outubro 07, 2006

varanda sobre o rio

Da minha varanda vê-se o rio. Velas brancas, cacilheiros, rastos de sonhos e de cansaços que atravessam o estuário e ao de leve arranham a água e logo se desvanecem. A ponte deixa-se entrever por entre os telhados, e eu sei que leva gente para o outro lado, que de lá vê as mesmas velas, os mesmos cacilheiros, a minha cidade ao contrário, de lá para cá e não de cá para lá.

Às vezes a bruma sobe pelo rio e o outro lado desaparece. A Arrábida desponta sobre as nuvens como uma ilha e então, é como se todo o mar se abrisse nos meus olhos. Quando a lua é cheia e o rio calmo, sento-me na minha varanda e vejo o reflexo na água do rio. À noite os barcos dormem pachorrentos nos cais e não há velas nem cacilheiros a rasgar o rio, a riscar o reflexo perfeito da lua que brilha como se fosse só para mim. Lembro-me doutras águas, doutros reflexos, uma falésia cor de barro sobre o mar chão do Algarve nos fins de tarde dos Verões da minha juventude, o motor do barco a ronronar baixinho, o chap-chap da água no casco, as gaivotas a piar como loucas, as andorinhas do mar em volteios a rasar a água, o cheiro a mar, o gosto a sal na pele, seca de tanto mar.

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