maio 30, 2008

uma pele de anjo e um balão

O meu amigo M que, devo dizer, é um homem muito bonito e de charme dificilmente ultrapassável, apresenta algumas parecenças com este anjinho.

Os mesmos olhos azuis, a mesma pele mate, lisa e quase ausente de pelo, a mesma boca generosa. Por essa razão, quando ele e a nossa amiga H foram ao México, trouxeram um par destes anjos esculpidos numa madeira leve como espuma, um para cada um, à laia de recordação.

Esta semelhança de M com os anjos mexicanos encontra razões perdidas algures na sua árvore genealógica que duas bisavós índias, roubadas às selvas amazónicas por dois bisavôs de fartas bigodaças, ornamentam com os seus cocares de penas e colares de pedrinhas.

Até M me contar a história da sua ascendência, sempre me espantara como é que um homem louro e de olhos azuis tinha aquele tom de pele dourado, como se passasse o ano todo na praia. O que acontece afinal é que M tem avós caboclos o que só me vem comprovar esta ideia que eu tenho de que na mestiçagem é que está a verdadeira virtude.

Quando penso nesta história das bisavós índias de que não conheço nada, imagino duas mulheres já meio ocidentalizadas, com vestidos de anquinhas e sapatos de cetim a apertarem pés calejados, desembarcando no Porto com os olhos parados de espanto de quem nunca viu tanta ausência de verde. Duas mulheres a cheirarem a terra e a fumo, com gritos de araras misturados na cabeça com o repicar dos sinos das igrejas. Não faço ideia se tinham algum parentesco, se vieram juntas ou separadas. Romanceio que os homens eram amigos, que andaram pelos Brasis e acabaram trazendo estas mulheres no regresso à terra.

Com este enredo é possível que uma delas tenha consolado e amparado a outra no dia em que um dos bisavôs (não há dúvida que estes homens eram aventureiros natos), se meteu com mais dois amigos num balão que levantou voo da Torre dos Clérigos, subiu por ali acima entre salvas e gritos da multidão e nunca mais foi visto. Até hoje.

3 comentários:

Maria do Consultório disse...

Muito bonito. O conto...e se calhar o M.!

Daniela disse...

Eu já ouvi essa história do balão na minha familia... provavelmente o meu antepassado era um dos amigos!
Mas sempre achei que essa história era uma invenção das que passam de geração em geração!
Vou tentar averiguar

MariaV disse...

Tem piada, nunca tinha pensado nisso, da cor da pele do M... (O M e a H só podem ser quem estou a pensar, não é?) E a história dos bisavós é linda, realmente. E ele também! E embora parecido com o anjo mexicano, ele é muito mais bonito, claro!