Com muita pena minha, nunca aprendi a tocar piano mais do que o que seria possível num ano de tardes de sábado quando ainda andava na escola primária. Tinha aulas de piano e solfejo com mais uns quantos miúdos e o tempo livre de instrumento para cada um era escasso.
As aulas foram decorrendo até chegar o dia em que a professora me disse que eu tinha de praticar em casa, quando não, não era possível fazer grandes progressos. Os meus pais eram funcionários públicos o que, naquele tempo, significava viver com os tostões contados sem grandes hipóteses de extras, de forma que quando pedi um piano não tive sorte nenhuma... A professora ainda insistiu um pouco, primeiro comigo, depois com a minha mãe e, quando viu que dali não vinha piano nenhum deixou de me dar a mesma atenção. É curioso como só agora que penso nisso, me apercebo como a coisa foi deliberadamente feita para que eu, e os outros nas minhas condições, acabássemos por desistir. Lembro-me de me sentir mal nas aulas porque não avançava como os outros miúdos que tinham possibilidade de tocar em casa e de passar a pertencer ao grupo dos atrasados. Havia aulas em que já só fazíamos o solfejo e não havia tempo de piano para nós.
Tive muita, muita pena mas nunca devo ter deixado transparecer isso, pois quando aqui há tempos conversava com a minha mãe sobre as coisas boas e más que recordava da minha infância e referi a história do piano, ela ficou admiradíssima e ainda me disse que, se ela e o meu pai tivessem percebido, teriam feito o esforço de comprar um. Devia ter feito um berreiro... Não devia nada, coitados dos meus pais.
Bom, uns valentes anos mais tarde, quando já andava na faculdade e namorava o pai do meu filho, a irmã dele que terminara o curso há pouco e tinha começado a trabalhar, resolveu alugar um piano vertical a meias com um amigo e retomar as aulas que também tinha largado em miúda. Claro está que, nessa altura, nós os dois também quisemos usufruir do dito. O piano foi colocado no quarto de costura e engomados e, para desespero dos meus sogros, passávamos os quatro serões intermináveis à volta do piano, primeiro matraqueando musiquinhas infantis e, mais tarde, os dois irmãos, ela com aulas e ele com talento, arriscando passagens de ragtime que tiravam de ouvido dos discos do Scott Joplin.
Por falta de aulas, de tempo ou de talento, nem eu nem o amigo que pagava metade do aluguer passámos da edição da altura, deste livrinho:
As aulas foram decorrendo até chegar o dia em que a professora me disse que eu tinha de praticar em casa, quando não, não era possível fazer grandes progressos. Os meus pais eram funcionários públicos o que, naquele tempo, significava viver com os tostões contados sem grandes hipóteses de extras, de forma que quando pedi um piano não tive sorte nenhuma... A professora ainda insistiu um pouco, primeiro comigo, depois com a minha mãe e, quando viu que dali não vinha piano nenhum deixou de me dar a mesma atenção. É curioso como só agora que penso nisso, me apercebo como a coisa foi deliberadamente feita para que eu, e os outros nas minhas condições, acabássemos por desistir. Lembro-me de me sentir mal nas aulas porque não avançava como os outros miúdos que tinham possibilidade de tocar em casa e de passar a pertencer ao grupo dos atrasados. Havia aulas em que já só fazíamos o solfejo e não havia tempo de piano para nós.
Tive muita, muita pena mas nunca devo ter deixado transparecer isso, pois quando aqui há tempos conversava com a minha mãe sobre as coisas boas e más que recordava da minha infância e referi a história do piano, ela ficou admiradíssima e ainda me disse que, se ela e o meu pai tivessem percebido, teriam feito o esforço de comprar um. Devia ter feito um berreiro... Não devia nada, coitados dos meus pais.
Bom, uns valentes anos mais tarde, quando já andava na faculdade e namorava o pai do meu filho, a irmã dele que terminara o curso há pouco e tinha começado a trabalhar, resolveu alugar um piano vertical a meias com um amigo e retomar as aulas que também tinha largado em miúda. Claro está que, nessa altura, nós os dois também quisemos usufruir do dito. O piano foi colocado no quarto de costura e engomados e, para desespero dos meus sogros, passávamos os quatro serões intermináveis à volta do piano, primeiro matraqueando musiquinhas infantis e, mais tarde, os dois irmãos, ela com aulas e ele com talento, arriscando passagens de ragtime que tiravam de ouvido dos discos do Scott Joplin.
Por falta de aulas, de tempo ou de talento, nem eu nem o amigo que pagava metade do aluguer passámos da edição da altura, deste livrinho:
Mas um dia destes ainda arranjo um piano e volto a tentar que, nestas coisas, não deve haver duas sem três.
2 comentários:
Eu tive a sorte de os meus pais me terem comprado um piano, mas chegou a uma fase que tive de desistir, porque ou era o piano ou tudo o resto. E optei por tudo o resto, mas ainda hoje olho para trás e não tenho certezas se essa foi a melhor opção.
Cinco anos de Conservatório fizeram do piano o instrumento que mais me encanta.
Insiste, sim.
Vale tanto a pena...
Beijo.
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