mensagens de correio electrónico, durante todo o santo dia, eu não ia acreditar.

Mas foi... seeeeeeeeeeeeeeca.

Mas pronto, fiquei a par de quase tudo o que se passou durante a minha ausência.

Amanhã começo a trabalhar.

bivalves gigantes


Nunca as vi em mais sítio nenhum. Só as conheço das ilhas barreira da Ria Formosa e foi aí que aprendi a considerá-las coisa cada vez mais rara e, por isso, preciosa. É-me indiferente que existam aos milhares em qualquer outro canto do planeta; para mim elas são o “ex-libris” das ilhas e, se algum dia as vir noutro local, permitir-me-ei julgar que alguma corrente marítima as levou à má fila das ilhas para aí.

Não sei como é o bicho que vive lá dentro, nunca as vi habitadas, mas sim habitando em todas as casas da ilha em que passo férias, onde perdem definitivamente o seu estatuto de aconchego protector de um qualquer ser vivo para passarem a ter utilizações bem mais prosaicas – saboneteiras, cinzeiros, depósitos de inutilidades-que-se-guardam-à-espera-do-dia-em-que-talvez-sejam-precisas.

Para mim, são objectos belos, com o seu riscado ondulante que deixa adivinhar os períodos de crescimento. Ao que me dizem, dantes apareciam muitas a rebolar nas águas baixas das marés-vazias. Agora, encontrá-las é um privilégio. Podem-se andar quilómetros à beira-mar sem dar com nenhuma, mesmo que os olhos não larguem a areia da maré-baixa.

Caprichosas, não se deixam apanhar por qualquer um, antes escolhendo junto de quem querem passar o resto dos seus dias intactas em vez de se verem reduzidas, mais cedo ou mais tarde, a fragmentos da areia das praias.

O encontro com uma, branca e imaculada, é pois um acontecimento fortuito, fruto do acaso e da conjugação de múltiplos factos e improváveis coincidências.

Esta veio-me bater nos pés no rebentar de uma onda baixinha enquanto caminhava num dos meus longos passeios matinais até à barra. Como se me dissesse: aqui estou eu, leva-me contigo e guarda-me ou oferece-me a alguém que te seja caro. Foi o que fiz.

julho 16, 2008

para não cair

Pergunto-me se existes quando não te vejo tal como me perguntaste se na floresta uma árvore cai realmente se não estiver lá ninguém para ouvir o quebrar dos ramos e do tronco, o gemido ao tombar no solo.

Agora que não estás aqui, interrogo-me se és onde estás, se a suavidade da tua pele na minha só é quando me aqueces enlaçado a mim, a leve aspereza das tuas mãos apenas quando me tocas, muda a tua voz se não me chegam palavras nem silêncios, cegos os teus olhos se não os vejo nos meus.

Como esta areia que agora piso e da qual sinto a quentura, como o compasso das ondas deste mar onde mergulho, como todas as estrelas que pintam constelações no céu e que não sei se aqui ficam quando me for no barco que rasgará a lisura líquida da ria. Tudo ficará atrás de mim ou talvez não, quem sabe tudo isto apenas nos meus sonhos e, se assim for, para trás deixarei somente o vazio do espaço que os sonhos já não preenchem, quem sabe também eu apenas nos sonhos de alguém que de outro alguém igualmente é sonho e nada mais.

Pergunto-me de novo se existes quando não te vejo, de ti guardo palavras e silêncios, a lembrança de uma mão que me afaga e de uns lábios que roçam ao de leve os meus, a memória de um cheiro.

Deito-me então de costas a olhar o céu que não sei se existe e, como tu, agarro-me às ervas para não cair.

junho 25, 2008

explicação do adultério

Ouvido ontem, registado hoje e dedicado a todos os que já salvaram enlaces que não o seu, vulgo "o(a) outro(a)":

"o casamento é um fardo tão pesado, que dois não chegam para o carregar".

Não podia estar mais de acordo. Resta saber quantos são precisos: três, quatro? Dependerá do tédio e de quão morno está o enlace.

Feitas as contas e tiradas as conclusões, o verdadeiro salvador dos casamentos é o adultério. Haja sempre um(a) outro(a) disponível para o fazer no curto/médio prazo e uma lista de candidatos(as) de reserva para ir substituindo.

junho 19, 2008

P2-D3

Pronto, acabou. Horas de jantar.

vá lá

um golinho... os gajos agora até estão a jogar bem

podiam ter jogado assim o jogo todo, né?

olha...

... deu resultado. 3-2, já só faltam 2.

Inch'Allah!

qual é...

... o Deus principal dos turcos? Alá? Vou-me virar para Meca

o comentador...

... diz que estatisticamente Portugal ganha, mas os golos são os alemães que os marcam.

Esta vitória estatística já me dá outro alento

ok...

... já vi tudo.

isto é só porque os alemães são muito altos.

até já adormeci no sofá quando estava 2-1 e quando acordei para ir fazer um xixi ficou 3-1.

(à cautela, não faço mais xixi até acabar o jogo)

Px - Dy

Bom, boraí ver o jogo, então.

Vamos lá ver o meu estado de alma daqui a duas horas.

junho 18, 2008

a perda da perca

Hoje tive um desgosto. Não se pode dizer que tenha sido um ENORME desgosto, mas um desgostozinho, pronto. Vinha eu para casa ao fim da tarde com a Rádio Europa Lisboa sintonizada,

já disse que gosto desta rádio? Pois gosto. Tem uma selecção de jazz que faz bem o meu género e algumas rubricas que gosto de ouvir: "3 minutos de ciência" de Nuno Crato — hoje comprei "a matemática das coisas" à conta desta, "3W's" de Paulo Lázaro — por vezes com dicas interessantes sobre páginas da net, e outras de que agoro não me recordo (a minha memória está de momento apenas sintonizada para os programas com um 3 no nome)

quando começa o 3W's. Pensando bem, o que me agrada mais neste programa é mesmo a voz do Paulo Lázaro. Voz do caneco... Eu ouço o Paulo Lázaro e já nem sei do que ele está a falar de tal forma fico em estado quase catatónico com aquela música — para mim o homem a falar é música nos meus ouvidos.

Bom, então começa o 3W's, eu a ficar em transe e tal, quando às tantas o Paulo fala (por duas vezes, duas) na perca de dados informáticos. Eh pá, caíu-me tudo. É que para mim perca é um peixe — este aqui, oh

foto roubada algures na net

que se pesca em albufeiras e afins, sem qualquer interesse, aliás, já que basta espetar uma bolinha de pão no anzol, lançá-lo com a cana e retirar a perca mole de passividade passados 3 segundos.

Então a voz mais sexy da rádio diz um disparate destes?, pensei eu entre o desgosto e o desgosto. Bolas, o homem é culto, caramba, será que sou eu que estou enganada e "perca", além de peixe e conjuntivo e imperativo lá do verbo perder também é sinónimo de "perda"?

Por via das dúvidas, fui ao ciberdúvidas, as allways e, qual o meu espanto, dou com isto:

Entre estas duas palavras, significando "acto ou efeito de perder", a única diferença existente entre elas é a seguinte: perca pertence à linguagem popular, mas é correctíssima, ao passo que perda pertence à língua culta. Quanto ao significado, não há diferença.

Ai Paulo, Paulo, estás perdoado, môr. Afinal eu sou mas é uma snob.

(...da-se)


junho 12, 2008

no escuro

René Magritte - Les Amants

Como é doce a loucura cega da paixão. Beijamo-nos assim, como se não houvesse amanhã e na pressa esquecemo-nos que não nos conhecemos.

Quem és tu afinal?

Quem sou eu para ti?

Pouco importa sabê-lo, se o aconchego dos meus braços nos teus me dá um instante de ilusão de felicidade. Vivemos cada momento que passa nesse momento que fica. Não te tiro o véu tal como não tiro o meu, escolho imaginar-te como o príncipe encantado dos contos de fadas e prefiro que me sonhes e não me vejas.

Ficamos assim, abraçados num beijo pendurado no tempo. E depois, sem nos termos visto por de trás dos véus que apenas nos deixaram vislumbrar contornos de nós próprios, olhamos para o futuro na mesma direcção, como dois imbecis.