julho 20, 2009

palavras ouvidas na praia #2

Conversa entre dois adolescentes:

Gonçalo (13 anos) - Hoje passei-me com as miúdas, estavam sempre a pôr-me areia na toalha.
João Afonso (18 anos) - Vais ver que na vida terás sempre mulheres a pôr-te areia na toalha.

Gostei da metáfora.

julho 11, 2009

palavras ouvidas na praia

O vulcão está a diminuir
a qualquer momento pode explodir.

Alice, 6 anos, a propósito de uma pequena colina nas dunas, que está menor que no ano passado.


julho 10, 2009

o regresso aos mutantes


E tal como há a vontade sempre premente que me leva para destinos longínquos e desconhecidos, há o caminho repetidamente traçado que todos os anos me traz a esta língua de areia ao Sul que teimosamente resiste aos avanços do mar que se abre para lá dos sapais.

E sempre que volto é doce, mas tão forte como se uma primeira vez fora, este reencontro com o areal que se estende vazio e impoluto nos passeios solitários de fins de tarde e manhãs de sol rasante, em que mais não ouço do que o vento nas dunas, o rebentar macio das ondas, os pios das gaivotas e andorinhas do mar.

O mesmo areal que desliza suave sob os meus passos, as mesmas conchas e algas e peixes e pedrinhas, os mesmos golpes fininhos nos pés que, entre caranguejos pretos e caranguejos laranja, se afundam no lodo negro da ria quando teimo em ir descalça pela maré vaza ver os progressos das ostras da Clara, as mesmas bebidas ao pôr-do-sol generosamente servidas no bar da Vera, os amigos que são os amigos daqui e que estranho se o acaso nos cruza depois em roupas de Lisboa, os avanços das crianças que orgulhosamente exibem dentes novos e mais 10 cm que no ano anterior, a lua cheia que se reflecte num caminho dourado sobre o mar chão, as conversas à noite num qualquer terraço de uma qualquer casa sobre a praia à luz das velas e dos candeeiros a gás.

É assim regressar à ilha. Reencontrar o que parece que não muda mas muda, pois que as conchas e pedras e algas são no todo as mesmas, mas são outras enquanto unas, tal como as gaivotas, os peixes e as andorinhas do mar, ou a escultura que reune todos os lixos que o mar traz e que vai crescendo ao sabor de quem passa e lhe acrescenta mais uma garrafa, mais uma bota, mais uma troço de rede de pesca, mais uma cana.

E é isto que faz com que o repetido retorno tenha o sabor da tranquilidade de uma rotina, mas também o espanto da descoberta das coisas mutantes.