julho 22, 2008

modernices

Se aqui há cinco, nem tanto, vá lá quatro anos me dissessem que eu ia estar no primeiro dia de trabalho após três semanitas de férias, a abrir, ler, responder, guardar ou deitar fora perto de 200 mensagens de correio electrónico, durante todo o santo dia, eu não ia acreditar.

Mas foi... seeeeeeeeeeeeeeca.

Mas pronto, fiquei a par de quase tudo o que se passou durante a minha ausência.

Amanhã começo a trabalhar.

bivalves gigantes


Nunca as vi em mais sítio nenhum. Só as conheço das ilhas barreira da Ria Formosa e foi aí que aprendi a considerá-las coisa cada vez mais rara e, por isso, preciosa. É-me indiferente que existam aos milhares em qualquer outro canto do planeta; para mim elas são o “ex-libris” das ilhas e, se algum dia as vir noutro local, permitir-me-ei julgar que alguma corrente marítima as levou à má fila das ilhas para aí.

Não sei como é o bicho que vive lá dentro, nunca as vi habitadas, mas sim habitando em todas as casas da ilha em que passo férias, onde perdem definitivamente o seu estatuto de aconchego protector de um qualquer ser vivo para passarem a ter utilizações bem mais prosaicas – saboneteiras, cinzeiros, depósitos de inutilidades-que-se-guardam-à-espera-do-dia-em-que-talvez-sejam-precisas.

Para mim, são objectos belos, com o seu riscado ondulante que deixa adivinhar os períodos de crescimento. Ao que me dizem, dantes apareciam muitas a rebolar nas águas baixas das marés-vazias. Agora, encontrá-las é um privilégio. Podem-se andar quilómetros à beira-mar sem dar com nenhuma, mesmo que os olhos não larguem a areia da maré-baixa.

Caprichosas, não se deixam apanhar por qualquer um, antes escolhendo junto de quem querem passar o resto dos seus dias intactas em vez de se verem reduzidas, mais cedo ou mais tarde, a fragmentos da areia das praias.

O encontro com uma, branca e imaculada, é pois um acontecimento fortuito, fruto do acaso e da conjugação de múltiplos factos e improváveis coincidências.

Esta veio-me bater nos pés no rebentar de uma onda baixinha enquanto caminhava num dos meus longos passeios matinais até à barra. Como se me dissesse: aqui estou eu, leva-me contigo e guarda-me ou oferece-me a alguém que te seja caro. Foi o que fiz.

julho 16, 2008

para não cair

Pergunto-me se existes quando não te vejo tal como me perguntaste se na floresta uma árvore cai realmente se não estiver lá ninguém para ouvir o quebrar dos ramos e do tronco, o gemido ao tombar no solo.

Agora que não estás aqui, interrogo-me se és onde estás, se a suavidade da tua pele na minha só é quando me aqueces enlaçado a mim, a leve aspereza das tuas mãos apenas quando me tocas, muda a tua voz se não me chegam palavras nem silêncios, cegos os teus olhos se não os vejo nos meus.

Como esta areia que agora piso e da qual sinto a quentura, como o compasso das ondas deste mar onde mergulho, como todas as estrelas que pintam constelações no céu e que não sei se aqui ficam quando me for no barco que rasgará a lisura líquida da ria. Tudo ficará atrás de mim ou talvez não, quem sabe tudo isto apenas nos meus sonhos e, se assim for, para trás deixarei somente o vazio do espaço que os sonhos já não preenchem, quem sabe também eu apenas nos sonhos de alguém que de outro alguém igualmente é sonho e nada mais.

Pergunto-me de novo se existes quando não te vejo, de ti guardo palavras e silêncios, a lembrança de uma mão que me afaga e de uns lábios que roçam ao de leve os meus, a memória de um cheiro.

Deito-me então de costas a olhar o céu que não sei se existe e, como tu, agarro-me às ervas para não cair.