janeiro 01, 2007

GRAFFITTIS



Gosto de graffittis. Gosto de os fotografar. Gosto de ler as mensagens deixadas por anónimos a outros anónimos, mensagens de raiva, de amor,


de desejos, por vezes simples necessidade de deixar uma marca própria nos muros da cidade, de repente transformados em telegramas, em pinturas sem jeito, por vezes em obras de arte. Gosto do lado clandestino de fazer uma coisa proibida, de imaginar sombras a correr no escuro da noite tropeçando em latas de tinta e pincéis, esquecendo sprays e moldes para trás.


Quero muito quê - dinheiro?

Um dia destes passei em frente do El Corte Inglês e, pintada a letras amarelas nos separadores de plástico que condicionam o trânsito durante as obras que ali se arrastam, a frase “Ângela, por favor sê feliz comigo”. Imaginei a Ângela a sair cansada das oito horas atrás do balcão para apanhar o autocarro e deparar-se com aquela prova de amor supremo: “Ângela, por favor sê feliz comigo”. Ele não pede que ela lhe dê nada, não exige nada, apenas quer que ela seja feliz e com ele. Se eu fosse a Ângela e este rapaz me agradasse, corria sem hesitações para os seus braços. Que mais pode uma mulher querer dum homem do que ele tenha como maior desejo o fazê-la feliz e não se envergonhe do o dizer, em letras garrafais a quem passa?
E depois, às vezes, ganhamos destas surpresas.
Ainda hoje tenho dúvidas se quem me ofereceu esta fotografia, encontrou isto assim, por um acaso da vida, ou se, também clandestino e pela calada da noite, lá foi deixar esta mensagem, expressamente para mim. Prefiro pensar que foi esta última hipótese.

E, malgrado a barafunda em que muitas paredes se transformam, a trabalheira que é para os serviços municipais limpar e voltar a limpar as paredes (e este lado efémero dos graffittis também me encanta), a falta de respeito que muitos “autores” demonstram por determinados locais, deixando mensagens em monumentos e estatuária, continuo a gostar de graffittis e a fotografá-los sempre que posso.


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