B - mas tu emprestaste-ma!
A - emprestei, mas não dei. não tinhas nada que a estragar. és má e parva. dá-a cá, minha anormal ou nunca mais te falo.
B - pronto, é tua, toma lá. mas quem nunca mais te fala sou eu. és invejosa e tens borbulhas.
A - e tu usas óculos e a tua mãe tem pelos no nariz.
B - ah é? e o teu pai cheira mal dos pés e a tua avó não tem dentes.
A - e tu és tão feia que ninguém gosta de ti.
B - e tu pareces um pau de virar tripas e chamaste-me nomes feios.
A - pois chamei, mas tu tiraste-me a boneca e além disso no outro dia disseste que vinhas brincar comigo e não apareceste nem disseste nada e já fizeste isso montes de vezes.
B - isso não interessa, quero lá saber. chamaste-me nomes, pronto. és má. não sou mais tua amiga.
A - ...
B - ...
A - vá lá pronto. desculpa ter-te chamado nomes, mas estragaste-me a boneca e também me chamaste nomes. vamos fazer as pazes?
B - não. não quero ser mais tua amiga. és má.
A - vá lá, vamos fazer as pazes.
B - ...
A - ...
B - ...
A - ...
B - ...
Pois. Conversas destas são comuns entre miúdos. Muitas vezes as coisas só se resolvem com a intervenção de um adulto.
O que é estúpido é quando diálogos análogos se dão entre adultos. Não havendo um superadulto para mediar a contenda, gera-se uma guerra de silêncios gelados. A, 1º ofendido e 2º ofensor espera que B aceite a sua proposta de paz e não diz nada. B, esquece-se de que foi o 1º ofensor, resguarda-se no seu papel de 2º ofendido e pavoneia-se à frente de A, não dando o braço a torcer e esperando que A quebre.
Entre pessoas verdadeiramente amigas, mesmo quando no calor da contenda as ofensas ultrapassam o razoável e deitamos cá para fora todas as pequenas coisas que nos magoaram naquela relação, as zangas não duram mais que um ou dois dias. Já nos aconteceu a todos, não é?
Mas também já vi casos em que as "amizades" se perdem irremediavelmente à conta de arrufos deste género. Nestes casos não sei se se pode garantir que houvesse uma amizade. Seria qualquer outra coisa?