janeiro 16, 2007

Sorriso

Guardo no bolso preciosidades que fui colhendo ao longo da vida.

Pedrinhas, conchas, um pequeno porta chaves com um mundo de coca-cola que um amor antigo me deu, flores secas em papelinhos que apanhei em vários pontos do mundo, dezenas de pequeninos ovos de chocolate na minha caixa do correio numa Páscoa já distante, o meu nome escrito à socapa no troço do muro de Berlim que esteve exposto no CCB, uma fotografia do meu pai, bilhetinhos de amor trocados nos bancos da escola, olhares, sabores, beijos, sorrisos, sussurros na orelha, palavras de amor ditas e ouvidas, afagos que dei e recebi.


São tantas as coisas, que quando quero alguma, muitas vezes tenho de tirar tudo para fora e, depois de muita busca por meio do cotão e dos restos de migalhas, lá consigo encontrar o que procuro. Nessas alturas, aproveito para limpar tudo, tirar o cotão e as migalhas, e relembrar em cada objecto a memória que me fez guardá-lo.

Este sorriso foi das últimas coisas que guardei no bolso. Como está lá há pouco tempo, é fácil de encontrar. Ainda está por cima das outras coisas, (não lhes tenho mexido muito ultimamente), esperando que outras preciosidades se lhe juntem e o empurrem um pouco mais para o fundo, até nova arrumadela.

Gosto de sorrisos e deste em especial pois roubei-o quando olhava para mim. É bonito este sorriso e de cada vez que o tiro do bolso para o olhar, algo se liquefaz no meu peito e sinto-me feliz.

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