maio 28, 2007

quando for grande quero ser...

Nos meus últimos anos de liceu vivi aquela angústia que vivem os desgraçados como eu que não apresentam nenhuma vocação definida. Fiz aqueles testes de orientação profissional e tudo e saí de lá com aquele vacticínio que parece muito bom, mas não ajuda rigorosamente nada: "a menina pode seguir qualquer curso superior, dá para tudo". Isto para mim foi mais ou menos como "não dá para nada" porque fiquei na mesmíssima e com a única certeza de que tinha os dois hemisférios cerebrais muito equilibradinhos, o que se tem vindo a confirmar ao longo da vida, quer nos testes online ou onbook, quer na forma diletante como me apaixono por coisas que nada têm a ver umas com as outras.

A única coisa que eu sabia na altura, é que preferia as ciências às letras, o que já foi uma ajuda, pois só fiz mais duas disciplinas além das necessárias para completar o liceu, ou seja, todas as que havia para fazer da área de ciências. Outra certeza que tinha era a de que não queria seguir medicina (desmaio só de dizer sangue). Entre Arquitectura, Engenharia Civil (a sério, isto agora não se pode dizer, que dá logo para rir), Química, do Ambiente, Biologia, Agronomia, Economia e sei lá que mais, hesitei durante 3 longos anos. Hoje, sinto que poderia, deveria, ter escolhido outra coisa completamente diferente do que escolhi, mas vou-me contentando com hobbies e diversas actividades pós-laborais. Mesmo assim, sou uma "eternamente insatisfeita" típica, e acho que a vida não me vai chegar para tudo o que queria aprender a fazer.

Isto tudo, porque o meu filho está nessa fase e demonstra a mesma diletância e ausência de vocação definida da mãe, do pai, da tia, do tio... A escolha das disciplinas muda de ano para ano, a recta final aproxima-se e ele sem fazer a mínima ideia do que quer ser quando for grande. O teste de orientação profissional foi chapa 3 do meu e estes últimos anos no liceu idem: "vou para engenharia civil, vou para engenharia mecânica, vou para artes, vou para ceramista, vou para aeronáutica, vou fazer uma banda de música... não sei o que quero, mãe." E eu, não sei como ajudá-lo, não sei não. Não quero influenciá-lo, mas há coisas onde não o estou mesmo a ver, há outras em que acho que ele podia ser feliz, mas limito-me a fazer de advogado do diabo, a mostrar-lhe prós e contras, a mostrar-lhe a imensidão de coisas que pode fazer independentemente de estudar uma determinada área e, sobretudo, que a vida nos prega partidas tais, que a quantidade de pessoas que trabalha em áreas que nada têm a ver com o que estudaram é tal, que às tantas o curso que se tira pouco importa.

Para já, penso que ele devia experimentar o cinema de animação. Acho este filme, que ele fez com 15 anos, 3 amigos, plasticina, uma máquina fotográfica digital manhosa, muita paciência e muita imaginação, é uma delícia.

Mãe babada...

maio 25, 2007

Brico Té

Hoje fui ao AKI para comprar duas lâmpadas e umas folhas de lixa.

Saí de lá com:

- 5 lâmpadas
- umas folhas de lixa
- um nível
- uma craveira de precisão
- um esquadro de carpinteiro
- um aplicador manual para as folhas de lixa
- uma escova de papel autocolante
- um pacote de bostik
- máscaras sanitárias para protegerem o nariz e os pulmões do pó
- um mini berbequim
- um conjunto de 300 acessórios para o mini berbequim - para lixar, polir, gravar, fazer furos pequeninos em diversos materiais

- menos 150 € no bolso.

Não sei porquê, mas não resisto a ferramentas. Passo nas prateleiras dos alicates de vários tamanhos e formas, das chaves de porcas e parafusos com conjuntos que dão para tudo, dos utensílios que não sei para que servem mas para as quais invento rapidamente um monte de coisas giras para fazer (caso do mini-berbequim e dos respectivos acessórios), e fico em êxtase.

É mais forte do que eu. Tenho um conjunto de utensílios digno de inveja de qualquer bricoleur que se preze. Até uma mesa de carpintaria eu tenho. E não pensem que compro as coisas e depois não as uso. Não, não. Farto-me de curtir. Quem me quizer ver feliz dê-me armários para montar, boomerangues para talhar, lixar e pintar, brinquedinhos em madeira, maquetes, todas essas coisas que nos fazem suar um bocado e trabalhar com as mãos.

Se calhar devia gastar o dinheiro num fato saia-casaco e nuns sapatos de tacão alto estilo agulha.

Pelo menos, é o que a minha mãe me diz sempre, com o ar mais desconsolado deste mundo, quando me vê de ténis e calças de ganga ou, se a ocasião o exige, de sportif élégant.

Eu sei, carpintaria e ferramentas não é coisa de senhoras. Mas que querem, só de pensar que tenho aquelas tralhas todas no carro, já estou numa ânsia de ir para casa e encher-me de serradura.

qu'é delas, as lojitas de discos?

Irrita-me ter de ir à FNAC para comprar um simples disquito.

Atente-se que eu até gosto da FNAC. Gosto da abundância de livros, de me perder pelos escaparates, mirar as novidades, as promoções, encontar aquelas bandas desenhadas que não há em mais sítio nenhum, pôr os auscultadores e ouvir os cd's que estão a tocar e descobrir, "olha, que coisa gira!", e por aí.

Mas gosto de fazer isto quando tenho tempo, quando estou para aí virada.

Sim, porque se eu quiser comprar um determinado livro rapidamente, sem andar a bisbilhotar as prateleiras, tenho muitos sítios perto de casa onde ir. Felizmente, as livrarias têm resistido heroicamente ao monopólio da FNAC. O mesmo não se passou com as discotecas. Já viram que fechou tudo? Nas Amoreiras havia, que me lembre, 3 discotecas. Na Av. de Roma outras 3. Em Campo de Ourique, duas. Em qualquer centro comercial manhoso havia uma discoteca. Fora o Bairro Alto, que mantém, que eu saiba, uma loja de cd's com música alternativa, nada, népias, niente, pelo menos nas zonas onde me movimento regularmente.

Assim, quando quero comprar um miserável cd, ou vou à FNAC ou tento o supermercado. Como sou talvez um pouco careta, raramente encontro a música de que gosto ao lado das hortaliças.

Detesto monopólios. Vou deixar de comprar cd's. Quem é que me grava o...

Bom, deixem lá.

Gases

Por razões que não interessam agora, uma mulher tem de mudar os contratos da água, electricidade e gás para seu nome.

A dita mulher já habita na casa, da qual é comproprietária (ou co-proprietária?) há uns anos, e só por mero acaso, talvez preguiça de tratar da coisa, é que os contratos foram feitos pelo outro habitante.

A conta do banco da qual serão sacados os pagamentos é a mesma de sempre.

Os canos, electrodomésticos e etc., os mesmos são.

Da EPAL e da EDP, dizem-lhe que pode tratar da coisa pelo telefone, sem qualquer problema. Até aqui tudo bem.

Agora a bela da GDP: levar escritura de compra da casa (que até atesta que a mesma já era daqueles dois, ok? pois não interessa), rescindir um contrato, fazer um novo e pagar 30 ou 40€, marcar uma vistoria, que custa mais uns 60€, rezar aos céus para que esteja tudo bem, (que obviamente não vai estar, só pode sonhar isso quem nunca lidou com a GDP), fazer as malfadadas alterações que os srs. fiscais vão impôr e até, quem sabe, sugerir uma empresa mesmo boa que faz tudo na perfeição e não leva muito caro, ficar sem gás no entretanto, pedir outra vistoria, pagar mais não sei quanto, receber a notícia que ainda há uma coisinha para rectificar, e por aí fora durante uns mesitos.

Nestas circunstâncias a mulher hesita, pensa um bocadito e decide que, sendo o gás o mesmo, mais vale deixar tudo como está mais uns tempinhos, até que haja alguém que ponha ordem na GDP.

don't TOUCH the trees (em particular uma ali em alcântara)

Não, não é um post de cariz ecológico, é mais um alerta de saúde pública.

Estava eu parada no semáforo em frente ao Pingo Doce de Alcântara, quando vejo o homem no passeio assoar-se aos dedos, sacudir a mão, passá-la pelas calças, mirá-la e, não contente com o resultado, tirar o resto dos eflúvios nasais esfregando a dita no tronco da árvore.

Já tinha visto cenas destas na Ásia, exceptuando a parte da árvore (em geral a coisa fica pelos dedos ou, quanto muito, pelas calças), mas por cá foi mesmo uma estreia.

Se juntarmos a isto a incapacidade que muitos machos têm em manter a bexiga cheia até chegarem ao wc mais próximo, e utilizam amiúde a parte de trás das árvores para se aliviarem (parte esta, que nunca sabemos qual é), o melhor será mesmo, e à cautela, não tocar nas árvores.

É um conselho que esta vossa amiga aqui vos deixa.

maio 13, 2007

Aromas

Partiste levando contigo os nossos abraços, os nossos beijos, o nosso aconchego.
Comigo ficou o teu cheiro que me deixaste dizendo: toma, é para te lembrares de mim.
Vi-te de costas correndo, como a correr chegaras.
Olhei para o cheiro que me largaras na mão e cheguei-lhe o nariz. Aspirei devagarinho e senti-te ao pé de mim.
Embrulhei o cheiro e, com mil cuidados, guardei-o no bolso para não o perder.
Em casa, abri uma caixa onde guardo recordações e pus o cheiro lá dentro.
Antes, porém, arranquei-lhe um pedacinho e espalhei-o em mim.
É um cheiro bom, especial, mágico.
Por mais que me lave, não sai.

Impossível esquecer-te.

descriminação


pensando bem, se tenho posto uma cópia desta fotografia que tirei algures num restaurante na China, tudo se teria evitado.

quem sai aos seus, não é de genebra*

Há duas ou três noites atrás, naquela meia horita antes do jantar em que dormito no sofá em frente da televisão:

-mãe...
-humm..?

entreabro um olho

- tens umas luvas de plástico?
- para quê?
- nem te vou dizer...

entreabro o outro olho

- havendo, é daquelas de usar e deitar fora. no armário por baixo do lava-louça

fecho os olhos dois minutos

- mãe, não há. se quiseres, podes vir ajudar-me

abro, definitivamente, os dois olhos

- desculpa? se eu quiser, posso ir ajudar-te? que raio de conversa é esta? nem me disseste para que querias as luvas. e agora, dás-me a honra de eu te ajudar, ó marquês? não estás a ver bem, tu.

fecho novamente os olhos, passo pelas brasas mais dez minutos e esqueço o incidente. ao jantar, no meio do arroz de peixe:

- foi preciso estar contigo nove anos para ter de andar a mexer na caca do teu filho
- o quê ?!
- o teu menino deixou cair a caneta na sanita no meio do cócó e, como não havia luvas e ele foi incapaz de pôr a mão lá dentro, tive de ser eu
- ah, então era para isso que eu te podia ajudar, se quisesse, era?
- oh mãe, a caneta estava por baixo e aquilo por cima, um nojo.
- pois, mas houve quem lá fosse, não houve? Francamente, vê se cresces... lavavas as mãos a seguir...

Ainda bem que me deixei ficar pelo sofá. É que eu falo, falo, mas quem não punha lá a mão também, era eu.

*variante popular do ditado

maio 09, 2007

Pergunta

O que querem dizer exactamente os gajos, normalmente com aquele ar de quem não leva nada desta vida, que passam pelas miúdas e dizem: sssssssssssssssst?

maio 05, 2007

será mesmo?



On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux
Pourtant quelqu'un m'a dit...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

On me dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou
Pourtant quelqu'un m'a dit ...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"Il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"
Tu vois quelqu'un m'a dit...

Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,
Pourtant quelqu'un m'a dit que...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

une chanson qui croit à l'amour, diz ela

Je suis ton pile
Tu es mon face
Toi mon nombril
Et moi ta glace
Tu es l'envie et moi le geste
Toi le citron et moi le zeste
Je suis le thé, tu es la tasse
Toi la guitare et moi la basse

Je suis la pluie et tu es mes gouttes
Tu es le oui et moi le doute
T'es le bouquet je suis les fleurs
Tu es l'aorte et moi le coeur
Toi t'es l'instant moi le bonheur
Tu es le verre je suis le vin
Toi tu es l'herbe et moi le joint
Tu es le vent j'suis la rafale
Toi la raquette et moi la balle
T'es le jouet et moi l'enfant
T'es le vieillard et moi le temps
Je suis l'iris tu es la pupille
Je suis l'épice toi la papille
Toi l'eau qui vient et moi la bouche
Toi l'aube et moi le ciel qui s'couche
T'es le vicaire et moi l'ivresse
T'es le mensonge moi la paresse
T'es le guépard moi la vitesse
Tu es la main moi la caresse
Je suis l'enfer de ta pécheresse
Tu es le Ciel moi la Terre, hum
Je suis l'oreille de ta musique
Je suis le soleil de tes tropiques
Je suis le tabac de ta pipe
T'es le plaisir je suis la foudre
Tu es la gamme et moi la note
Tu es la flamme moi l'allumette
T'es la chaleur j'suis la paresse
T'es la torpeur et moi la sieste
T'es la fraîcheur et moi l'averse
Tu es les fesses je suis la chaise

Tu es bémol et moi j'suis dièse

T'es le Laurel de mon Hardy
T'es le plaisir de mon soupir
T'es la moustache de mon Trotski
T'es tous les éclats de mon rire
Tu es le chant de ma sirène
Tu es le sang et moi la veine
T'es le jamais de mon toujours
T'es mon amour t'es mon amour

Je suis ton pile
Toi mon face
Toi mon nombril
Et moi ta glace
Tu es l'envie et moi le geste
T'es le citron et moi le zeste
Je suis le thé, tu es la tasse
Toi la putain et moi la passe
Tu es la tombe et moi l'épitaphe
Et toi le texte, moi le paragraphe
Tu es le lapsus et moi la gaffe
Toi l'élégance et moi la grâce
Tu es l'effet et moi la cause
Toi le divan moi la névrose
Toi l'épine moi la rose
Tu es la tristesse moi le poète
Tu es la Belle et moi la Bête
Tu es le corps et moi la tête
Tu es le corps. Hummm !
T'es le sérieux moi l'insouciance
Toi le flic moi la balance
Toi le gibier moi la potence
Toi l'ennui et moi la transe
Toi le très peu moi le beaucoup
Moi le sage et toi le fou
Tu es l'éclair et moi la poudre
Toi la paille et moi la poutre
Tu es le surmoi de mon ça
C'est toi Charybde et moi Scylla
Tu es l'amer et moi le doux
Tu es le néant et moi le tout
Tu es le chant de ma sirène
Toi tu es le sang et moi la veine
T'es le jamais de mon toujours
T'es mon amour t'es mon amour

maio 03, 2007

contar pelos dedos


Chego a esta altura do ano e começo a contar pelos dedos as semanas que faltam para ir para a minha ilha. Não é que a ilha seja mesmo minha, mas como é de todos e de ninguém e, com o passar dos anos, criei com ela laços indeléveis de afectividade, permito-me chamar-lhe "a minha ilha".

Na minha ilha vivo ao ritmo do sol e dos barcos que chegam e vão. Aliás, na minha ilha, o tempo divide-se fundamentalmente entre o tempo com barco e o tempo sem barco. Poder-se-ia dizer que estes dois tempos correspondem aproximadamente à noite e ao dia, mas é neste "aproximadamente" que reside toda a diferença. Os dois momentos mais especiais do dia são entre o acordar e a chegada do primeiro barco e entre a partida do último barco e o põr-do-sol. É nestas alturas que a minha ilha é mais minha. Porque a praia está quase deserta; porque as primeiras e últimas pegadas na areia podem ser as minhas; porque o primeiro e o último banho podem ser os meus; porque o jantar começa com os últimos raios de sol a espelharem a ria e acaba com velas a tremeluzirem mosquitos; porque o silêncio impera, apenas quebrado pelas ondas que derretem na areia.

Na minha ilha, quando estão aquelas noites mesmo quentes, usa-se o "ar condicionado marroquino": portas e janelas abertas onde se penduram paréos molhados que a brisa agita e refrescam os quartos.

Na minha ilha não há electricidade, nem água aquecida por esquentador; na minha ilha ninguém usa sapatos; na minha ilha "arranjar-se para jantar" significa tirar o sal dos cabelos e da pele com um duche tomado com água aquecida ao sol em garrafões de plástico, vestir uma t-shirt lavada e umas calças largas, velhas e leves.

Na minha ilha "sair à noite", significa pegar numa lanterna e ir dar dois dedos de conversa a casa dos amigos, juntar os gravetos e madeiras velhas recolhidas durante o dia e conversar até apetecer à volta de uma fogueira com um copo de vinho numa mão e chouriço assado na outra.

Faltam oito semanas e meia para ir para a minha ilha.