Nunca as vi em mais sítio nenhum. Só as conheço das ilhas barreira da Ria Formosa e foi aí que aprendi a considerá-las coisa cada vez mais rara e, por isso, preciosa. É-me indiferente que existam aos milhares em qualquer outro canto do planeta; para mim elas são o “ex-libris” das ilhas e, se algum dia as vir noutro local, permitir-me-ei julgar que alguma corrente marítima as levou à má fila das ilhas para aí.
Não sei como é o bicho que vive lá dentro, nunca as vi habitadas, mas sim habitando em todas as casas da ilha em que passo férias, onde perdem definitivamente o seu estatuto de aconchego protector de um qualquer ser vivo para passarem a ter utilizações bem mais prosaicas – saboneteiras, cinzeiros, depósitos de inutilidades-que-se-guardam-à-espera-do-dia-em-que-talvez-sejam-precisas.
Para mim, são objectos belos, com o seu riscado ondulante que deixa adivinhar os períodos de crescimento. Ao que me dizem, dantes apareciam muitas a rebolar nas águas baixas das marés-vazias. Agora, encontrá-las é um privilégio. Podem-se andar quilómetros à beira-mar sem dar com nenhuma, mesmo que os olhos não larguem a areia da maré-baixa.
Caprichosas, não se deixam apanhar por qualquer um, antes escolhendo junto de quem querem passar o resto dos seus dias intactas em vez de se verem reduzidas, mais cedo ou mais tarde, a fragmentos da areia das praias.
O encontro com uma, branca e imaculada, é pois um acontecimento fortuito, fruto do acaso e da conjugação de múltiplos factos e improváveis coincidências.
Esta veio-me bater nos pés no rebentar de uma onda baixinha enquanto caminhava num dos meus longos passeios matinais até à barra. Como se me dissesse: aqui estou eu, leva-me contigo e guarda-me ou oferece-me a alguém que te seja caro. Foi o que fiz.
4 comentários:
É importante estarmos atentos aos elementos que se cruzam connosco. E aprender a reconhecê-los como tesouros.
Estas férias fizeram-te mesmo bem, hein?
Já te disse que tinha saudades? Bora almoçar amanhã?
Beijo
É linda... nas tuas mãos ou nas de outrem, ficará como talismã para que as próximas férias sejam pelo menos tão boas como estas, das quais gostei de partilhar um bocadinho de uma tarde à beira-mar! Beijinhos.
Que sorte, a de quem a recebeu!
São lindas, sim e raras. Também só as vi em casas (herdámos algumas :)).
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