março 09, 2009

tempos in úteis

É verdade, como te disse, que me canso de mim assim como sou. Canso-me de mim a querer fazer tanta coisa e no final a não fazer nada. Como se tivesse um caderno em que fosse preenchendo as folhas com listas, cronogramas, diagramas com bolas, losangos, quadrados e muitas setas. E uma vez esse caderno acabado, preencheria outro e mais outro, até ter uma prateleira inteira cheia de cadernos bem alinhados, e mais nada, sempre muito pouco mais que nada.

Canso-me de mim assim como sou. De gastar o tempo com inutilidades como sentar-me ali fora na varanda, pés apoiados no varandim a medir a cidade a palmo. Dois palmos da torre da basílica até ao topo do pilar da ponte, meio palmo daí até ao Cristo-Rei e, de lá a Cacilhas, três palmos bem medidos. E quando já não há nada que me interesse medir a palmo, conto quantos barcos passam no meu pedaço de rio em meia-hora, quantos aviões no meu pedaço de céu ou, se calha o tempo trazer as gaivotas até cá acima, tento contá-las sem repetir nenhuma.

No fim do dia, conto quantas coisas não fiz das que queria ter feito.

Lá no fundo, gosto dos tempos inúteis, fazem-me sentir dona de todo o tempo do mundo. Mesmo assim, canso-me de mim assim como sou.

2 comentários:

MariaV disse...

Não te canses. A malta gosta de ti assim.
Lindo, outra vez.
Beijos

tcl disse...

:-)