...numa piscina em Braga o que deve ser invulgar para uma miúda alfacinha de 10 anos.
Nessa altura, havia todos os anos no Verão uma feira ligada à agricultura, a AGRO-XX em que XX representava os últimos dois dígitos do ano. O meu pai ia para essa feira em representação da Direcção Geral das Florestas e por dois ou três anos fui com ele. Como eu devia importuná-lo sempre por ali a cirandar, pôs-me numas aulas de natação na piscina (municipal?) e assim aprendi a não ir ao fundo.
Íamos uns dias antes para preparar o stand e ficávamos lá durante a feira. O stand do meu pai cheirava muito bem, a resina, a eucalipto, a madeira cortada. Havia secções de troncos de madeira para contar os aneis de crescimento e assim saber a idade da árvore e as vicissitudes pelas quais tinha passado, havia pinhas, havia cenas montadas com resineiros, havia bloquinhos de todos os tipos de madeiras, havia colmeias, havia cubos de pez de várias cores, havia coisas feitas de cortiça e havia o Sr. Silvano.
O Sr. Silvano era um regente agrícola que trabalhava também na DGF mas sediado no Porto e que dava apoio ao meu pai em tudo aquilo. Um dos maiores apoios que o Sr. Silvano deu foi tomar conta de mim. Devia-me achar graça o Sr. Silvano. Era um homem grande, moreno, de cabelo ondulado e bigode farfalhudo, com pinta de cigano. Passeava comigo pela feira, insistia para eu comer tudo (eu era um pisco que não gostava de nada) e fazíamos intermináveis torneios de batalha naval que depois se prolongavam em postalinhos trocados durante o resto do ano: "Querido Sr. Silvano: a sua última jogada foi água! aqui vai a minha 2h2i2j".
O Sr. Silvano ganhou o hábito de comentar cada frase minha com um "bonitas palavras prantou a menina Teresinha!" pois da primeira vez que aquilo lhe saiu toda a gente achou graça. Ao ponto de o meu pai já não aguentar e lhe cortar sempre a frase com um "oh homem, cale-se com isso, pá... já não o posso ouvir!"
Bom homem o Sr. Silvano, paciência para me aturar a mim, ao meu pai e à parva da mulher que foi com ele uma vez e me olhou com um ar enciumado que não escapou à ingenuidade dos meus 11 anos... Muito ele devia comentar lá em casa as bonitas palavras da menina Teresinha para a cara metade chegar a tal insensatez. Eu era miúda pequena mas aquilo tocou-me ao ponto de nunca mais ter querido ir com o meu pai para as AGROS.
Soube aqui há tempos que tinha morrido o Sr. Silvano. Hoje, não sei porquê, lembrei-me dele.
Nessa altura, havia todos os anos no Verão uma feira ligada à agricultura, a AGRO-XX em que XX representava os últimos dois dígitos do ano. O meu pai ia para essa feira em representação da Direcção Geral das Florestas e por dois ou três anos fui com ele. Como eu devia importuná-lo sempre por ali a cirandar, pôs-me numas aulas de natação na piscina (municipal?) e assim aprendi a não ir ao fundo.
Íamos uns dias antes para preparar o stand e ficávamos lá durante a feira. O stand do meu pai cheirava muito bem, a resina, a eucalipto, a madeira cortada. Havia secções de troncos de madeira para contar os aneis de crescimento e assim saber a idade da árvore e as vicissitudes pelas quais tinha passado, havia pinhas, havia cenas montadas com resineiros, havia bloquinhos de todos os tipos de madeiras, havia colmeias, havia cubos de pez de várias cores, havia coisas feitas de cortiça e havia o Sr. Silvano.
O Sr. Silvano era um regente agrícola que trabalhava também na DGF mas sediado no Porto e que dava apoio ao meu pai em tudo aquilo. Um dos maiores apoios que o Sr. Silvano deu foi tomar conta de mim. Devia-me achar graça o Sr. Silvano. Era um homem grande, moreno, de cabelo ondulado e bigode farfalhudo, com pinta de cigano. Passeava comigo pela feira, insistia para eu comer tudo (eu era um pisco que não gostava de nada) e fazíamos intermináveis torneios de batalha naval que depois se prolongavam em postalinhos trocados durante o resto do ano: "Querido Sr. Silvano: a sua última jogada foi água! aqui vai a minha 2h2i2j".
O Sr. Silvano ganhou o hábito de comentar cada frase minha com um "bonitas palavras prantou a menina Teresinha!" pois da primeira vez que aquilo lhe saiu toda a gente achou graça. Ao ponto de o meu pai já não aguentar e lhe cortar sempre a frase com um "oh homem, cale-se com isso, pá... já não o posso ouvir!"
Bom homem o Sr. Silvano, paciência para me aturar a mim, ao meu pai e à parva da mulher que foi com ele uma vez e me olhou com um ar enciumado que não escapou à ingenuidade dos meus 11 anos... Muito ele devia comentar lá em casa as bonitas palavras da menina Teresinha para a cara metade chegar a tal insensatez. Eu era miúda pequena mas aquilo tocou-me ao ponto de nunca mais ter querido ir com o meu pai para as AGROS.
Soube aqui há tempos que tinha morrido o Sr. Silvano. Hoje, não sei porquê, lembrei-me dele.
4 comentários:
Pois a menina Teresinha prantou aqui umas bonitas palavras!
Um relato delicioso e sensível, Teresa. Parabéns.
Obrigada Ana. Vou ver se consigo ir ao lançamento do teu livro no sábado.
Boa! A Madalena também está cá.
Gostava muito.
Claro que vais!
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