fevereiro 10, 2007

Dias assim

Há dias assim. Acordamos assim, vamos fazendo as coisas assim, passamos o tempo assim e não saímos disto. Hoje é um dia assim. Faço o que tenho a fazer, mas não tudo, faço o que não tenho de fazer, deambulo pela casa, começo e não acabo, sento-me, levanto-me, decido, desisto, pego num livro que largo a seguir, abro o frigorífico e constato que as prateleiras vazias mas não vou às compras, o cão olha-me de soslaio com um ar de crítica velada, o gato aceita cinco minutos de carícias e não mais.

Parece que tudo me passa ao lado, entre mim e o resto do mundo esta coisa translúcida e viscosa que me embota os sentidos e me impede de sair de mim mesma, de tocar a vida e de por ela ser tocada, de me sentir nos lugares, de trocar olhares, de sentir algo mais que o coração que bate, o sangue que circula nas veias, o cérebro que vagueia sem tino.

Sem tino vai de recordação em recordação, de sonho em sonho, de lugar em lugar.Penso nas pessoas que já passaram pela minha vida, amigos, conhecidos e outros nem isso. Apenas toques de raspão no percurso da vida, por vezes quentes como o fogo, por vezes gelados como a neve, deixando recordações de alegria ou de profunda tristeza.

Talvez por hoje estar a pensar mais nisso que o habitual, me sinta assim, perdida, sem rumo, metida dentro duma concha donde não me apetece sair a não ser para gritar

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou velho, não tenho frigorífìco, não posso deambular pelos 15 m2 da minha casa cheia de tralhas, costumo gritar com o cão e bater na porra do gato, também passei ao lado de tudo, já não tenho muitas recordações, e o que apetece mesmo é meter-me numa concha bem quentinha. Sair à rua para gritar, nem pensar. Lá fora chove...