Venho para aqui todas as noites
Ele está lá todas as noites que por ali passo
com o meu sobretudo preto e o saco de plástico branco na mão-esquerda. Se calha ser Verão, não trago o sobretudo por causa do calor mas nunca me esqueço do saco.
sempre com um saco de plástico branco na mão, vestido de preto e de cabeleira branca,
Ponho-me junto a este semáforo no Saldanha ou um pouco mais abaixo na Av. Fontes Pereira de Melo,
umas vezes no Saldanha, outras um pouco mais abaixo
sempre ao pé de uma passadeira que não atravesso. Limito-me a ficar parado aqui onde quase todos dão por mim, a ver os carros que passam e a acenar às pessoas que vão lá dentro.
e diz adeus a quem passa, num doce balanço que acompanha o carro enquanto abre um sorriso desdentado por detrás dos óculos de lentes grossas.
Algumas, muitas, já me conhecem e respondem-me: abrem as janelas, deitam os braços de fora, por vezes as cabeças, e dizem-me adeus enquanto se riem. Outras, limitam o cumprimento a um discreto pi-pii!.
Se vou a guiar dou-lhe uma leve buzinadela, se vou ao lado abro a janela, rio-me para ele e aceno-lhe.
Eu, inclino-me para a frente, faço um sorriso que me faz subir os óculos de aros de massa preta que uso desde sempre, abano a mão direita num gesto de adeus e deixo o meu tronco acompanhar os carros que passam da esquerda para a direita.
Não sei porque faz isto, mas sinto que gosta que lhe respondam. Já o vi ao fim da tarde no Restelo
Não sei porque faço isto, mas gosto. Saio todos os dias da minha casa em Belém, subo ao Restelo, apanho o autocarro e venho para aqui dizer adeus e sorrir. Regresso a casa no último autocarro.
caminhando com o seu saco de plástico na mão. Nessas alturas não sorri, nem diz adeus a quem passa.
Ele está lá todas as noites que por ali passo
com o meu sobretudo preto e o saco de plástico branco na mão-esquerda. Se calha ser Verão, não trago o sobretudo por causa do calor mas nunca me esqueço do saco.
sempre com um saco de plástico branco na mão, vestido de preto e de cabeleira branca,
Ponho-me junto a este semáforo no Saldanha ou um pouco mais abaixo na Av. Fontes Pereira de Melo,
umas vezes no Saldanha, outras um pouco mais abaixo
sempre ao pé de uma passadeira que não atravesso. Limito-me a ficar parado aqui onde quase todos dão por mim, a ver os carros que passam e a acenar às pessoas que vão lá dentro.
e diz adeus a quem passa, num doce balanço que acompanha o carro enquanto abre um sorriso desdentado por detrás dos óculos de lentes grossas.
Algumas, muitas, já me conhecem e respondem-me: abrem as janelas, deitam os braços de fora, por vezes as cabeças, e dizem-me adeus enquanto se riem. Outras, limitam o cumprimento a um discreto pi-pii!.
Se vou a guiar dou-lhe uma leve buzinadela, se vou ao lado abro a janela, rio-me para ele e aceno-lhe.
Eu, inclino-me para a frente, faço um sorriso que me faz subir os óculos de aros de massa preta que uso desde sempre, abano a mão direita num gesto de adeus e deixo o meu tronco acompanhar os carros que passam da esquerda para a direita.
Não sei porque faz isto, mas sinto que gosta que lhe respondam. Já o vi ao fim da tarde no Restelo
Não sei porque faço isto, mas gosto. Saio todos os dias da minha casa em Belém, subo ao Restelo, apanho o autocarro e venho para aqui dizer adeus e sorrir. Regresso a casa no último autocarro.
caminhando com o seu saco de plástico na mão. Nessas alturas não sorri, nem diz adeus a quem passa.
5 comentários:
Foi uma surpresa total, não sabia da existência desta personagem.
Há uns anos havia um em que andava sempre com um ramo na lapela e um bigode pintado, e estendia a mão a toda a gente. Já deve ter morrido...
São os Loucos de Lisboa... que dão muitas vezes cor à cidade, mesmo a preto e branco, como é o caso deste...
Uma crónica notável. Cumpts.
Obrigada amigo Bic. Bjs
Chama-se João. FOi para a rua quando a mãe, com quem vivia, morreu. Um carro apitou-lhe e ele disse-lhe adeus. Não são loucos, são solitários.
Enviar um comentário