janeiro 22, 2007

Untill the end of the world

Como tantos outros, também nós nos separámos.
Como poucos, ficámos amigos, unidos por um filho que amamos e por uma cumplicidade que faz com que, à nossa maneira, ainda hoje e tantos anos passados, outras vidas refeitas, nos amemos ainda.

Já bem depois de saires de casa , vieste um dia com um dos teus desenhos, este:

onde escreveste, baseada na tradução livre dos U2 de "Untill the end of the world", isto:

Há muito tempo que não nos víamos
Do meu buraco só vejo passar o tempo
A última vez que estivemos juntos
Estávamos perto como irmãos ou noivos,
Comemos, bebemos vinho,
Todos se estavam a divertir, um pouco,
Excepto eu
Eu só falava do fim do mundo.

Gastei dinheiro, comecei a beber,
Vais ter saudades desses dias,
Se pensares neles.
No nosso rio, o meu papel era
A corrente
Beijei os teus lábios, parti-te
O coração.
E tu portaste-te como se fosse
O fim do mundo

No meu sonho nadava em dor
Dor que me envolvia, que
Entrava dentro de mim, que
Redemoinhava por sobre mim.
No meu naufrágio tentava agarrar-me
Ao mundo que tinha destruído
Tu disseste que esperavas
Até ao fim do mundo.

Chorámos os dois, tu partiste como sempre, e eu guardei o desenho, o poema e o teu amor até ao fim do mundo.

1 comentário:

José Pedro Viegas disse...

Sabemos que as mudanças provocam sempre confusões e perplexidade.
É ponto assente que se resiste às mudanças. Resiste-se ao “novo” e ao “diferente”, por medo, incomodidade, receio de falhar ou ficar para trás. Acabamos por ir aderindo às mudanças “úteis”, sem alterar conceitos já estabelecidos.
O problema da mudança, não é o futuro, mas a memória.
Todos somos maleáveis e adaptáveis, para poder conhecer coisas diferentes, tornarmo-nos íntimos de pessoas ou objectos. Desde que deixemos que isso faça parte do nosso processo mental, não será o futuro que será empecilho da mudança, mas sim a nossa cabeça, a nossa adaptação, o nosso “eu” confortável.
A memória, as imagens que permanecem, as recordações que ficam mais tempo do que deviam, o grito no ouvido, que no outro tempo é que era bom.
Naturalmente era, naturalmente não era.
Mas temos essa relação, essa amizade como exemplo.