fevereiro 18, 2008

doce de tangerina


Ela entrou-me lá no gabinete a comer tangerinas e com umas quantas na mão:

- Tome lá a ver se arrebita. Trouxe-as da terra.
- Mas eu estou arrebitada...
- Não está nada. Está para aí com a cara toda virada do avesso. Coma que são doces e têm vitaminas.

Peguei nas tangerinas, fui-as descascando, saboreando cada gomo e cuspindo os caroços, enquanto me vinha aquela nostalgia da terra que nunca tive. Só terras emprestadas onde às vezes vou e que me deixam colher os frutos que os seus ventres geram: feijão-verde, uvas, alfaces, laranjas, marmelos, tomates, figos. Eu, que gosto de pegar num cesto vazio e enchê-lo de coisas assim tiradas directamente da terra, mãos sujas de sumo, peganhentas e gostosas de lamber, estou reduzida à triste dimensão de embalagens de supermercados, frutas calibradas e sem interesse. É o destino de quem nasce numa família urbana, isto de não ter terra.

- São boas, são. Quando for outra vez à terra bem me podia trazer umas quantas para eu fazer doce. Tenho uma receita de doce de tangerina que é de cair para o lado. Depois dava-lhe um frasquinho.
- Combinado. Para a semana já lhe trago.

Voltei aos meus papeis e nunca mais me lembrei das tangerinas. Esta semana que passou, entra-me ela de novo no gabinete:

- Cá estão as tangerinas. A minha mãe pede a receita do doce em troca.

Na mão um saco enorme, cheio.

- Eh pá, você é maluca... Olha só para isto... Não vou fazer mais nada nos próximos dias se me ponho a transformar isso tudo em doce. Obrigada!
- De nada, o que há lá mais é disso. Não se esqueça da receita.
- Trago a receita e um frasquinho!

Dei metade das tangerinas e quando cheguei a casa e pesei o que sobrara, ainda tinha 3 quilos. Dá para 5 kg de doce...

Ainda não tive tempo de o fazer; há que espremer o sumo, separar caroços e peles, tirar as partes brancas, cortar as cascas em tiras muito fininhas. Dá trabalho, mas vale a pena. É um doce supimpa!

Por enquanto estão ali na cozinha, perfumando o ar, colorindo o espaço de cor-de-laranja e verde e a lembrarem-me da terra que não tenho.

11 comentários:

MariaV disse...

Depois quero provar, nem que seja numa visitinha ao teu gabinete!

Anónimo disse...

Deixaste-me com água na boca...

Mad disse...

Tadinha. Queres vir cá apanhar umas laranjas amargas?

tcl disse...

mad, atendendo a que as laranjas amargas só servem para fazer doce, só se eu me tivess passado dos carretos... mas se tiveres outra coisa para apanhar, até vou!

Alf disse...

Este é o verdadeiro post com cheiro!

Gonçalves disse...

Escuse, só uma pergunta: é melhor que o doce de melão?

tcl disse...

vergonha... bem sei que me deste a receita Pedro, mas não cheguei a experimentar. Mas é melhor, sem dúvida. é o melhor doce que há, juro!

SC disse...

Ofereço ajuda em troca de um (mini) frasco de doce. :)
Nunca fui de comer doces, mas gosto de provar comidas novas.

Gonçalves disse...

Nem te passa pela cabeça o que perdes;-)

ana v. disse...

Hummm, esse doce de tangerina já cheira aqui...
Empresto-te a santa terrinha por uns dias (com casa e tudo), se me guardares um frasquinho dessa maravilha!

Ah, e adoro a palavra SUPIMPA!
beijinhos

Sofia K. disse...

Que vontade de provar... com as tangerinas tenho um problema, são como as cerejas, não têm fim!

Mas em doce parece-me mais controlável e delicioso!

Troco por um frasquinho de lemon curd, que as más línguas dizem ser muito bom!

beijinhos e bom trabalho