Há sítios onde fui e não me apetece voltar, há outros que quando lá estive pensei em regressar um dia mas já a saber que provavelmente não o faria, e outros onde sei que os meus pés vão pisar de novo.
Sei que, mais cedo ou mais tarde, vou voltar a Goa. Sei que um dia vou sair dum avião e sentir desde logo aquele cheiro quente verde e vermelho da terra e das plantas, aquela humidade que se pega à pele. Sei que vai estar um jipe do Panjin'in à minha espera e que, se o motorista não for o Bapa, vou fazer aqueles quê, 20 km(?) de estrada com um olho aberto e outro fechado, as costas enterradas no banco, um credo na boca a ver em que camião é que vamos bater de frente nas loucas ultrapassagens pela estrada estreita. Todos os goeses, excepto o Bapa, têm uma forma curiosa de conduzir: põem o velocímetro lá na velocidade de cruzeiro de que gostam e depois nunca travam. É sempre a andar e, se estiver um carro à frente mais lento, ultrapassa-se. Se vier alguém em sentido contrário, que se chegue para a berma pois havemos de caber os três. É assim em Goa.
Claro que não é o estilo de condução que me faz querer voltar a Goa. É o cheiro e o ar doce. São as famílias católicas com as meninas de vestidinhos brancos e rendados de primeira comunhão misturadas com as outras de coloridos saris nos mesmos mercados a abarrotar de vegetais e frutos e flores amarelos e vermelhos. São as Igrejas com nossas senhoras de fátima ao lado dos templos hindus, é beber um batido de manga num café chique em Margão, é o bairro das Fontaínhas em Panjin e os pequenos almoços na varanda do Panjin'in.
É vagabundear pelo mercado de Anjuna a mexer em tecidos de seda e joias de pechisbeque enquanto uma vaca passa ao lado, fazer conversa numa qualquer tenda (quase todas) onde haja um sorriso simpático numa cara morena e uma mão que pega na minha e me afaga o braço.
É ficar uns dias na praia em Palolem, com sorte num quartinho de pedra e cal virado para o mar, com menos sorte num bangalow de canas por baixo das palmeiras por onde saltam macacos, ver os pescadores a escolher o peixe na areia ao fim da tarde e, de manhãzinha, a menina que trabalha no bar a varrer a areia da praia com inusitado esmero, na mão uma vassourinha curta que a obriga a curvar-se sempre.
São os hippies que ficaram dos anos setenta e usam as mesmas fitas nos cabelos compridos mas já brancos e as mesmas roupas com flores onde está escrito "make love not war" e se deitam pelos almofadões dos bares de praia a cheirar insenso e a fumar ganzas ao som de Cat Stevens.
São os táxis azuis turquesa, os tuctucs pretos e amarelos que são para dois mas onde podem ir quatro, são as motos com um casal e três filhos em cima, são os autocarros que têm um motorista, um pica-bilhetes e outro homem que se pendura da porta e grita a avisar as pessoas que vem aí.
E nem digo nada da comida, céus, que bem se come em Goa.
E é por tudo isto e muito mais que agora me escapa que gostava de voltar a Goa.
(E logo mais ponho as fotografias que já é tarde)
E cá vão elas uns dias mais tarde (20/5)
Foto JFD - Bapa, o melhor motorista de Goa
Foto TCL
Foto JFD - dentro do autocarro
Foto JFD e TCL - mercado de Calangute
Foto JFD - Descanso em Palolem
Fotos JFD - Palolem
Foto JFD - Quarto na praia em Palolem
17 comentários:
não carece Amiga TCL .. as fotografias quero dizer.
Estive lá e vi tudo :)
Parabéns !
Ah, Once, mas aqui tenho mesmo de pôr umas fotografias, para quem não foi e não viu. Por mais cor que tenha o texto, não chega. E o cheiro... Nunca hei-de conseguir explicar um cheiro misto de terra, calor e especiarias.
É uma das nossas próximas viagens. Daquelas que estamos sempre a juntar dinheiro para ir, porque queremos mesmo. É um bocadinho regressar às origens e procurar os antepassados e a família da qual já sinto que faço parte! Como não sentir, quando se come caril e xacuti em plena noite de Natal?
Quem já foi deixa-nos o desejo de ir, traz-nos as especiarias, as fotografias, as sedas e os 'recuerdos' que são entregues numa mesa repleta de iguarias goesas. E fica sempre a pontinha de inveja por ainda não termos ido, mas a certeza de que iremos, em breve!
beijinhos e parabéns pelo texto
A descrição é tão boa que a vontade que eu tinha de conhecer a Índia michou... Beurgh!
Deprime-me o encanto e a atracção que Primeiro Mundo têm pelo Segundo e pelo Terceiro.
Valha-nos a diferença!
Sofia, força com o regresso às origens!
Zé SC - Realmente não te estou a ver em Goa e muito menos no resto da Ìndia da qual só conheço Bombaím. Uma cidade onde não me apetece voltar, de todo.
Chama-se a isto, caros leitores, "um post com categoria"! Que prosa, rapariga!
Sabes, gostei tanto que tive que te ler em voz alta, e logo aos meus pais.
Pois tenho a dizer-te que também eles ficaram fãs. Por isso... :)
Olha, quando estiveres a pensar em lá voltar, e se quiseres (ou precisares de) companhia, tu diz!... :)
Beijos.
Boa, Pedro! boraí a Goa!
adoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
RoXane ChonChol www.aftercontemporary.blogspot.com
TCL, achei giro porque a minha irma acaba de chegar de uma viagem a india em que viajou por muitas regioes e nao gostou tanto de outra regiao senao de goa. Dei-lhe a ler o teu post.
silvia paradoxal
Eu vou este ano, TCL. Macacos me mordam se não vai ser este ano! Há anos que ando a planear a viagem...
Tcl, esta tocou-me cá no fundo. Ando há anos para ir a Goa, onde nasceu o meu Avô paterno e onde ainda moram tios-avós e primos de várias gerações. Estou careca de ver fotos e filmes, já mandei presentes para a família por interposta pessoa, sinto-me viajar de cada vez que o meu Pai ou as minhas Tias cozinham as iguarias de que fala a Sofia (num comentário que me comoveu)... a minha vez de voar até às origens ainda não chegou, mas não tardará. Sobretudo quando a cara-metade partilha o entuasiasmo e o amor a essa Índia ainda ignota. Beijinhos!
Olá TLC,
Vamos primeiro às confissões e depois às confissões :). A Índia nunca me entusiasmou sem que eu consiga explicar porquê, eu alguém nascido em África e sentindo-me africano de pele branca. Ah, mas a Índia não é África, dir-me-à. Será por isso? Há uns tempos a esta parte fui-me entregando aos poucos ao fascínio que a Índia exerce sobre amigos que a conhecem. Lendo uma coisa aqui, outra ali e... e digamos que estou mais atento. Falta a segunda parte da confissão. Confesso que as suas palavras (fotos para quê? como diz a Once e com propriedade, já que eu também estive lá ao lê-la)... caramba, assim perco-me... dizia eu que as suas palavras foram como mais um sininho a tocar nos ouvidos. Parabéns. Agora, se me permite, vou dar uma vista de olhos no Falabarato.
Ah, e parabéns de novo, estes atrasados, pelo dia 13 de Maio. :)
... bem me parecia... Falabarata, desculpe. (isto já é um abuso). :)
obrigada Mike, sê bem vindo e volta sempre!
:)
Pronto! Já conseguiste estragar-me os planos todos de viagens que eu tinha para os próximos tempos. Eu sempre quis ir à India mas, embora já tivesse sido prioridade, agora estava semi em standby. Vou ter que refazer todos os meus planos. Culpa tua!
;)
pois um andarilho é assim como um globe-trotter, não? Pois só te digo, se és mesmo andarilho, pés ao caminho e Goa contigo. Não te vais arrepender. Inevitável uma escala em Bombaim. Fá-la curtinha... tanta miséria doi.
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