Abri o coração e deixei-te entrar. De início a porta não queria ceder, dobradiças perras da falta de uso, mas vinhas com aquele óleo infalível feito de palavras doces, de olhares de desejo, de sorrisos cúmplices e então ela abriu-se de mansinho sem um ruído e tu entraste.
Para que te sentisses bem, limpei o pó, as teias de aranha, tirei os lençóis de cima dos sofás, abri as janelas, deixei entrar o sol e o calor, pus flores frescas nas jarras com água limpa. Ficou como novo o coração, cheio de luz, confortável e acolhedor. Viste as caixas onde guardo os amores, os carinhos e ternuras, as alegrias e tristezas, mexeste em todo o lado com um ar curioso, passeaste pelas aurículas e ventrículos, espreitaste pela aorta, avançaste um bocadinho pela veia cava superior mas não te interessaste muito pela inferior, talvez com medo de cair. Achei a tua presença agradável, deixei-te ficar e tu instalaste-te com o pouco que tinhas trazido contigo e uma cópia da chave que te dei.
Passados uns dias, perguntaste se podias dar um saltinho à cabeça. Hesitei, pois parecia-me que estavas bem no coração, mas acabei por te mostrar o caminho. Não era difícil e, mesmo sem mapa, chegaste lá num instantinho e sem te enganares uma só vez. Achei graça, pois tinhas-me dito que o teu sentido de orientação não era grande coisa. Percorreste as circunvoluções, paraste nalgumas memórias, interessaste-te pelos raciocínios lógicos e pelas abstracções, questionaste alguns pensamentos e razões e, sem que eu desse por isso, foste tirando as coisas do lugar, deixando-as espalhadas por aqui e por ali. Não me preocupei, pois estava a gostar de observar a tua curiosidade e pensei que depois, quando tivesse tempo, logo arrumaria tudo.
Embora nem sempre te veja, sinto o rasto da tua presença, o teu cheiro, o teu calor, vejo as tuas pegadas, a tua sombra a dobrar uma esquina e, por mais que arrume, encontro sempre alguma coisa fora do lugar, por isso sei que continuas a andar por aqui.
Por enquanto, não mudo a fechadura. Gosto de te ter por cá. São estas marcas da tua presença que me fazem manter as janelas abertas, mudar as flores da jarra, limpar o pó, impedir que se formem de novo teias de aranha e olear as dobradiças da porta.
É bom abrir o coração e deixar alguém entrar e desarrumar um pouco a nossa vida. É isso que nos faz estar VIVOS.
E tu? Quando foi a última vez que abriste o coração?
Para que te sentisses bem, limpei o pó, as teias de aranha, tirei os lençóis de cima dos sofás, abri as janelas, deixei entrar o sol e o calor, pus flores frescas nas jarras com água limpa. Ficou como novo o coração, cheio de luz, confortável e acolhedor. Viste as caixas onde guardo os amores, os carinhos e ternuras, as alegrias e tristezas, mexeste em todo o lado com um ar curioso, passeaste pelas aurículas e ventrículos, espreitaste pela aorta, avançaste um bocadinho pela veia cava superior mas não te interessaste muito pela inferior, talvez com medo de cair. Achei a tua presença agradável, deixei-te ficar e tu instalaste-te com o pouco que tinhas trazido contigo e uma cópia da chave que te dei.
Passados uns dias, perguntaste se podias dar um saltinho à cabeça. Hesitei, pois parecia-me que estavas bem no coração, mas acabei por te mostrar o caminho. Não era difícil e, mesmo sem mapa, chegaste lá num instantinho e sem te enganares uma só vez. Achei graça, pois tinhas-me dito que o teu sentido de orientação não era grande coisa. Percorreste as circunvoluções, paraste nalgumas memórias, interessaste-te pelos raciocínios lógicos e pelas abstracções, questionaste alguns pensamentos e razões e, sem que eu desse por isso, foste tirando as coisas do lugar, deixando-as espalhadas por aqui e por ali. Não me preocupei, pois estava a gostar de observar a tua curiosidade e pensei que depois, quando tivesse tempo, logo arrumaria tudo.
Embora nem sempre te veja, sinto o rasto da tua presença, o teu cheiro, o teu calor, vejo as tuas pegadas, a tua sombra a dobrar uma esquina e, por mais que arrume, encontro sempre alguma coisa fora do lugar, por isso sei que continuas a andar por aqui.
Por enquanto, não mudo a fechadura. Gosto de te ter por cá. São estas marcas da tua presença que me fazem manter as janelas abertas, mudar as flores da jarra, limpar o pó, impedir que se formem de novo teias de aranha e olear as dobradiças da porta.
É bom abrir o coração e deixar alguém entrar e desarrumar um pouco a nossa vida. É isso que nos faz estar VIVOS.
E tu? Quando foi a última vez que abriste o coração?
Sem comentários:
Enviar um comentário