abril 01, 2007

Palavras perdidas

Atiro-te palavras que escorrem por ti como a chuva que bate nas vidraças, cai na calçada e entra no esgoto para se perder no mar.

Atiro-te palavras na esperança de que me sejam devolvidas com efeitos imprevistos, como bolas de ténis em raquetes experientes, obrigando-me a correr para um e outro lado para apanhá-las e atirá-las de novo para ti, com novos efeitos e variações.

Mas as minhas palavras, como bolas menos hábeis, ou batem na rede, rebolam pelo chão e aí ficam, paradas, inúteis, sem ninguém que lhes pegue, ou são devolvidas para outro lugar que não o meu.

Continuamente tento avançar mas bato em paredes, esbarro em muros para onde quer que me volte, enfiada num túnel do qual não vejo o fim e de que já esqueci o princípio.

Palavras já um dia sussurradas ao teu ouvido, umas agora perdidas bailando ao sabor do vento, outras que foste guardando em caixas fechadas a cadeado de que deitaste fora a chave sem mesmo olhares para elas.

Antes que te tocassem, antes que o seu sabor te levasse a quebrar a concha em que te fechaste e as devolvesses embrulhadas em jeito de presente.

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