novembro 19, 2007

meninas na Índia


Goa, 2005

Hoje depois do jantar, contrariamente ao que é habitual, deixei-me ficar a remanchar no sofá em frente da televisão. No zapping dei com uma reportagem que passava na Sic N sobre as meninas indesejadas na Índia. Já todos conhecemos esta história: uma sociedade em que os casamentos são arranjados pela família, em que é um estigma social não casar os filhos, em que as filhas têm de ir acompanhadas de chorudos dotes que arruinam as famílias.

Isto significa que ter um filho é encarado como uma riqueza que vai um dia entrar na família, ter uma filha equivale a ruína daí por uns anos.

A reportagem acompanhava uma mulher que gere um asilo para crianças abandonadas, nos seus esforços para mudar as mentalidades das pessoas: convencer as mulheres a não abortarem quando sabem que a criança que geram é do sexo feminino ou a não abandonarem as meninas recém-nascidas; tentar, na internet (!), arranjar para as suas protegidas maridos pertencentes a famílias que não exijam o dote; construir um abrigo do lado de fora do asilo para as mulheres deixarem as suas meninas protegidas do tempo, em vez de largadas no chão.

Os abortos de bebés do sexo feminino dão-se, curiosamente, tanto em famílias pobres, como em famílias da classe média/alta, onde a questão do dote parece, à primeira vista, não acarretar problemas. Nas aldeias festeja-se o nascimento de um rapaz durante 7 dias e ignora-se o nascimento das raparigas. As grávidas medicam-se e seguem a gravidez com cuidado se sabem que vão ter um rapaz e descuidam-se com a sua própria saúde se esperam uma menina. Faz impressão ver uma mulher dizer que um filho traz alegria e uma filha só traz tristeza, quando ela própria é uma mulher.

Com tudo isto, há regiões da Índia em que a quantidade de mulheres é já 20% inferior à dos homens que correm assim o risco de não arranjar mulher senão a centenas de km de distância. E mesmo assim as coisas não mudam.

Na minha cabeça de ocidental nada disto faz sentido. Pareceria lógico, se pensarmos puramente em termos de mercado, que, sendo a mulher um bem escasso, teria maior procura e aumentaria o seu valor. Mas não. As tradições continuam a ter um peso que se sobrepõe à lógica.

Admirei a coragem e a abertura de espírito daquela mulher, que senti sozinha a lutar contra um infindável exército sem outra arma que não a sua boa vontade.

3 comentários:

Mad disse...

Qualquer dia vou lá buscar uma! Vou!

O gato, já apareceu?

Teresa disse...

Tão triste, tão triste...

Que história é essa de o Gaston ter desaparecido?
Beijo.

tcl disse...

para que conste: o meu queridíssimo gato não desapareceu. Apenas disse que "o gato não me chega", no sentido de não ser suficiente para me aquecer...