janeiro 24, 2007

Todo o tempo do mundo


A lua está fria. E distante. Tudo está longe de mim. O ar vai ficando mais pesado porque o tempo não passa. Há coisas a começar e a acabar neste exacto instante, vidas e sonhos, e ondas do mar e estrelas, e palavras e encontros…

E eu estou aqui parada. Não sei se à espera que algo comece ou acabe em mim, ou, se pelo contrário, desejando que tudo permaneça estático, imutável como uma fotografia amarelecida pelo tempo, que captou um instante sem passado nem futuro.

Lá fora o mundo corre apressado, tudo se move num contínuo vai e vem de acontecimentos que passam ao lado deste quarto em que me fechei dentro de mim mesma, indiferentes ao tempo que parou em mim.

Olho pela janela e vejo a vida dos outros como um filme que corre rápido de mais. Num minuto um primeiro beijo, no seguinte um adeus para sempre, as flores que desabrocham e logo os frutos que caem de maduros no chão, a maré cheia e logo vazia, todas as fases da lua numa hora, um ribeiro que já é um rio, um barco que chega e parte sem atracar no cais, o Inverno trocado pelo Verão sem dar tempo ao florir da Primavera.

E eu aqui parada. À espera não sei de quê, num quarto abafado pelo tempo que não passa, longe da vida que corre sem mim e a ver passar a dos outros através duma janela fechada.

Hoje abro a janela e sinto que saio por ela, como que flutuando dentro de uma bola de sabão, ao correr da brisa, envolta num silêncio profundo que é esse meu pequeno mundo. E vejo o outro mundo, aquele em que eu não estou, correndo no seu ritmo real e percebo que todas as coisas têm afinal, o seu tempo próprio. O tempo de nascer e de morrer, de sonhar, de arrumar memórias do passado e desenhar lentamente outro futuro.

Olho para o céu e descubro mais uma estrela, o luar da lua cheia fá-la parecer mais próxima e aquece-me a alma, deixo que as ondas me molhem os pés de cada vez que sobem a praia.

Tenho todo o tempo do mundo.

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