março 20, 2008

dia do pai - direitos de pais e filhos

foto roubada na net


Quando eu era pequena, os dias de oferecer e de receber presentes eram o do aniversário, o de Natal, o da mãe e o do pai.

Agora há mais "dias de" a que não ligo nenhuma, mas ao dia da mãe e ao dia do pai ligo. Gosto de receber um mimo no dia da mãe e de dar um à minha mãe e, no dia do pai, sendo que o meu pai já nos deixou, há o pai do meu filho.

E é pensando no pai do meu filho e no meu filho que gostava de deixar aqui o meu testemunho.

Voltas que a vida dá, o pai do J e eu separámo-nos pouco depois do nosso filho nascer, após 10 anos de relacionamento (8 de namoro e 2 de casamento). Não fui eu que quis essa separação. Fiquei mal, fiquei magoada, sentida. Senti-me traída, abandonada num projecto a dois. Não gostei, de todo.

Mas todo esse mau estar nunca me fez perder a racionalidade que, desde então até agora tem norteado a minha postura: uma coisa é o relacionamento de dois adultos, outra muito diferente é a relação entre os pais e os filhos e os direitos que todos têm. Os pais, o direito e o dever de acompanharem o crescimento e de educarem os filhos, os filhos, o direito de terem pais presentes de quem tenham uma imagem positiva. Não sou psicóloga, nem pedagoga, nem nada que se assemelhe. Mas o bom senso sempre me ditou que, para a formação do meu filho enquanto ser humano era essencial ter uma imagem positiva do pai que, diga-se de passagem, é óptima pessoa. Mas mesmo que não fosse.

Eu e o pai do J separámo-nos. Mas tínhamos, temos, em comum o que há de mais sagrado: um filho. Um filho com direitos que nenhum de nós pode sonegar. Por maior que fosse a minha mágoa na altura, os direitos do meu filho e do pai dele sempre estiveram em primeiro lugar. O J cresceu com os pais separados mas presentes, sempre. O pai e a mãe. Nunca o J ouviu da minha boca enquanto crescia qualquer menção ao seu pai que não fosse positiva e tenho a certeza que o pai dele fez o mesmo. E parece-me tão óbvio que esta imagem positiva dos pais seja essencial para o desenvolvimento de uma criança, para a sua estabilidade emocional, que não consigo perceber como é possível que pais, mães, que amem os seus filhos com A grande, os utilizem como cavalos de batalha em guerras das quais eles não têm a menor culpa.

Vivo rodeada por exemplos desses, entre amigos e familiares e deparo-me com comportamentos que considero verdadeiramente criminosos por parte, sobretudo, das mães. Com que direito pode uma mãe impedir os filhos de se relacionarem com o pai?

Excluindo casos de insanidade ou de criminalidade, com que direito?

Quando ouço homens separados dizerem com ar triste que só podem ver os filhos um fim-de-semana de 15 em 15 dias e que às vezes nem isso, pois as mães arranjam pretextos para que os encontros não se concretizem, quando ouço mulheres dizerem que os filhos não precisam dos pais para nada, quando conheço casos de mães que levam os filhos pequenos a fazerem telefonemas aos pais papagueando agressões verbais que elas lhes ensinam, quando sei de meninos que são deixados à porta de casa pois os pais não se falam e não se podem nem ver, a minha alma pasma.

Isto é estupidez, é maldade, é o quê?

Neste dia do pai, penso nos pais que se vêem privados dos seus filhos e nos filhos a quem as mães roubaram os pais. E lamento que haja mães que ponham a sua mesquinhez à frente dos direitos dos seus próprios filhos.

Notas de rodapé sobre a minha experiência (é tão fácil, afinal):

- Depois daqueles primeiros tempos em que a presença da mãe é mais importante por razões "umbilicais", o J sempre viveu 15 dias com a mãe, 15 dias com o pai. Antes disso o pai do J via-o sempre que queria.
- Eu sempre fui a casa do pai do J e vice-versa. Para jantar, para falar, para brincar. Sempre que possível, havia saídas a 3.
- Nunca o J ouviu menções menos honrosas sobre namorados/namoradas dos pais.
- Quando o J começou a ser mais independente, a ir sozinho para a escola, eu e o pai do J procurámos casas próximas um do outro e próximas da escola.
- Quando o J nos disse que 15 dias em cada casa não era suficiente para se adaptar aos ritmos de cada uma e que preferia períodos mais longos, passou para um mês.
- Durante esse mês, o J sempre teve a presença do outro progenitor, sempre viu os pais quando quis.
- Eu e o pai do J mantemos uma sólida relação de amizade e vemo-nos com regularidade.
- Tudo isto à revelia do tribunal que estipulou, mesmo depois de recurso, que o J ficaria apenas à minha guarda. Nada de guardas conjuntas. Ok, levem lá a bicicleta. Cagámos na decisão do juiz e fizémos o que bem entendemos.
- O pai do J teve uma filha que tem agora dois anos. É irmã do meu filho. É como se fosse do meu sangue e adoro-a.
- O meu filho, à beira da maioridade, é um rapaz equilibrado e feliz.

5 comentários:

ana v. disse...

Grande post, tcl.
Subscrevo inteiramente porque fiz o mesmo que tu, com os meus filhos. E não me arrependo. Mas sei que nem sempre é possível fazê-lo, e também sei que para o ter conseguido tive que engolir vários sapos pelo caminho. Porque as atitudes que implicam carácter têm o seu preço. Eu paguei-o com a certeza de que estava a fazer bem, mas digo-te que não foi fácil. Talvez o teu caso tenha sido mais pacífico. E por isso é muito importante este teu testemunho sincero e lúcido.
Um beijinho

Alf disse...

A minha vénia aos grandes pais do J.

A minha experiência pessoal não é tão bonita mas, apesar de tudo, considero-a muito positiva para um saudável crescimento dos miúdos.

Mas teve um pós-separação complicado...


Um beijo e parabéns a ti e ao Pai do J.

Daniela disse...

Concordo plenamente!
Felizmente não passei por isso, mas profissionalmente vejo essa guerrilha muitas vezes e não concebo como é que dois adultos não conseguem pôr as questões deles à parte no interesse dos filhos, fazendo-os sofrer ainda mais do que com a separação.
E normalmente, quem usa os filhos são as mães...

José Pedro Viegas disse...

Belo Post Teresa.
E belo exemplo também. Muito a propósito, pelo "dia do Pai" como também pela violência nas escolas.
O comportamento das nossas crianças, dos nossos alunos, apesar dos falhas dos professores e da politica educativa, dos erros crassos dos nossos governantes, não chegam aos calcanhares dos erros dos Pais na educação dos seus filhos.
Tu és um bom exemplo de como se educa no respeito e na amizade, na flexibilidade, no diálogo, no bom ambiente e nos valores da educação e do respeito de e para com o outro.
Os Pais deste País estão a necessitar de uma reciclagem.
Boa Páscoa.

JP

Gonçalves disse...

Não me vou alongar para não repetir o que já foi dito atrás. Apenas isto, gostei muito mas mesmo muito de ler este post.
Se todos os pais separados pensassem assim...O insulto gratuito é o mais fácil. Pior é o brinquedo que anda ali no meio da "guerra".
Pronto, não escrevo mais que isto dá pano para mangas, calça e casaco.
;-)