maio 30, 2008

uma pele de anjo e um balão

O meu amigo M que, devo dizer, é um homem muito bonito e de charme dificilmente ultrapassável, apresenta algumas parecenças com este anjinho.

Os mesmos olhos azuis, a mesma pele mate, lisa e quase ausente de pelo, a mesma boca generosa. Por essa razão, quando ele e a nossa amiga H foram ao México, trouxeram um par destes anjos esculpidos numa madeira leve como espuma, um para cada um, à laia de recordação.

Esta semelhança de M com os anjos mexicanos encontra razões perdidas algures na sua árvore genealógica que duas bisavós índias, roubadas às selvas amazónicas por dois bisavôs de fartas bigodaças, ornamentam com os seus cocares de penas e colares de pedrinhas.

Até M me contar a história da sua ascendência, sempre me espantara como é que um homem louro e de olhos azuis tinha aquele tom de pele dourado, como se passasse o ano todo na praia. O que acontece afinal é que M tem avós caboclos o que só me vem comprovar esta ideia que eu tenho de que na mestiçagem é que está a verdadeira virtude.

Quando penso nesta história das bisavós índias de que não conheço nada, imagino duas mulheres já meio ocidentalizadas, com vestidos de anquinhas e sapatos de cetim a apertarem pés calejados, desembarcando no Porto com os olhos parados de espanto de quem nunca viu tanta ausência de verde. Duas mulheres a cheirarem a terra e a fumo, com gritos de araras misturados na cabeça com o repicar dos sinos das igrejas. Não faço ideia se tinham algum parentesco, se vieram juntas ou separadas. Romanceio que os homens eram amigos, que andaram pelos Brasis e acabaram trazendo estas mulheres no regresso à terra.

Com este enredo é possível que uma delas tenha consolado e amparado a outra no dia em que um dos bisavôs (não há dúvida que estes homens eram aventureiros natos), se meteu com mais dois amigos num balão que levantou voo da Torre dos Clérigos, subiu por ali acima entre salvas e gritos da multidão e nunca mais foi visto. Até hoje.

maio 29, 2008

giving up

Hoje tenho estado assim. À beira de giving up. Não acredito que haja um lugar a que pertençamos.

No entanto gosto de Peter Gabriel. E de Kate Bush. E ainda mais de Peter Gabriel com Kate Bush.



In this proud land we grew up strong
we were wanted all along
I was taught to fight, taught to win
I never thought I could fail
No fight left or so it seems
I am a man whose dreams have all deserted
I've changed my face, I've changed my name
but no one wants you when you lose

Don't give up
'cause you have friends
don't give up
you're not beaten yet
don't give up
I know you can make it good

Though I saw it all around
never thought I could be affected
thought that we'd be the last to go
it is so strange the way things turn
drove the night toward my home
the place that I was born, on the lakeside
as daylight broke, I saw the earth
the trees had burned down to the ground

Don't give up
you still have us
don't give up
we don't need much of anything
don't give up
'cause somewhere there's a place
where we belong

Rest your head
you worry too much
it's going to be alright
when times get rough
you can fall back on us
don't give up
please don't give up

'got to walk out of here
I can't take anymore
going to stand on that bridge
keep my eyes down below
whatever may come
and whatever may go
that river's flowing
that river's flowing
Moved on to another town
tried hard to settle down
for every job, so many men
so many men no-one needs

Don't give up
'cause you have friends
don't give up
you're not the only one
don't give up
no reason to be ashamed
don't give up
you still have us
don't give up now
we're proud of who you are
don't give up
you know it's never been easy
don't give up

'cause I believe there's a place
there's a place where we belong

maio 28, 2008

capacidades escondidas

Curioso... Recebi isto hoje por e-mail, no meio daqueles disparates que recebemos diariamente, mas a este achei graça. Que o nosso cérebro percebia perfeitamente que um 3 pode ser um E, que um 7 pode ser um T, um 5 um S, um 4 um A e por aí fora já eu sabia. Agora a cena das letras baralhadas nunca me tinha aparecido e não deixa de ter piada a forma como se consegue ler tão facilmente o texto abaixo.
Ora experimentem:

O nosso cérebro é doido!!! De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa.


O próximo é o tal dos números, já mais conhecido, pelo menos para mim. Fica para quem nunca experimentou:

Fixe os seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia correctamente o que está escrito.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5.
VC É DEMAIS!!!!!!!!!!!

maio 26, 2008

o espanhol...

... é uma língua que sempre me surpreende.

Hoje, na minha caixa de correio uma mensagem de spam com o seguinte título:

"oportunidad de aumentar sus ganancias"

Fantástico.

Se algum dos meus leitores quiser aumentar as suas ganâncias, é só dizer que eu reencaminho.

nomes

O nome com que se baptiza um negócio é, indubitavelmente, importante para o sucesso do mesmo, não é? Por outro lado, revela de certa forma a qualidade dos neurónios do negociante, não é? Por exemplo, chamar "bolo podre" a uma pastelaria, mesmo que o bolo podre exista na nossa doçaria tradicional e até seja bom, não é uma boa ideia, tal como um consultório de medicina dentária não se deve chamar "o dente furado" nem uma florista "folhas caídas". Enfim, creio que estão a ver a minha ideia.

Hoje passei por aqui:



"O anão tareco"? "Para crescer feliz"? Para o anão tareco crescer feliz? Tarecos são os gatos e os desgraçados que tiveram o azar de nascer com uma alteração genética que os impede de crescer têm muito pouco que ver com crianças.

Enfim, falta de talento.

maio 24, 2008

explosão de roxo


Gosto de pensar a minha cidade ao ritmo das árvores, saber que quando nos freixos começam a rebentar as primeiras folhas de um verde brilhante em breve todos os outros troncos despidos formarão as suas copas e que, quando finalmente caírem as últimas folhas dos choupos, o inverno estará a chegar.

Gosto de assim sentir a passagem do tempo modificando as cores e os cheiros de Lisboa, os contrastes de luz e sombra, doce brisa ou vento que embaraça cabelos e revira chapéus-de-chuva.

Nesta altura do ano são os jacarandás. A floração faz-se anunciar previamente por um cheiro acre e quente que me faz lembrar as estevas no verão e, passados uns dias, Lisboa rebenta de roxo e lilás numa beleza estonteante mas breve, primeiro nas copas, depois nos passeios da calçada que fica escorregadia e peganhenta de tanta flor.

O melhor ainda, é naqueles anos em que os jacarandás se esquecem que estão no hemisfério norte, baralham o calendário e desatam a florir em outubro como que num desesperado regresso às origens ditado por um relógio antigo que não lhes abandona os genes. Não sei porquê, não acontece todos os anos mas isso encanta-me pelo sabor especial que vem das coisas que não temos como certas. Terá de passar setembro para saber.

auto-retrato

E ando eu a ter aulas na SNBA... Bom, isto só prova que com treino e, se calhar, uma dose de ração melhorada em caso de sucesso, qualquer um chega lá, o que é preciso é ser persistente e não desistir.

Por mais circense que possa parecer a habilidade que o video nos mostra, não deixa de ser espantosa a delicadeza com que a tromba pega no pincel e aviva um traço que ficou mais leve à primeira passagem. Como dizia o amigo que me enviou este link, fucking unbelievable!

maio 20, 2008

ufa!

E pronto. Já pus umas quantas fotos de Goa aqui.

maio 16, 2008

Já é meia-noite?

Já?

Então muitos parabéns, alf!

descaradamente copiado daqui

gostava de voltar a goa


Há sítios onde fui e não me apetece voltar, há outros que quando lá estive pensei em regressar um dia mas já a saber que provavelmente não o faria, e outros onde sei que os meus pés vão pisar de novo.

Sei que, mais cedo ou mais tarde, vou voltar a Goa. Sei que um dia vou sair dum avião e sentir desde logo aquele cheiro quente verde e vermelho da terra e das plantas, aquela humidade que se pega à pele. Sei que vai estar um jipe do Panjin'in à minha espera e que, se o motorista não for o Bapa, vou fazer aqueles quê, 20 km(?) de estrada com um olho aberto e outro fechado, as costas enterradas no banco, um credo na boca a ver em que camião é que vamos bater de frente nas loucas ultrapassagens pela estrada estreita. Todos os goeses, excepto o Bapa, têm uma forma curiosa de conduzir: põem o velocímetro lá na velocidade de cruzeiro de que gostam e depois nunca travam. É sempre a andar e, se estiver um carro à frente mais lento, ultrapassa-se. Se vier alguém em sentido contrário, que se chegue para a berma pois havemos de caber os três. É assim em Goa.

Claro que não é o estilo de condução que me faz querer voltar a Goa. É o cheiro e o ar doce. São as famílias católicas com as meninas de vestidinhos brancos e rendados de primeira comunhão misturadas com as outras de coloridos saris nos mesmos mercados a abarrotar de vegetais e frutos e flores amarelos e vermelhos. São as Igrejas com nossas senhoras de fátima ao lado dos templos hindus, é beber um batido de manga num café chique em Margão, é o bairro das Fontaínhas em Panjin e os pequenos almoços na varanda do Panjin'in.

É vagabundear pelo mercado de Anjuna a mexer em tecidos de seda e joias de pechisbeque enquanto uma vaca passa ao lado, fazer conversa numa qualquer tenda (quase todas) onde haja um sorriso simpático numa cara morena e uma mão que pega na minha e me afaga o braço.

É ficar uns dias na praia em Palolem, com sorte num quartinho de pedra e cal virado para o mar, com menos sorte num bangalow de canas por baixo das palmeiras por onde saltam macacos, ver os pescadores a escolher o peixe na areia ao fim da tarde e, de manhãzinha, a menina que trabalha no bar a varrer a areia da praia com inusitado esmero, na mão uma vassourinha curta que a obriga a curvar-se sempre.

São os hippies que ficaram dos anos setenta e usam as mesmas fitas nos cabelos compridos mas já brancos e as mesmas roupas com flores onde está escrito "make love not war" e se deitam pelos almofadões dos bares de praia a cheirar insenso e a fumar ganzas ao som de Cat Stevens.

São os táxis azuis turquesa, os tuctucs pretos e amarelos que são para dois mas onde podem ir quatro, são as motos com um casal e três filhos em cima, são os autocarros que têm um motorista, um pica-bilhetes e outro homem que se pendura da porta e grita a avisar as pessoas que vem aí.

E nem digo nada da comida, céus, que bem se come em Goa.

E é por tudo isto e muito mais que agora me escapa que gostava de voltar a Goa.

(E logo mais ponho as fotografias que já é tarde)

E cá vão elas uns dias mais tarde (20/5)

Foto JFD - Bapa, o melhor motorista de Goa




Fotos JFD - Estradas de Goa

Foto TCL

Foto TCL - Mercado de Panjin


Foto JFD - tuctuc e meninas


Foto JFD - dentro do autocarro



Foto JFD e TCL - mercado de Calangute




Fotos JFD

Foto JFD - Descanso em Palolem



Fotos JFD - Palolem

Foto JFD - Quarto na praia em Palolem

maio 15, 2008

intrusos

volta e meia aparece-me este, sem se fazer convidado e sem obedecer quando lhe clico na cruzinha que diz "fechar".


Fico com vontade de quebrar os porquinhos que inventam estas merdas.

maio 14, 2008

é bom ter amigos...

... em todo o lado e na blogosfera também. A Teresa descobriu que a música que estava nos tops quando eu nasci era esta:



O Alf deu-me os parabéns lá no sítio dele.

À conta destes dois (só pode), tive ontem o maior número de visitas de sempre aqui no falabarata.

Outros bloggers enviaram-me mensagens, deixaram-me comentários ou telefonaram-me.

Quando já saímos há um tempo dos "...intas" e vamos por aí fora nos "...entas" já não nos apetece por aí além festejar o aniversário mas, com amigos assim, a coisa passa-se melhor.

Obrigada a todos!

maio 12, 2008

12 de maio

A minha avó, mãe da minha mãe, faria hoje 110 anos se fosse viva.

Chamava-se Virgínia Laura, a minha avó. Acho que era um nome bonito. Quando eu era pequena ia passar o mês de Setembro a casa da minha avó numa vila sem interesse entre Leiria e Tomar. A casa era numa rua tranquila de moradias em banda com dois pisos e um pequeno quintalinho atrás.

No quintal havia galinhas, coelhos, couves e uma ameixeira.

Nunca ouvi a minha avó gritar, ralhar ou queixar-se do que quer que fosse, por isso, quando de repente adoeceu a meio das férias de verão aos setenta e poucos anos e morreu passados quinze dias deixou-nos a todos mudos de espanto e a mim, que tinha uns 12 ou 13 anos, com um peso de remorso que ainda hoje carrego comigo por não ter querido acompanhar os meus pais a meio de Agosto quando a foram ver ao hospital e eu preferi ficar na praia. Morreu sem avisar passados poucos dias.

O meu avô, que era o doente oficial daquela casa e sempre foi apaparicado por mulher e filhas, morreu a dormir passados uns quinze anos, quando já andava a procurar bengalas na panela da sopa e a conversar tardes inteiras com a minha mãe convencido de que ela era o Sr. Andrade. Numa dessas tardes, quando uma das minhas tias o tratou por pai, respondeu: Pai? a senhora desculpe, mas se diz que é minha filha, eu não a conheço como tal. Pelo menos como filha da minha mulher. Só se for de alguma criada.

Pois. A minha avó nunca se queixou de nada, mas foi nessa altura que percebemos por que motivo volta não volta ela despedia criadas (coitadas) sem razão aparente. O meu avô chamava-lhe pombinha branca. Lá tinha as suas razões.

Desses fins de verão em casa da minha avó ficaram-me para sempre:

- O meu avô a comer bacalhau com batatas a nadar em azeite com um grande avental para não pingar a roupa.

- a minha tia solteira e já nessa altura meio maluca, com quem eu dormia e que punha bigodis no cabelo e creme nas mãos com umas meias por cima, a dizer-me: ouviste? passos lá em cima... e eu borrada de medo, pois lá em cima não era suposto estar alguém à noite.

- uma galinha a saltar o muro do quintal a esguichar sangue do pescoço depois de lhe cortarem a cabeça.

- o cheiro das couves com farinha que a minha tia picava para as galinhas.

- a minha avó a rezar o terço das sete em sintonia com a telefonia.

- umas imagens da igreja que andavam de casa em casa, ficando alguns dias em cada uma, e que tinham de estar sempre alumiadas com uma lamparina de azeite.

- o tchctchctchc da máquina de costura no andar de cima quando a costureira lá ia voltar colarinhos e pregar rendas nos lençois enquanto conversava coma a minha tia que queria saber o que se passava nas outras casas onde ela trabalhava.

- uma velha muito velha que cheirava a naftalina e ia lá a casa lanchar às quintas-feiras, viúva de um homem rico, mas tão forreta que já só tinha a dentadura de cima, sendo explicação lá em casa que os ratos lhe tinham roído a de baixo.

- a minha avó a descascar maçãs pequeninas e perfumadas para mim e para os meus primos, todos sentados nos degrauzinhos da entrada a apanhar os raios de sol que passavam pelos postigos da porta.

maio 11, 2008

dia da mãe

Vem com atraso, pois só agora tive acesso às fotos do Miguel Annes, fotógrafo oficial das bandas de garagem.

A última edição foi no domingo passado, dia da mãe, e este foi o melhor presente que eu poderia ter recebido. Até me vieram as lágrimas aos olhos.



"I love my mom". Não é uma delícia? I love you to, my darling.


Mais tarde, no calor da exibição, o J e o A elevados ao máximo, sem pararem de tocar.

Um must!

maio 07, 2008

declaração de voto

Imponho-me um esclarecimento a propósito deste post porque hoje falei com algumas pessoas sobre este assunto, o que me levou a amadurecer a ideia que já tinha sobre o manifesto que publiquei em jeito de movimento solidário.

Assinei esta petição contra o acordo ortográfico por duas razões:

1 - sou contra este acordo, pois tem coisas que acho estúpidas e desnecessárias. Não sou contra um acordo ortográfico embora me questione sobre a sua utilidade. Enfim, pode ser útil nalgumas coisas, como programas de correcção automática de textos e tal.

2 - não encontrei (diga-se que também não procurei) mais nenhuma petição anti-acordo.

É que há pelo menos duas coisinhas neste manifesto que me irritaram logo da primeira vez que o li:

i - introduzir o manifesto com dissertações sobre a qualidade do ensino da língua portuguesa nas escolas, culpabilizando os meios de comunicação social pelo mau uso dado à língua e patati e patatá. Isto para mim, é misturar alhos com bugalhos. É como virem-me dizer que a sopa não está boa porque a agricultura está em crise.

ii - esta frase: "Convém que se estudem regras claras para a integração das palavras de outras línguas dos PALOP, de Timor e de outras zonas do mundo onde se fala o Português, na grafia da língua portuguesa." Reparem: "...dos PALOP, de Timor e de outras zonas do mundo onde se fala o Português...". Referem os PALOP's, ok e Timor (955.000 almas que mal papagueiam a língua oficial - 95% da população fala mas é tétum). A forma ostensiva e obtusa como é deliberadamente omitido o Brasil (são só 184 milhões de falantes de um português repleto de palavras com origem em línguas indígenas e outras, coisa pouca a incluir em outras zonas do mundo) levou-me quase quase a não assinar este manifesto. Perdoem-me os nomes sonantes que o redigiram , mas isto é ridículo de tão estúpido.

Enfim, pesem embora estas considerações, penso que fiz bem em assinar a petição. Pode ser que quem manda pare um bocadinho para pensar.

É que a mim, os omnipotentes não me põem a escrever "onipotentes".

momentos quase perfeitos

Sol na marginal a seguir ao almoço, o mar (nunca sei onde começa o mar e acaba o rio) dum azul claro e transparente que não é normal aqui, janelas do carro abertas a deixar entrar uma brisa quente e na telefonia do carro esta música que não ouvia há que tempos.

À vinda, o mesmo mar (rio?) azul, a brisa já mais morna pelo fim da tarde, outra música nos meus ouvidos.

Apago as 2 horas de reunião de trabalho pelo meio, junto a ida com a volta e fica quase perfeito.



Starry, starry night
Paint your palette blue and grey
Look out on a summer's day
With eyes that know the darkness in my soul
Shadows on the hills
Sketch the trees and the daffodils
Catch the breeze and the winter chills
In colours on the snowy linen land

Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They did not know how
Perhaps they'll listen now
Starry, starry night

Flaming flowers that brightly blaze
Swirling clouds in violet haze
Reflect in Vincent's eyes of china blue
Colors changing hue
Morning fields of amber grain
Weathered faces lined in pain
Are soothed beneath the artist's loving hand.

Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen; they did not know how
Perhaps they'll listen now.

For they could not love you
But still, your love was true
And when no hope was left inside
On that starry, starry night
You took your life as lovers often do
But I could've told you, Vincent:
This world was never meant
For one as beautiful as you.

Starry starry night
Portraits hung in empty halls
framless heads on nameless walls
with eyes that watch the world and can't forget
like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
a silver thorn a bloody rose
lie crushed and broken on the virgin snow

Now I think I know
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would now listen
they're not listening still

Perhaps they never will

a minha pátria é a língua portuguesa

Por ser solidária com o movimento anti-acordo ortográfico e por ter sido divulgado este pedido na blogosfera, publico o texto que se segue que, a correr bem, será publicado por muitos outros bloggers por esta hora, mais minuto menos minuto.



MANIFESTO
EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA
CONTRA O ACORDO ORTOGRÁFICO
(Ao abrigo do disposto nos Artigos n.os 52.º da Constituição da República Portuguesa, 247.º a 249.º do Regimento da Assembleia da República, 1.º n.º. 1, 2.º n.º 1, 4.º, 5.º, 6.º e seguintes da Lei que regula o exercício do Direito de Petição)

Ex.mo Senhor Presidente da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Primeiro-Ministro

1 – O uso oral e escrito da língua portuguesa degradou-se a um ponto de aviltamento inaceitável, porque fere irremediavelmente a nossa identidade multissecular e o riquíssimo legado civilizacional e histórico que recebemos e nos cumpre transmitir aos vindouros. Por culpa dos que a falam e escrevem, em particular os meios de comunicação social; mas ao Estado incumbem as maiores responsabilidades porque desagregou o sistema educacional, hoje sem qualidade, nomeadamente impondo programas da disciplina de Português nos graus básico e secundário sem valor científico nem pedagógico e desprezando o valor da História.
Se queremos um Portugal condigno no difícil mundo de hoje, impõe-se que para o seu desenvolvimento sob todos os aspectos se ponha termo a esta situação com a maior urgência e lucidez.

2 – A agravar esta situação, sob o falso pretexto pedagógico de que a simplificação e uniformização linguística favoreceriam o combate ao analfabetismo (o que é historicamente errado) e estreitariam os laços culturais (nada o demonstra), lançou-se o chamado Acordo Ortográfico, pretendendo impor uma reforma da maneira de escrever mal concebida, desconchavada, sem critério de rigor, e nas suas prescrições atentatória da essência da língua e do nosso modelo de cultura. Reforma não só desnecessária mas perniciosa e de custos financeiros não calculados. Quando o que se impunha era recompor essa herança e enriquecê-la, atendendo ao princípio da diversidade, um dos vectores da União Europeia.
Lamenta-se que as entidades que assim se arrogam autoridade para manipular a língua (sem que para tal gozem de legitimidade ou tenham competência) não tenham ponderado cuidadosamente os pareceres científicos e técnicos, como, por exemplo, o do Prof. Doutor Óscar Lopes, e avancem atabalhoadamente sem consultar escritores, cientistas, historiadores e organizações de criação cultural e investigação científica. Não há uma instituição única que possa substituir-se a toda esta comunidade, e só ampla discussão pública poderia justificar a aprovação de orientações a sugerir aos povos de língua portuguesa.

3 – O Ministério da Educação, porque organiza os diferentes graus de ensino, adopta programas das matérias, forma os professores, não pode limitar-se a aceitar injunções sem legitimidade, baseadas em "acordos" mais do que contestáveis. Tem de assumir uma posição clara de respeito pelas correntes de pensamento que representam a continuidade de um património de tanto valor e para ele contribuam com o progresso da língua dentro dos padrões da lógica, da instrumentalidade e do bom gosto. Sem delongas deve repor o estudo da literatura portuguesa na sua dignidade formativa.
O Ministério da Cultura pode facilitar os encontros de escritores, linguistas, historiadores e outros criadores de cultura, e o trabalho de reflexão crítica e construtiva no sentido da maior eficácia instrumental e do aperfeiçoamento formal.

4 – O texto do chamado Acordo sofre de inúmeras imprecisões, erros e ambiguidades – não tem condições para servir de base a qualquer proposta normativa.
É inaceitável a supressão da acentuação, bem como das impropriamente chamadas consoantes "mudas" – muitas das quais se lêem ou têm valor etimológico indispensável à boa compreensão das palavras.
Não faz sentido o carácter facultativo que no texto do Acordo se prevê em numerosos casos, gerando-se a confusão.
Convém que se estudem regras claras para a integração das palavras de outras línguas dos PALOP, de Timor e de outras zonas do mundo onde se fala o Português, na grafia da língua portuguesa.
A transcrição de palavras de outras línguas e a sua eventual adaptação ao português devem fazer-se segundo as normas científicas internacionais (caso do árabe, por exemplo).
Recusamos deixar-nos enredar em jogos de interesses, que nada leva a crer de proveito para a língua portuguesa. Para o desenvolvimento civilizacional por que os nossos povos anseiam é imperativa a formação de ampla base cultural (e não apenas a erradicação do analfabetismo), solidamente assente na herança que nos coube e construída segundo as linhas mestras do pensamento científico e dos valores da cidadania.
Os signatários,
Ana Isabel Buescu
António Emiliano
António Lobo Xavier
Eduardo Lourenço
Helena Buescu
Jorge Morais Barbosa
José Pacheco Pereira
José da Silva Peneda
Laura Bulger
Luís Fagundes Duarte
Maria Alzira Seixo
Mário Cláudio
Miguel Veiga
Paulo Teixeira Pinto
Raul Miguel Rosado Fernandes
Vasco Graça Moura
Vítor Manuel Aguiar e Silva
Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho
Zita Seabra



E, quem quiser juntar-se aos demais, é só ir aqui Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico e assinar. Neste momento, já somos 11.440!

maio 06, 2008

handwriting

imagem copiada da net

O som do aparo a riscar o papel, o cheiro da tinta, pedaços de silêncio a escolher palavras que depois não saem de secas, abanar a caneta para que escreva de novo.

O toque dos dedos na trama do papel, apreciar a textura, o tom, o peso.

- Há quanto tempo não recebes uma carta?
- Há uns meses, um ano talvez.

Há quanto tempo não escrevo uma carta? Há quanto tempo não sinto o som do aparo a riscar o papel, o cheiro da tinta, pedaços de silêncio a escolher palavras que depois não saem de secas, abanar a caneta para que escreva de novo, o toque dos dedos na trama do papel, apreciar a textura, o tom, o peso?

Cartas de amor, cartas de “nós por cá todos bem”, cartas de nascimentos e de mortes.

Há quanto tempo escrever, apressar a secagem da tinta abanando a folha, dobrá-la, enfiá-la no envelope, juntar uma flor seca, passar a ponta da língua pela tira de cola, escrever o teu nome por fora, colar o selo e deitá-la na ranhura do marco vermelho como quem deixa um beijo?

Depois contar os dias, as semanas, abrir em sobressalto a caixa do correio até que um dia a tua letra azul num envelope escrevendo o meu nome, lá dentro uma folha a que sinto o peso, a textura do papel e o cheiro da tinta misturado com o teu, um pingo castanho (chá?), uma flor seca, e palavras. Palavras de amor (estas quero-as de amor, nem de “nós por cá todos bem”, nem de nascimento ou de morte), de desejo e de saudade como as de outrora, que me faziam dançar abraçando o papel e nele o teu cheiro a relembrar ausências.

Agora o tempo que não corre devagar ao compasso do ir e vir de uma carta, agora o tictic do teclado sem o aparo a riscar o papel, o cheiro da casa e de mim e já não o de tinta, já não o de flores secas misturado com o meu. Agora o marco vermelho é um botão no ecrã que diz “send” e uma setinha que lá toca como quem deixa um beijo.

Contar não dias nem semanas, mas minutos e horas à espera que a caixinha que diz “inbox” mude de 2 para 3 a anunciar que talvez já lá esteja a tua resposta, sem flores secas e sem o teu cheiro, mas com as mesmas palavras a dizer que me amas.

maio 05, 2008

recado...


...para quem passa.

No feminino. Apenas.

encontrei uma...

... a morrer num cais da Ericeira, lascas de tinta desmaiada a soltarem-se do casco. Já tinha falado delas, mas nunca mais as tinha visto.


Não sei se alguma vez as tornarei a ver como dantes, o amarelo vivo e brilhante das pinturas anuais, a escorrerem algas castanhas cheias de água pela borda fora, os mergulhadores a regressarem cansados de mais um dia ceifando o fundo do mar.

Esta tão pequena, as de quando eu era menina a entrarem a barra da baía tão grandes... Ou foi o meu olhar que mudou?

maio 02, 2008

de repente

Ainda ontem o Natal e a passagem de ano e pimba, já estamos em Maio.

Ainda há pouco a miúda inglesa acabada de sumir, o alarido nas televisões e nos jornais e tau, já faz um ano.

Há tão pouco o pezinho do meu filho todo na minha mão fechada, aquele cheiro a coisa saída de mim, aqueles instintos todos à flor da pele e de repente mais 3 meses e já faz 18 anos.

O meu irmão a puxar-me os totós, a minha mãe a enfiar-me a comida toda moída pela boca a baixo, o meu pai a guiar o carro e eu sentada ao colo dele, de mãos no volante ou por cima da dele a pôr as mudanças, convencida que era eu que conduzia, a rir a rir.

A pele tão lisa e de repente, rugas.

E se o tempo me desse umas treguazinhas? Pequenitas, pronto, mas umas treguazinhas em que parasse um bocadinho?

Sim?

maio 01, 2008

one more kiss, dear

E não podia falar de Blade Runner e de Vangelis sem me lembrar desta música. Adoro.



One more kiss, dear
One more sigh
Only this, dear
Is goodbye
For our love is such pain
And such pleasure
That I'll treasure till I die
So for now, dear
Au revoir, madame

But I'm how-dye, not farewell
For in time we may have our love's glory
Our love story to tell

Just as every autumn
Leaves fall from the tree
Tumble to the ground and die
So in the springtime
Like sweet memories
They will return as will I

Like the sun, dear
Upon high
Will return, dear
To the sky
And we'll banish the pain and the sorrow
Until tomorrow goodbye

One more kiss, dear
One more sigh
Only this, dear
Is goodbye
For our love is such passion
And such pleasure
I will treasure until I die

Like the sun, dear
Upon high
Will return, dear
To the sky
And we'll banish the pain and the sorrow
Until tomorrow goodbye

cenas de filmes que não esqueço #2

Blade Runner é, sem dúvida, um filme que posso continuar a ver vezes sem conta. Gosto da cidade sempre de noite, dos anúncios luminosos, do mercado chinês, da chuva sempre presente a fazer brilhar o chão de reflexos coloridos. Gosto da casa de Sebastian e de todos os bonecos criados por ele que a habitam. Gosto da beleza, força e energia dos replicants. Gosto da música de Vangelis. Gosto dos cenários, da fotografia, de tudo. E gosto de todo o sentido metafórico do filme.

Fantástico, Blade Runner. Amo este filme.

Cenas sempre presentes: a morte de Roy (um click programado) e o seu amor pela vida que o faz salvar Deckard,

Quite an experience to live in fear isn't it?
That's what it is to be a slave.
I've seen things you people wouldn't believe.
...
All these moments will be lost in time like tears in rain. Time to die.




e o final, quando Deckard parte com Rachel

I didn't know how long we had together. Who does...

caramelo

Fui ver Caramel. Um filme libanês, realizado por uma mulher, sobre mulheres. Mulheres muito bonitas umas, menos bonitas outras, com vidas vulgares, com alegrias, tristezas e problemas de qualquer mulher. Mulheres que se apoiam mutuamente. Um jeito leve e simples de contar uma história amarga de uma forma doce, como um caramelo duro de roer, que se pega aos dentes mas nos dá prazer.

Para quem não viu, a não perder.