abril 29, 2007

doggy baby sitting

Este fim-de-semana tomámos conta da Margot, a quem baptizámos de Margot Fontaine, tantos são os xixis com que nos presenteia.

O gato deu-lhe uma sapatada logo à entrada, para mostrar quem manda, e o cão está indeciso entre o ciúme e o medo (!) de maneira que foge e põe-se a ganir.


Nós fazemos-lhe festinhas, andamos com ela ao colo e limpamos os presentes.







abril 28, 2007

Paradoxos

JURA SECRETA

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis


Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que não sofri

abril 27, 2007

Desejos impossíveis

Coisas que eu gostava de ter:

- o pescoço da Penélope Cruz

Conselhos práticos

Coisas que não se devem fazer:

- segurar na asa do tacho com a mão esquerda, utilizando uma pega, enquanto a direita mexe o conteúdo com uma colher de pau, pegar fogo à pega sem dar por isso, pousar a colher de pau, mudar a pega de mão colocando os dedos da mão direita sobre a parte da pega que está a arder.

abril 23, 2007

dá-me um livro que eu dou-te uma rosa


Hoje é o dia mundial do livro e dos direitos de autor.

Assinalando a data, um amigo enviou-me um e-mail contando o porquê desta data: aniversário do nascimento e da morte de Shakespeare (morrer no dia de anos, não lembra...) e da morte de Cervantes, 23 de abril é dia de S. Jorge. Cervantes não era catalão, por isso não sei se há alguma relação entre os dois factos, mas a verdade é que na Catalunha existe uma velha tradição em que, neste dia, os homens oferecem uma rosa de S. Jorge às suas amadas e estas retribuem a atenção com um livro. No final, este meu amigo sugeria aos seus contactos que se associassem à tradição catalã.

Apressei-me a responder enviando um livrinho virtual (à falta de melhor e na impossibilidade de oferecer um a sério) e fiquei à espera da rosa a que tinha direito, mesmo que virtual.

Passado um bocado, dei comigo a pensar: mas que coisa... porque raio é que hão-de ser os homens a receber o livro e nós só ficamos com a florita? Então, eles levam um livro (caríssimo), horas e horas de prazer e nós ficamos a ver uma (uma) rosa a murchar na jarra? Parece-me mal... Porque é que a coisa não é ao contrário? Eu até gosto de flores, mas preferia o livro. Pronto até podia vir com uma rosa, mas um livro mesmo é que era.

Daqui até me perder em reflexões sobre machismo e trálálá, foi um instantinho, daí até achar que este e-mail fazia parte dum arranjinho dos tipos para nos sacarem livros a preço de rosa foram só mais 30 segundos e apenas mais 10 para já ver as indústrias livreira e de produção de flores metidas no esquema. (atente-se ao exagero... não pensei isto tudo, só um bocadinho. isto aqui em cima é só para dar mais colorido à coisa).

Mais tarde, por via das dúvidas, reli o e-mail. Acertadíssimo, politicamente correcto e etc., o meu amigo frisava que se trocassem livros e rosas, independentemente do sexo. Pareceu-me bem.

abril 19, 2007

Princípio de Peter

A recordação mais antiga que tenho do JRS data daquela célebre noite em que ele, ainda muito puto, fazia de pivot no telejornal e de repente rebenta a guerra do golfo em directo. Ok, a malta lá na RTP deve ter ficado à rasca, os seniores deviam estar todos de folga e de um momento para o outro têm uma coisa daquela envergadura nas mãos e só um pivot junior, ainda por cima com cara de Bugs Bunny, para tratar do assunto. Mas bom, convenhamos que o JRS até conseguiu aguentar a coisa, mais hesitação menos hesitação.

Estou plenamente convencida que lhe saiu a sorte grande nesse dia. Passou a ter outro destaque, outra posição. E foi por aí subindo até ocupar o estatuto que tem hoje, chegando a fazer reportagens de guerra (como no Líbano, há pouco tempo) para as quais não tem nem talento nem os ditos no sítio. Basta vê-lo com o seu coletinho caqui cheio de bolsos, a olhar para todos os lados e para a câmara só lá de vez em quando, não vá algum mau saltar de trás de uma pedra. Aquilo não é para toda a gente, pronto. Para mim, por exemplo, nem pensar. Por isso é que não sou jornalista de guerra.

E, por conhecer os meus próprios limites, também não sou escritora, nem pintora, nem fotógrafa. Tenho hobbies, é isso.

Ora aqui o JRS não conhece os seus próprios limites. Note-se que eu não pretendo fazer crítica literária, longe de mim. Mas há coisas que não percebo. E uma delas é: como é que este tipo vende 110.000 exemplares (10ª edição desde Outubro de 2006) deste livro (grosso ainda por cima e sabemos bem como os portugueses são preguiçosos nisto das leituras) “A fórmula de Deus”? Como? Como é que isto é possível? A única explicação que tenho é a guerra do golfo e o efeito bola-de-neve que me apanhou a mim também.

Pois é. Aqui há umas semanas entrei na Bulhosa, dei uma volta pelos escaparates, não vi o que procurava, perguntei ao senhor que vasculhou no computador para confirmar que não havia, dei mais uma volta, fui aos tops de vendas e pensei, bom, deixemo-nos de preconceitos, afinal nunca li nada deste tipo, 110.000 exemplares há-de querer dizer qualquer coisa e lá comprei o livrito.

Bom, já há muito tempo que não lia nada de tão inconsistente (e li tudo até ao fim, aplicadíssima). Enredo que pretende ser de suspense, mas que não tem nenhum. Personagens incredíveis utilizadas para explicar aos leitores as coisas que o JRS pensa que eles não sabem, a CIA (essa mesma, a dos americanos) com um comportamento idêntico ao da GNR da merdaleja, enfim, fiquei pasmada.

Só umas coisinhas para se perceber melhor o ridículo dos tesourinhos deprimentes que aqui vou deixar mais à frente. Os heróis são: um historiador português, professor universitário e eminente criptólogo mundial (tá-se a ver, não tá-se?); uma cientista iraniana da área da física. Ok? Malta culta, com nível. Do enredo, nem vale a pena falar, tal é a trapalhada. Agora vejam-se estes diálogos:

Ela, no Cairo – “aquela é a mais importante mesquita da cidade, o lugar mais sagrado do Cairo (…) é a mesquita de Sayyidna al-Hussein”.
Ele (historiador e tal, visitante assíduo do Cairo por razões profissionais) – “Ah, sim? O que tem ela assim de tão importante?” (quem já foi ao Cairo, mesmo sem ser historiador, sabe que se leva com esta mesquita e a sua história logo no primeiro dia. Claro que para quem não foi e a quem é preciso explicar, a solução é transformar a personagem num parvo ignorante)
Ela – “Dizem que está ali uma das mais sagradas relíquias do Islão, a cabeça de al-Hussein”
Ele – “E quem é esse ?” (Isto é um must!)

Segue-se um diálogo algo extenso para explicar o que são sunitas e xiitas.

Mais à frente:

Ela – “Professor Noronha, sabe qual é a energia libertada por uma bomba atómica?”
Ele – “A energia nuclear?” (vá lá, até aqui o gajo ainda ia…)
Ela – “Sim. Sabe que energia é essa?”
Ele – “Suponho que tenha a ver com os átomos, não é?” (suponho que tenha a ver…., que delícia)

Outra gira. O eminente criptólogo, um dos mais conceituados peritos do planeta, afinal a CIA recorreu a ele e a mais ninguém, na volta só tem que decifrar um simples anagrama e vai tentando fazer a coisa sempre no mesmo papelito amarrotado no bolso, com uma bic, pelas mesas dos cafés. É um método, como qualquer outro, claro. Agora o diálogo, não vá algum leitor não saber o que é um anagrama e não ter um dicionário lá em casa:

Ele – “sabe o que é um anagrama?”
Ela (cientista e tal) – “Já ouvi falar, mas, sinceramente…” (já ouviu falar…)

Sinceramente, digo eu. É que são 574 páginas a este nível. Como é que é possível?

Ó Florbela, põe lá um travão no gajo, pá. Explica-lhe o Princípio de Peter e convence-o a ficar-se por pivot. É que ele vende muito e isso é grave.

abril 15, 2007

Frases acertadas

Um destes dias estava no messenger a falar com uma amiga (bom, efectivamente não a conheço pessoalmente, é mais um daqueles conhecimentos virtuais que, por esta ou aquela razão, acabam por se transformar em amizades), naquela típica conversa de mulheres em que se fala de homens, pois então, de paixões, amores e amizades, e de repente a pequena (digo pequena por ela ser uns bons anitos mais nova que eu) diz algo parecido com isto:

- pois é. as pessoas um dia amam-se, outro dia separam-se e, quando são crescidas, ficam amigas para o resto da vida.

Gostei mesmo desta frase. É que tenho a sorte de, salvo raras desonrosas excepções, ter uns quantos antigos namorados que se transformaram em amigos para o resto da vida.

Pronto, há alguns com quem falo muito frequentemente, outros que só vejo lá de vez em quando, mas sei que são amigos, amigos do peito mesmo.

E acho que conseguir-se isso é uma das maiores provas de maturidade (o tal ser crescido) que duas pessoas podem mostrar numa relação.

Amiga, sabes que falo de ti. Obrigada por me teres deixado na memória este teu dito.

abril 14, 2007

Soluções complicadas


Cada vez mais me convenço que este animal não bate bem.
Faz-me lembrar aquelas pessoas que escolhem sempre os percursos mais tortuosos para chegarem onde querem, sem perceberem aquela coisa simples que aprendemos logo na escola primária: o caminho mais curto entre dois pontos é a recta, certo?

Transamerica

Num destes dias em que não apetecia sair de casa, alugámos “Transamerica”. http://www.transamerica-movie.com/

É a história de Bree, um transexual que, nas vésperas de fazer a sua operação para mudança de sexo, recebe um telefonema dum filho adolescente cuja existência ignorava, a pedir ajuda. O rapaz (Toby), que aos 17 anos vende o corpo às bichas de Nova Iorque, está preso, a mãe morreu, fugiu do padrasto e não tem quem lhe pague a fiança. Bree não se identifica, diz que o pai já não mora ali, mas acaba por vir de Los Angeles para Nova Iorque a fim de pagar a fiança (que afinal era de 1 dólar), apresentando-se a Toby como uma senhora que faz parte de uma igreja qualquer que dá apoio a jovens como ele. Quando Bree percebe qual é o ganha-pão de Toby e este lhe diz que quer ir para a Califórnia para ser uma porno-star, resolve levá-lo. A partir daqui temos um road movie em jeito de trágico-comédia, com os inevitáveis equívocos que a situação provoca, as descobertas que se vão fazendo ao longo da viagem, a ligação afectiva que se estabelece entre os dois, revelando a história duma família disfuncional como tantas outras.

Sem ser um filme excepcional, agradou-me deveras.

abril 13, 2007

Juramento

Si el amor hace sentir hondos dolores
Y condena a vivir entre misérias
Yo te diera, mi bien, por tus amores
Hasta la sangre que hierve en mis arterias

Si es surtidor de místicos pesares
Y hace al hombre arrastrar largas cadenas,
Yo te juro arrastrar-las por los mares
Infinitos y negros de mis penas.


É assim o amor: sofrido, mas a valer toda a entrega, cantando.

abril 12, 2007

Ensaio

Duas semanas sem ensaio e nem percebia como me estava a fazer falta.

O maestro estava especialmente bem disposto e com aquele sentido de humor que põe toda a gente a rir.

Surpreendo-me sempre com este homem de cada vez que começamos a ensaiar uma música nova, como ontem.

Ele começa a cantar para nós apanharmos a melodia, eu olho para a partitura e penso, desta vez é que não vamos lá, esta coisa é mesmo complicada. E não é que vamos lá sempre? Com infinita paciência e obrigando-nos a inúmeras repetições, por vezes de sequências de apenas quatro ou cinco notas, ao fim de 1 hora aquilo já soa a qualquer coisa.

E no fim, depois de ensaiar cada naipe individualmente, vai juntando 2 naipes à vez, depois 3, finalmente os 4 e, quem diria, temos música! Ok, vai ter de ser ensaiado mais umas dezenas de vezes até estar bem. Mas logo à primeira, conseguimos quase sempre ter um embrião minimamente jeitoso do que aquilo vai ser daqui a umas semanas.

E esta última é um mimo. Um juramento de amor cubano que quando estiver afinadinho vai ser bom de ouvir.

Amanhã logo deixo aqui a letra.

abril 08, 2007

Primeiros amores - La suite

Ontem, ao telefone:

- Então querido, ela gostou da prenda?
- Oh mãe, devias ter visto. Adorou.
- ............
- Disse que nunca ninguém lhe tinha dado uma prenda de que ela tivesse gostado tanto.
- Vês?

Esteve das 10 da noite às 2 da manhã a fazer aquilo. Valeu a pena. Aprendeu o que tem valor e de recompensa, a miúda gostou. Yes!

Amores antigos

Hoje de manhã abro a gaveta para tirar umas meias lavadas e montes de amêndoas misturadas com as meias e um cartão a olhar para mim.

Fecho a das meias, abro a das cuecas e mais amêndoas coloridas a sorrirem para mim e outro cartão.

Na das camisas de noite, o mesmo cenário. Fico a olhar para aquilo a sorrir e a lembrar-me da Páscoa de há 9 anos em que amêndoas como estas me atafulharam a caixa do correio e rebolaram pelo chão do hall de entrada do prédio.

Vou buscar uma taça, procuro as amêndoas no meio da roupa e como uma, de chocolate preto.


Amores antigos também é bom.

abril 06, 2007

Primeiros amores

Telefonema do meu filho hoje à hora do almoço:

- Mãe
- Sim, querido
- Amanhã faço um mês (um mês, que delícia) de namoro com a ... e não sei que lhe hei-de dar como presente. Não lhe queria dar flores outra vez...
- Então, tens de lhe dar uma coisa que aches que ela vai gostar
- Ela não usa brincos, nem acessórios, nem nada dessas coisas...
- Gosta de ler, de ouvir música?
- Pois, posso comprar-lhe um disco...
- Compras nada. Gravas-lhe um cd, com músicas que tu gostes, escolhidas por ti, pela ordem que tu entenderes. Imprimes uma capa com uma imagem bonita... É mais pessoal, é uma coisa feita por ti, com que perdes tempo, que mostra que te interessas. Muito mais giro.
- Achas?
- Claro que acho. Já tenho feito isso e gosto que me façam.
- Então vou fazer. E dou-lhe também uma rosinha.
- Isso, querido.

Primeiros amores, que bom que é.

Sonhos com sabor a sal

Imagino uma falésia, escadas toscas penduradas na rocha, uma praia minúscula lá em baixo, o mar a desfazer-se na areia.

Imagino a Berlenga (palco de amores de juventude) muito ao fundo, e a água daqui até lá verde escura e encrespada de carneirinhos brancos.

Fecho os olhos e sinto o vento que me bate na cara, que me embaraça os cabelos e os mistura com os teus, enquanto me abraças por trás e me beijas o pescoço.

Sinto o calor do teu corpo encostado ao meu, as tuas mãos que me afagam, me mexem, os teus lábios em segredos no meu ouvido.

Deito a cabeça para trás, pouso-a no teu ombro e abandono-me a sentir só e apenas a tua respiração em mim.

Viras-me para ti, puxas-me o cabelo para cima, olhas-me doce docemente, hesitas mirando o chão e por fim ganhas coragem e beijas-me com ternura misturada com desejo.

Retribuo o beijo e ficamos ali muito tempo entre beijos e olhares, como dois adolescentes.

Sinto a brisa quase vento, o cheiro forte do mar e distingo a praia da Berlenga com as gaivotas às voltas a piar como loucas em manhãs de um Agosto distante.

Abro os olhos e afinal estou aqui, não há falésia, não há mar encrespado, não há praia lá em baixo, nem escadas penduradas na rocha, nem Berlenga nenhuma.

Apenas eu, sozinha na minha sala com a cabeça cheia de sonhos misturados com músicas já gastas de tão ouvidas.

Abro a janela e grito o teu nome. Ninguém me responde.

abril 02, 2007

Peso, contorno cego, estudo prolongado, panejamento


Aqui há uns tempos falei das minhas aulas de desenho na SNBA.

Os progressos são lentos, o trabalho árduo e as duas horas sempre insuficientes para responder aos exercícios propostos com algo que não nos faça enfiar a cabeça na areia de vergonha.

A coisa fica automaticamente resolvida dada a escassez de areia na sala de aula, de maneira que não há outro remédio senão continuar em frente de cara alegre.

Com o primeiro exercício proposto, este aqui ao lado, devemos transmitir a sensação de peso e volume no desenho, imaginando que o estamos a fazer como se se tratasse de uma peça de barro. Partindo do eixo da figura, do "cerne" como dizem os professores (neste caso a coluna vertebral da menina) para o exterior, vamos largando a cera no papel, do centro para fora, sem nunca desenhar o contorno. O resultado é um borrão preto, como se pode facilmente constatar.

Os exercícios seguintes são de contorno. Podem ser de contorno cego rápido de 5 minutos (como os aqui em baixo) em que os olhos seguem o contorno da figura e o lápis desenha no papel sem que o nosso olhar largue a figura a não ser no fim de cada linha. Aí, dá para olhar para o papel, ver o desatre e tentar iniciar a linha seguinte num ponto que não esteja muito errado. Em alternativa há o contorno não cego ou o contorno lento (20 minutos). Gosto mais dos cegos e rápidos, não só porque resultam em verdadeiros ET's, como porque temos sempre a desculpa de dizer: Ok, não está assim muito parecido, mas foi feito sem olhar e em 5 minutos! O uso de borracha é, obviamente, muitíssimo mal visto e objecto de duras críticas, ou seja, não se pode usar mesmo.



A seguir passamos para o estudo prolongado, primeiro sem medidas, depois com medidas. No primeiro caso o que devemos fazer é, basicamente, tentar desenhar o melhor possível e mais próximo da realidade aquilo que vemos.


No segundo, utilizamos o braço esticado, o lápis como referência de medida na mão do braço esticado e só um olho para tentar perceber quantas cabeças cabem na perna, qual o ângulo que o tronco faz com a vertical, enfim uma trapalhada (eu cá preferia usar uma fita métrica e ir medir a menina, mas não se pode). O resultado final não é, pelo menos no meu caso, substancialmente diferente do estudo sem medidas...

Depois de algumas variações sobre este tema eis que temos de dar volume à coisa. O modelo é iluminado e compete-nos aclarar as zonas mais próximas da luz e escurecer as que ficam mais longe. Isto faz-se inicialmente com o modelo completo e depois com partes do modelo à nossa escolha, com cera ou tinta e aparo. Embora fique sempre com os dedos cheios de tinta que demora dias a sair, optei quase sempre por este método dado que o que consegui fazer com a cera, bom, o melhor é falar de outra coisa.

E pronto, nas últimas 4 aulas antes da Páscoa, dedicámo-nos ao estudo da prega ou seja, estivémos a desenhar panos pendurados na parede. Uma das vantagens é que o pano, contrariamente ao modelo (eles bem que se esforçam mas poses de 50 minutos...), não se mexe.

A desvantagem é que ao fim de 4 sessões já não se aguentam os panos. Significa também que, agora que vem aí o calor, é que os modelos se vão vestir depois de terem rapado frio no inverno. Enfim, tudo ao contrário.

Ah! A título meramente informativo, cada um destes desenhos é feito em folhas com uma dimensão próxima do A1 que devem ser usadas na totalidade. E pronto, no fim do ano lectivo, senão estiver com a cabeça na areia, conto o resto.



abril 01, 2007

Palavras perdidas

Atiro-te palavras que escorrem por ti como a chuva que bate nas vidraças, cai na calçada e entra no esgoto para se perder no mar.

Atiro-te palavras na esperança de que me sejam devolvidas com efeitos imprevistos, como bolas de ténis em raquetes experientes, obrigando-me a correr para um e outro lado para apanhá-las e atirá-las de novo para ti, com novos efeitos e variações.

Mas as minhas palavras, como bolas menos hábeis, ou batem na rede, rebolam pelo chão e aí ficam, paradas, inúteis, sem ninguém que lhes pegue, ou são devolvidas para outro lugar que não o meu.

Continuamente tento avançar mas bato em paredes, esbarro em muros para onde quer que me volte, enfiada num túnel do qual não vejo o fim e de que já esqueci o princípio.

Palavras já um dia sussurradas ao teu ouvido, umas agora perdidas bailando ao sabor do vento, outras que foste guardando em caixas fechadas a cadeado de que deitaste fora a chave sem mesmo olhares para elas.

Antes que te tocassem, antes que o seu sabor te levasse a quebrar a concha em que te fechaste e as devolvesses embrulhadas em jeito de presente.