junho 28, 2007

bestiário - animais bípedes

Há pouco no banco, uma senhora ao balcão, um casal indeciso entre o balcão e os gabinetes.

Pergunto ao casal: os senhores estão para ali ou para ali?. Eles confirmam a incerteza, em jeito de irem para onde vagasse primeiro. Ok.

Sento-me no sofá que sempre é melhor que estar em pé à espera. A senhora que estava ao balcão sai e o casal dirige-se para lá. Chega mais um cliente, por acaso porteiro lá do sítio onde eu trabalho e senta-se ao meu lado. A senhora está para o balcão?, pergunta-me. Lá lhe explico que sim, mas que aquilo com o casal está com ar de demorar, por isso sentei-me à espera. Ficamos ali os dois à conversa.

Entra uma senhora com ar decidido, finge que não nos vê e põe-se atrás do casal. O porteiro para mim: aquela ainda nos quer passar à frente. E eu: não..., ela viu-nos. mas de qualquer forma vou lá dizer-lhe.

Levanto-me , chego-me à dita cuja: boa tarde, a senhora desculpe, mas eu e aquele senhor, estamos na bicha, só que estávamos ali sentados.

É aqui que começa a cena surrealista. Resposta:

- Eu cá estou na bicha. A mim ninguém me passa à frente. Eu cá não vi ninguém.
- Desculpe? A senhora passou por nós, como é que não nos viu? E eu estou-lhe a dizer que já aqui estávamos, como a funcionária ali pode confirmar.
- Pois, querem estar de rabo sentado... Aqueles sofás são para os gabinetes. Eu cá estou na bicha e ninguém me passa à frente.
- Eu não estou a acreditar no que estou a ouvir... a senhora é que está a querer passar à nossa frente.
- Daqui não saio.
- Pronto. Se quer ser mal educada e passar à frente... é isso que quer?
- É isso mesmo. A mim ninguém me passa a frente.

O porteiro entretanto tinha chegado ao pé e começámos os dois naquela conversa de pois, com gente assim, não vale a pena. ele há pessoas muito mal educadas, sem princípios. isto, cada um tem a educação e o civismo que adquiriu no berço, coitada, às tantas não tem culpa. A mulher impávida, faz que não ouve, não reage. Eu, já só para ver até onde é que aquilo ia, experimento a capacidade de encaixe da animália e viro-me para o porteiro: já viu? e anda vestida e calçada como se fosse uma pessoa, quando devia era estar no jardim zoológico. Sem reacção. Besta dura, de carga, mesmo.

Toco-lhe na espádua: a senhora é feliz? muito, diz ela. E tem pessoas que gostam de si e tudo? Ela abre e fecha os dedos naquele gesto de chusmas deles. Incrível, não posso acreditar, digo eu.

Entretanto, a bicha engrossara e já havia pessoas a dizer que era costume ela fazer aquilo e blábláblá. O casal saíu, eu ainda tentei aproximar-me do balcão, mas levei logo valente encontrão.

A funcionária olha para mim em jeito de súplica. Ok, atenda lá a senhora. Se ela gosta de passar à frente paciência.

No fim de a mulher ir embora, veio o gerente do balcão apertar-me a mão e pedir desculpa, sabe, nós não podemos fazer nada, desculpe lá e tal.

Não me enervei com a cena, aliás ri-me o tempo todo tal o caricato da situação. Já me tinha cruzado com alguns animais, mas acho que este bateu todos os records da capacidade de encaixe, e da força das suas convicções.

3 comentários:

gir@f disse...

....eu trabalhei ano e meio na banca....
posso dizer que diariamente me entravam por lá bestas muito felizes....
...uma vez me tentaram bater....
enfim....
sai do banco...mas essas bestas infelizmente existem em todo lado

Di Napoli disse...

E que tal uma pisadela valente num dedinho do animal, prá próxima vez? Não? :)

tcl disse...

olha que não era mal visto. mas eu sou pouco de pisadelas... gosto mais de uma boa batalha verbal. ~bem tentei mas não tive resposta...