Aos poucos, de forma directa ou enviesada, ele tinha-me dado as coordenadas da sua casa. Sem me ter dito exactamente onde passava os seus dias solitários e as suas noites mal dormidas, falara-me da vila, das lojas próximas, do bairro de ruas estreitas e sinuosas do lugar.
Numa noite de insónias como tantas outras, pus-me a caminho. Não era longe. Depois de sair da estrada principal em direcção à vila, encontrei o bairro com facilidade e percorri meticulosamente todas as ruelas que serpenteavam em casinhas de um lado e de outro até que, finalmente, vi o carro que tão bem conhecia estacionado em frente a uma casa onde no quintal as árvores de que ele me tinha falado confraternizavam com a cadeira de baloiço no alpendre. Estacionei depois de uma curva da rua, onde dificilmente daria por mim, mesmo que viesse apanhar o ar da noite a uma das janelas abertas e iluminadas, interrompendo o andarilhar de dedos em músicas que eu sabia que ele tocava e que agora ouvia pela primeira vez.
Fiquei assim por muito tempo, embalada pelas notas que saiam da janela, sentada de olhos fechados, ganhando coragem para um telefonema, uma sms estou aqui à tua porta, queres abri-la para mim?. Peguei no telemóvel, hesitante, e quando ia começar a escrever as primeiras letras, a música parou e vi a silhueta dele que se aproximava da janela e a fechava.
Larguei o telemóvel e fiquei de olhos perdidos na janela fechada, a sentir na carne os beijos quentes e os abraços que fugiam, a lembrar o beijo trocado ao de leve (tão leve) meses atrás, um simples roçar de lábios num encontro fugaz numa rua de Lisboa.
As luzes apagaram-se dentro da janela fechada. Lambi a lágrima salgada que me escorreu pela aba do nariz e me pousou no lábio superior. Liguei o motor do carro e desci a rua devagarinho. À porta dele não abrandei e segui em frente.
Nunca seria capaz.
Numa noite de insónias como tantas outras, pus-me a caminho. Não era longe. Depois de sair da estrada principal em direcção à vila, encontrei o bairro com facilidade e percorri meticulosamente todas as ruelas que serpenteavam em casinhas de um lado e de outro até que, finalmente, vi o carro que tão bem conhecia estacionado em frente a uma casa onde no quintal as árvores de que ele me tinha falado confraternizavam com a cadeira de baloiço no alpendre. Estacionei depois de uma curva da rua, onde dificilmente daria por mim, mesmo que viesse apanhar o ar da noite a uma das janelas abertas e iluminadas, interrompendo o andarilhar de dedos em músicas que eu sabia que ele tocava e que agora ouvia pela primeira vez.
Fiquei assim por muito tempo, embalada pelas notas que saiam da janela, sentada de olhos fechados, ganhando coragem para um telefonema, uma sms estou aqui à tua porta, queres abri-la para mim?. Peguei no telemóvel, hesitante, e quando ia começar a escrever as primeiras letras, a música parou e vi a silhueta dele que se aproximava da janela e a fechava.
Larguei o telemóvel e fiquei de olhos perdidos na janela fechada, a sentir na carne os beijos quentes e os abraços que fugiam, a lembrar o beijo trocado ao de leve (tão leve) meses atrás, um simples roçar de lábios num encontro fugaz numa rua de Lisboa.
As luzes apagaram-se dentro da janela fechada. Lambi a lágrima salgada que me escorreu pela aba do nariz e me pousou no lábio superior. Liguei o motor do carro e desci a rua devagarinho. À porta dele não abrandei e segui em frente.
Nunca seria capaz.
4 comentários:
Eu nem pôr-me dentro do carro que não tenho, quanto mais...
um bonito "quase" .. :)
Gostei.
tantos "quases" nas vidas de toda a gente, não é Once? Obrigada pelo comentário :-)
deveras tcl .. mas nem todos dão assim um retalho :)
De nada *
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