fevereiro 27, 2007
Andorra outra vez 2
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fevereiro 25, 2007
Não lhe respondo, tal como não respondo a ninguém, há tempos que decidi que não falava mais, para quê, se ninguém entende o que digo, eu a contar coisas importantes que me tinham acontecido, a boneca que ficara sem um braço, a Alice que me tinha puxado as tranças na escola, o primo Gilberto que me chamava para trás do celeiro em casa dos meus avós, me pedia para levantar as saias e ficava a mirar as minhas pernas com um olhar estranho, pois eu a contar estas coisas e os meus filhos a trocarem olhares com ar de caso, os filhos dos meus filhos
Pois como nunca ninguém percebia nada do que eu contava, fechei-me em copas e resolvi que não dizia mais nada e se calhar foi por isso que vim aqui parar a esta casa com um jardinzinho à volta, uma velha na cama ao lado da minha chamada Otília mas que eu não conheço, e um espelho no quarto que deve estar estragado, porque quando olho para ele não vejo uma menina de bochechas rosadas e tranças, mas sim uma velha de cabelos brancos e olhar perdido a fitar-me com a minha boneca nos braços como se fosse dela.
Publicada por tcl à(s) 22:06 2 comentários Etiquetas: estórias
fevereiro 16, 2007
Decompondo a luz - laranja
Claro que há o fruto que dá o nome à cor, e há o pêssego e a nêspera e a abóbora, há um imenso ramalhete de flores, um caranguejo na ria, a falésia a reflectir-se no mar do Algarve e tantas coisas mais.
Subo a duna e é como se fosse a primeira pessoa do mundo a pisá-la, a enterrar os pés nus naquela areia quente. Lá em cima descubro recantos planos no meio das dunas, como ilhas de sal, donde saem troncos de árvores tão secas como tudo o que me rodeia até perder de vista.
Não conheço nada mais laranja neste mundo que as dunas de Sossussvlei na Namíbia.
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fevereiro 15, 2007
Andorra outra vez
Não gosto quando os dias estão como este aqui, em que não se vê nada a 10 metros de distância e o vento nos faz bater a neve na cara.
Gosto de grandes espaços, de desertos, de deixar o meu olhar perder-se bem longe e estas montanhas a toda a volta oprimem-me, angustiam-me e assustam-me.
Então porque vou?
Porque ando há dois anos a recusar este prazer ao meu filho e este ano não fui capaz de dizer não outra vez.
Porque quando está sol e consigo esquiar um bocadinho, na descida mais suave, bom, talvez na outra a seguir, sem cair e a fazer tudo bem, sinto-me a maior.
Porque gosto de passar umas horas nas águas quentes da caldeia e vir cá fora ao frio em fato de banho a deitar vapor por todo o lado.
E depois porque posso tirar fotografias como estas aqui em baixo. Toda a cor em preto e branco.
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fevereiro 11, 2007
The man I love is Caetano Veloso
Quando George e Ira Gershwin compuseram isto, não imaginavam concerteza que uma das mais bonitas interpretações ia ser, anos mais tarde, de um brasileiro.
Caetano, por favor, não pares nunca!
someday he'll come along
the man I love
and he'll be big and strong
the man I love
and when
he comes my way
I’ll do my best to make him stay
he'll look at me and smile
I’ll understand
and in a little while
he'll take my hand
and though it seems absurd
I know we both won't say a word
maybe I shall meet him Sunday
maybe Monday
maybe not
still I’m sure to meet him one day
maybe Tuesday
will be my good news day
he'll build a little home
just meant for two
from which
I’d never roam
who would, would you?
and so all else above
I’m waiting for the man I love
Publicada por tcl à(s) 23:15 3 comentários Etiquetas: gosto disto, músicas
fevereiro 10, 2007
Dias assim
Parece que tudo me passa ao lado, entre mim e o resto do mundo esta coisa translúcida e viscosa que me embota os sentidos e me impede de sair de mim mesma, de tocar a vida e de por ela ser tocada, de me sentir nos lugares, de trocar olhares, de sentir algo mais que o coração que bate, o sangue que circula nas veias, o cérebro que vagueia sem tino.
Sem tino vai de recordação em recordação, de sonho em sonho, de lugar em lugar.Penso nas pessoas que já passaram pela minha vida, amigos, conhecidos e outros nem isso. Apenas toques de raspão no percurso da vida, por vezes quentes como o fogo, por vezes gelados como a neve, deixando recordações de alegria ou de profunda tristeza.
Talvez por hoje estar a pensar mais nisso que o habitual, me sinta assim, perdida, sem rumo, metida dentro duma concha donde não me apetece sair a não ser para gritar
Publicada por tcl à(s) 19:35 1 comentários Etiquetas: feelings
fevereiro 06, 2007
Abro a caixa e eles ficam a flutuar no quarto, lá bem perto do tecto onde não lhes chego, a olharem para mim com sorrisos trocistas e aquele arzinho de como quem diz querias?. Finjo ignorá-los, miro as unhas com mal disfarçado desinteresse, vou até à janela como se o que está lá fora me atraísse, a ver se algum se descuida e se deixa apanhar. De costas voltadas, ouço-os esvoaçar, um restolhar de asas, sussurros que não entendo, uma agitação crescente.
Detestam ser ignorados, os sonhos, e por sabê-lo, faço este jogo de escondidas, só para os desorientar. Estes, para mais, depois de fechados tanto tempo, agora que se apanharam à solta, teimam em chamar-me a atenção mas não querem que eu lhes pegue, talvez com receio que eu os enfie de novo na caixa.
Não é essa porém a minha intenção. Soltei-os porque quero vivê-los de novo, porque me fazem falta, porque a vida sem sonhos não tem qualquer interesse. Fechei-os há uns tempos por medo do que me faziam sentir, por vezes rir, por vezes chorar, por vezes ficar assim quieta, absorta, entretida a acrescentar-lhes mais um pedacinho, a mimá-los, a alimentá-los, a vestir-lhes uma roupa bonita, a penteá-los, a dar-lhes banho, a fazer-lhes festas, e acontece que há alturas em que o coração não aguenta tamanha dedicação. Por isso os encerrei, convencida que poderia viver mais tranquila sem eles.
Só que não posso. Eu não sou eu sem os meus sonhos, por mais absurdos, infantis ou irrealizáveis que possam ser. Sem sonhos, fico parada no tempo, sem ver nenhuma luz ao fundo do túnel para onde avançar.
E assim aqui estou, de testa encostada ao vidro frio da janela, com os sonhos que esvoaçam pelo quarto atrás de mim, até que algum me cuide distraída e me poise no ombro, de forma que eu o possa agarrar e com mil cuidados de novo o alimentar no meu coração.
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fevereiro 05, 2007
Contactos sino-lusos
Hoje recebi no meu blog duas visitas da China.
Constato assim que já se vêm resultados positivos da visita do primeiro ministro e sua comitiva ao gigante asiático.
Publicada por tcl à(s) 22:32 1 comentários Etiquetas: disparates
Stop smoking - 3rd week
Bom, nem vale a pena estender-me muito, já que as diferenças em relação à semana anterior são praticamente nulas, excepção feita ao fim-de-semana, em que mantive o ritmo dos outros dias.
Contas feitas, aguento-me durante o dia, mas depois do jantar fraquejo. Não passo de um verme sem força de vontade. De qualquer forma, não desisto. A quantidade de cigarros fumados é substancialmente inferior ao que era há 3 semanas atrás. Espero conseguir esta semana estar nem que seja um dia, sem fumar um único cigarro. Vamos lá a ver. Isto é mesmo difícil, maldita nicotina... bolas.
Publicada por tcl à(s) 16:59 0 comentários Etiquetas: diário
fevereiro 04, 2007
Acordo ortográfico? Para quê?
Passaram-se uns mesitos e sexta-feira chega o segundo pedido. "Minha querida" e outros mimos adequados à ocasião, "sabes que isto agora é para editar outra vez em bilingue, mas desta vez em inglês/português, só que o público-alvo é sobretudo brasileiro, de maneira que pedi aqui a um amigo que viveu uns anos no Brasil para adaptar a tua tradução a português do Brasil, vê lá se achas bem?"
Não sei se estão a ver a trapalhada: tradução de inglês/francês para português de Portugal, adaptado para português do Brasil por um francês? Torci o nariz mas lá me enchi de brios, peguei no grande "Novo Aurélio - Dicionário da Língua Portuguesa - Século XXI", a bíblia de qualquer tradutor que se preze e dispus-me à tarefa de verificar gerúndios, partículas possessivas em ordem inversa, eliminação de alguns cês e pês que nos abrem as vogais mas que eles não usam, formas lusas e brasileiras de n palavras, acentos agudos que passam a circunflexos, mais uns tremas para enfeitar e a coisa até que ia andando.
Publicada por tcl à(s) 23:49 2 comentários Etiquetas: penso eu de que
fevereiro 03, 2007
Decompondo a luz - Vermelho
Vermelho.
Lábios, rosas, morangos, cerejas, malaguetas, uma melancia cortada ao meio. Um campo de papoilas. Fogo, calor, vinho. Bandeiras, sinais de trânsito, uma ponte sobre um rio.
Cerveja kingfisher, anúncios em restaurantes de praia, especiarias nos mercados, pintas no meio da testa das mulheres, colares de flores, saris.
Barretinhos nas cabeças de pequenos budas de pedra, dança de leques em Hanoi, templos, estátuas e pinturas de deuses, uma praça em Moscovo.
Balões e estrelas de papel.
Lenços que pela sua forma identificam grupos, guardas fardados a relembrar passados de glória.
Danças modernas e danças antigas nos mesmos palcos da mesma vida.
Vermelho em tantas recordações de tantos lugares.
Céu vermelho quando o sol se põe e já não se vê.
Vermelho é também o sangue que me corre nas veias e me faz bater o coração.
Publicada por tcl à(s) 19:24 1 comentários Etiquetas: arco-iris, fotos tcl