outubro 08, 2006

Feira de Maio





















Ontem à noite Feira de Maio na Azambuja.

Calor. Areia que cobre as ruas. Mantas, flores e cabeças de touro nas varandas, portas entaipadas, tasquinhas, sardinhas, febras, tremoços, sangria, cerveja.

Grupos de pessoas unidas por t-shirts que identificam a sua tertúlia. Encontro a minha num terraço por cima dumas escadas atrás duma pequena tronqueira. Sardinhas, febras, sangria, cerveja, fatias de pão, pratos e copos de plástico.

Nos altifalantes uma voz feminina vende as facilidades da terra, a livraria, a farmácia, a drogaria, o lugar da fruta, o minimercado.

Primeiro foguete e passam os campinos a cavalo, três à frente, três atrás, no meio os touros acompanham o galope. Segundo foguete e lá vêm dois touros, a turba ulula quando se fecham as tronqueiras deixando cada animal confinado a um troço de rua, olhar assustado de espanto de quem não percebe o que faz ali. Seis touros, seis troços de rua, seis cenários de Ribatejo marialva.

Tenho pena do bicho que a sorte me ditou e anseio que alguns dos bêbados que o provocam com chapéus-de-chuva e panos coloridos leve uma cornada que o deixe em trajes menores sobre a areia, como me contaram que aconteceu na véspera. Mas este touro é manso e está assustado. Desço as escadas, encavalito-me na tronqueira e sinto o frisson quando os 500 kg trotam direitos a mim em resposta a alguma mais forte provocação ali ao lado. E é assim até à meia-noite.

Depois, toda a gente vem para a rua e percorrem-se as várias tertúlias: "O Pátio do Ferreiro", "Toiros e Fado", "Cantinho dos Tresmalhados", outra vez sardinhas, febras, tremoços, sangria, cerveja, música pimba alta de mais. Aguento o Portugal profundo até às duas da manhã, deixo os amigos que ficam até fechar a festa quando o sol se levantar, e parto para Lisboa com três amigas sonolentas.

Faço de táxi, distribuo as meninas e chego a casa às três. Luzes acesas, um filme na televisão, um adolescente adormecido, renitente em trocar o sofá pela cama.

Toda eu cheiro a sardinhas, a febras, a sangria e a cerveja. Tomo um duche e deito-me a pensar no país que temos e esperando que os seis touros já estejam no conforto da lezíria, a cheirar a erva.

Sem comentários: