Aconteceu-me que um amigo parisiense, fotógrafo, escritor e editor, me pediu para lhe traduzir para português um pequeno livro de bolso sobre a Capoeira. Mais fotografias e legendas que propriamente um grande texto, edição original bilingue (inglês/francês) a facilitar a tarefa (o que não vai por um lado vai pelo outro) e lá acedi de bom grado, amizade é para estas coisas e até me dá um certo gozo este tipo de desafios, já que traduções e escrita não são propriamente a minha área. Lá fiz a tradução, pedi opinião a outro amigo, esse tradutor de verdade, que me deu os ámens e pimba, mail para Paris.
Passaram-se uns mesitos e sexta-feira chega o segundo pedido. "Minha querida" e outros mimos adequados à ocasião, "sabes que isto agora é para editar outra vez em bilingue, mas desta vez em inglês/português, só que o público-alvo é sobretudo brasileiro, de maneira que pedi aqui a um amigo que viveu uns anos no Brasil para adaptar a tua tradução a português do Brasil, vê lá se achas bem?"
Não sei se estão a ver a trapalhada: tradução de inglês/francês para português de Portugal, adaptado para português do Brasil por um francês? Torci o nariz mas lá me enchi de brios, peguei no grande "Novo Aurélio - Dicionário da Língua Portuguesa - Século XXI", a bíblia de qualquer tradutor que se preze e dispus-me à tarefa de verificar gerúndios, partículas possessivas em ordem inversa, eliminação de alguns cês e pês que nos abrem as vogais mas que eles não usam, formas lusas e brasileiras de n palavras, acentos agudos que passam a circunflexos, mais uns tremas para enfeitar e a coisa até que ia andando.
Claro que acabei por concluir que boa vontade e Aurélios não chegam, por mais livros brasileiros que se tenha lido, que telenovelas não consumo, obrigada, e acabei por enviar os textos a uma amiga de um amigo, amizade é para estas coisas, brasileira de verdade e ligada às letras, para desbravar a coisa.
É que por mais acordos ortográficos que tentemos fazer, (será que ainda há quem tente?) a verdade é que esta língua que nos une, à custa do tanto mar que nos separa, cada vez é menos a mesma.
2 comentários:
Teresa, também não entendo essa de acordo ortográfico. A sua pergunta é perfeita: para quê?
Nunca me aprofundei muito nessa questão, e talvez lá os gramáticos e os linguistas e outros tenham todos os bons argumentos para, de vez em quando, achar que devem dizer como a língua irá se comportar dali em diante. Mas, como leiga, apenas apaixonada pelo português, não percebo esse tipo de imposição. Que a África, que Portugal, que o Brasil, cada um fale e escreva como quiser, como se sentir melhor. Língua também é coisa de alma e sensibilidade de cada povo, e deve ser pensada nesse âmbito.
Enquanto isso, veja os nossos livros, que custam tanto a cruzar o Atlântico e ninguém toma uma providência. Pelo menos ando um pouco mais feliz ultimamente, por ver iniciativas de um ou outro editor português...
nao deve estar " badalhoca " par fazer um sitio tao bonito e so interessante ...... je reviendrai .... um francès .... Gilles
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