março 25, 2007

Noites no Xafarix

Pois hoje andava para aqui procurando músicas no youtube e dei com isto:




Como a memória tem destas coisas, palavra puxa palavra, dei comigo há 20 anos atrás numa altura em que passava grande parte das minhas noites no Xafarix.

Naquele tempo, dizia Jesus aos apóstolos…, não.

Naquele tempo sair à noite não era como agora.
Com segurança, podia-se sair de casa pelas 21.30, 22.00, e regressar por volta das 2.00 com a barriguita cheia de música, conversa com os amigos, um gin tónico, uma tosta mista e a certeza dumas horinhas de sono antes de ir trabalhar.
Agora, se se chega a algum sítio antes das 2.00 (claro, claro, ainda há excepções) o mais certo é estar tudo às moscas porque ainda é muito cedo.

Mas não era disto que eu queria falar. Ah, sim o Xafarix.

O Xafarix, ali no chafariz da D. Carlos I, pertencia na altura ao Luís Represas e ao seu sócio Cajó (se calhar a mais alguém, não me lembro). Todas as noites aquilo enchia como um ovo, vá-se lá saber porquê. Na volta o programa era quase sempre o mesmo: ou eram eles que cantavam (a maioria das vezes) ou traziam alguém de fora, para variar um bocadinho.

Realmente, íamos lá como quem ia ao café. Já toda a gente se conhecia, sabia-se quem andava com quem, quem tinha largado quem, quem estava encalhado, quem procurava quem e, entre estas conversas de treta e outras mais interessantes, lá se passavam as noites. O que era mesmo giro, é que aquilo tinha um ambiente familiar, cantávamos todos muito em coro e havia um ritual que se foi instalando e sem os qual já não passávamos. Fosse qual fosse o programa da noite ou o artista convidado, 3 músicas cantavam-se sempre:

- Amor no Coração -

Quem viver verá que não foi em vão, eu quero é muito amor no coração
Meu samba não tem dose certa é um grito de alerta
Mensagem do nosso povo
É, oh, pois é, uma palavra de amor que não se apaga com a dor
Acende um sorriso novo
No coração festeiro, verdadeiro, brasileiro
Se faz a esperança em todas as crianças: os herdeiros
De nossas raízes, dos dias felizes que temos pra dar
O que é semeado no nosso roçado
Se quiser vai plantar
E chega de me dá me dá, agora é toma lá dá cá
E chega de me dá me dá, agora é toma lá dá cá
Vai ecoar, nos quatro cantos da terra
Nosso brado de guerra contra o fantasma da opressão
Simples como a gota do oceano
Trago do cotidiano trincheiras contra a invasão


- Terra -

Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez as tais fotografias
Em que apareces inteira, porém lá não estava nua
E sim coberta de nuvensTerra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Ninguém supõe a morena dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema mando um abraço pra ti
Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta
E fosses a ParaíbaTerra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Eu estou apaixonado por uma menina terra
Signo de elemento terra do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guiaTerra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Eu sou um leão de fogo, sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente, e de nada valeria
Acontecer de eu ser gente, e gente é outra alegria
Diferente das estrelasTerra, terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
De onde nem tempo e nem espaço, que a força mãe dê coragem
Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem
Que realizas do nada,
através do qual carregas
O nome da tua carne
Terra, terra, Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Na sacadas dos sobrados, das cenas do salvador
Há lembranças de donzelas do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeitoTerra, terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?


E no fim, para nos mandar a todos embora, as boas noites do Vitinho, quem não se lembra:
Está na hora da caminha
Vamos lá dormir
Vê lá fora as estrelas
Dormem a sorrir
E amanhã cedinho
Bem cedinho tu vais ver
Acordas mais forte
E mais esperto
Isso é crescer
Boa noite
Adeus
E até amanhã
Ainda existe, o Xafarix?



4 comentários:

Pitx disse...

o meu xafarix não aconteceu há 20 anos, aconteceu há 10.

o meu xafarix já não tinha o cajó e o luis à frente da coisa, tinha o mico da câmara pereira

o meu xafariz tinha o mico e o rui melo (que a teresa guilherme decidiu que devia ser actor) às segundas-feiras e tinha a banda do rui melo às quintas.

o meu xafarix tinha coisas boas durante as actuações e tinha coisas melhores - incontáveis neste cantinho - depois de sairmos de lá.

o meu xafarix teve a melhor "boca da noite" que alguma vez me mandaram: tu aguentas-te sózinho com o cagueiro da miúda?

o meu xafarix tinha duas músicas obrigatórias às segundas-feiras: cavaleiro andante e o restolho

o meu xafarix tinha essas duas músicas, obrigatoriamente repetedias pela banda das 5ªs feiras.

o meu xafarix não tinha as coisas boas que o teu tinha. provavelmente tinha outras melhores e seguramente, outras piores.

o xafariz da minha mulher, curiosamente, é o teu xafarix.

o xafarix do meu sogro, por exemplo, foi também aquele, ali para os lados do jardim da estrela. mas isso já são outros carnavais.

o meu xafarix tinha o luis represas de vez em quando por lá. uma vez, num dia em que lá foi beber um copo, encontrei-o a mijar e disse-lhe: "tinha piada tocares o zorro.". eram aí umas onze horas. a casa tinha a lotação a menos de meio.

e ele tocou.

o meu xafarix, entre outras coisas impublicáveis, é o zorro.

Eu quero marcar um Z dentro do teu decote
Ser o teu Zorro de espada e capote
P'ra te salvar à beirinha do fim
Depois, num volte face vestir os calções
Acreditar de novo nos papões
E adormecer contigo ao pé de mim

Eu quero ser para ti a camisola dez
Ter o Benfica todo nos meus pés
Marcar um ponto na tua atenção
Se assim faltar a festa na tua bancada
Eu faço a minha última jogada
E marco um golo com a minha mão

Eu quero passar contigo de braço dado
E a rua toda de olho arregalado
A perguntar como é que conseguiu
Eu puxo da humildade da minha pessoa
Digo da forma que menos magoa
«Foi fácil. Ela é que pediu!»

ah, o meu xafarix tinha também o zorro às segundas e às quintas. desse lá pr'ó que desse.

Anónimo disse...

O nosso xafarix é o mesmo! O de há 20 anos e que saudades!
Pedro Malagueta há 2ª feira, Nelo, Miguel Rebelo, Stela, Meninos da avó,e tantos outros que já nem me lembro.
só lembro a saudade de chegar... olhar e saber que em determinada mesa estava determinada pessoa, e todas conhecidas e amigas, que se juntavam para ouvir musica, beber uns copos e no final comer uma deliciosa tosta de frango..., que saudades.....

tcl disse...

que saudades mesmo, ó anónimo!
quem sabe, nos cruzámos por lá!

anónimo disse...

E o Xafarix continua...
Todas as sextas tem uma banda fantástica: RADIOFIVEBAND

:)