Há pouco no banco, uma senhora ao balcão, um casal indeciso entre o balcão e os gabinetes.
Pergunto ao casal: os senhores estão para ali ou para ali?. Eles confirmam a incerteza, em jeito de irem para onde vagasse primeiro. Ok.
Sento-me no sofá que sempre é melhor que estar em pé à espera. A senhora que estava ao balcão sai e o casal dirige-se para lá. Chega mais um cliente, por acaso porteiro lá do sítio onde eu trabalho e senta-se ao meu lado. A senhora está para o balcão?, pergunta-me. Lá lhe explico que sim, mas que aquilo com o casal está com ar de demorar, por isso sentei-me à espera. Ficamos ali os dois à conversa.
Entra uma senhora com ar decidido, finge que não nos vê e põe-se atrás do casal. O porteiro para mim: aquela ainda nos quer passar à frente. E eu: não..., ela viu-nos. mas de qualquer forma vou lá dizer-lhe.
Levanto-me , chego-me à dita cuja: boa tarde, a senhora desculpe, mas eu e aquele senhor, estamos na bicha, só que estávamos ali sentados.
É aqui que começa a cena surrealista. Resposta:
- Eu cá estou na bicha. A mim ninguém me passa à frente. Eu cá não vi ninguém.
- Desculpe? A senhora passou por nós, como é que não nos viu? E eu estou-lhe a dizer que já aqui estávamos, como a funcionária ali pode confirmar.
- Pois, querem estar de rabo sentado... Aqueles sofás são para os gabinetes. Eu cá estou na bicha e ninguém me passa à frente.
- Eu não estou a acreditar no que estou a ouvir... a senhora é que está a querer passar à nossa frente.
- Daqui não saio.
- Pronto. Se quer ser mal educada e passar à frente... é isso que quer?
- É isso mesmo. A mim ninguém me passa a frente.
O porteiro entretanto tinha chegado ao pé e começámos os dois naquela conversa de pois, com gente assim, não vale a pena. ele há pessoas muito mal educadas, sem princípios. isto, cada um tem a educação e o civismo que adquiriu no berço, coitada, às tantas não tem culpa. A mulher impávida, faz que não ouve, não reage. Eu, já só para ver até onde é que aquilo ia, experimento a capacidade de encaixe da animália e viro-me para o porteiro: já viu? e anda vestida e calçada como se fosse uma pessoa, quando devia era estar no jardim zoológico. Sem reacção. Besta dura, de carga, mesmo.
Toco-lhe na espádua: a senhora é feliz? muito, diz ela. E tem pessoas que gostam de si e tudo? Ela abre e fecha os dedos naquele gesto de chusmas deles. Incrível, não posso acreditar, digo eu.
Entretanto, a bicha engrossara e já havia pessoas a dizer que era costume ela fazer aquilo e blábláblá. O casal saíu, eu ainda tentei aproximar-me do balcão, mas levei logo valente encontrão.
A funcionária olha para mim em jeito de súplica. Ok, atenda lá a senhora. Se ela gosta de passar à frente paciência.
No fim de a mulher ir embora, veio o gerente do balcão apertar-me a mão e pedir desculpa, sabe, nós não podemos fazer nada, desculpe lá e tal.
Não me enervei com a cena, aliás ri-me o tempo todo tal o caricato da situação. Já me tinha cruzado com alguns animais, mas acho que este bateu todos os records da capacidade de encaixe, e da força das suas convicções.
junho 28, 2007
bestiário - animais bípedes
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3 comentários:
....eu trabalhei ano e meio na banca....
posso dizer que diariamente me entravam por lá bestas muito felizes....
...uma vez me tentaram bater....
enfim....
sai do banco...mas essas bestas infelizmente existem em todo lado
E que tal uma pisadela valente num dedinho do animal, prá próxima vez? Não? :)
olha que não era mal visto. mas eu sou pouco de pisadelas... gosto mais de uma boa batalha verbal. ~bem tentei mas não tive resposta...
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